No mercado há cerca de um ano, os vinhos Lambéria’s mantêm um carácter tradicional. Apesar de já ser possível adquirir o Lambérias’s engarrafado, esta família tradicional do Cartaxo faz questão de continuar a vender o vinho que produz a granel, para os clientes habituais
A aventura começou há cerca de um ano, com o lançamento da marca Lambéria’s no Museu Rural e do Vinho do Concelho do Cartaxo. Madalena e Paulo Lambéria decidiram continuar e melhorar uma das atividades que o pai levava a cabo há anos, quando o progenitor achou por bem gozar a reforma e afastar-se. Pegaram nos conhecimentos que tinham do sector do vinho e meteram mãos à obra.
No primeiro ano, do hectare de vinha de que dispunham, conseguiram produzir seis mil litros de vinho, “embora tenhamos comprado algumas uvas, porque só a nossa produção não chegava, era pouca”, explica Paulo Lambéria.
E estes seis mil litros de vinho, boa parte dele já engarrafado e rotulado, diferente do que era feito pelo pai, que vendia o vinho a granel, voaram num ápice. “Conseguimos exportar algum do nosso vinho e foi tão bom que em junho tínhamos o stock completamente esgotado”, lembra Madalena Lambéria.
Para já, passado um ano desde que estão no mercado, tem sido uma aventura muito positiva. Madalena diz que o sucesso do lançamento “projetou-nos, não só para o mercado nacional, mas também um bocadinho para a exportação”.
Até porque tem sido fácil entrar no mundo dos vinhos, considera Madalena Lambéria. “Tivemos muitos convites para participar em muitos eventos ligados ao vinho. Eu não sei se isso é uma prática comum no meio, mas para mim foi uma grande surpresa agradável”. E no que respeita a vendas também não houve grandes dificuldades. “Também foi fácil as vendas, porque não fomos assim uns grandes produtores, não é? Nós somos uns pequeninos produtores de vinho, o nosso mercado também é pequeno e conseguimos facilmente entrar em alguns restaurantes, que comercializaram bem o nosso vinho, e esperamos, este ano, conseguir alargar um bocadinho mais esse mercado e ir procurar outros locais”, acrescenta.
Certames são bons para ouvir opiniões
Como bons filhos da terra, os vinhos Lambéria’s estiveram presentes na Festa do Vinho e na Feira dos Santos. “É muito mais agradável e divertido, para nós, estarmos num evento aqui no Cartaxo, como foi a Festa do Vinho e a Feira dos Santos, do que, por exemplo, estarmos, e como estivemos, na Feira da Agricultura, em Santarém. Fizemos muitos contactos, é verdade. Só que aqui é a nossa terra, são os nossos amigos, estão sempre a chegar pessoas e tínhamos sempre o stand com pessoas, porque somos muito conhecidos, nascemos na terra, temos aqui as nossas raízes, a nossa família, os nossos amigos. E foi muito engraçado, porque desde que chegávamos até que íamos embora, quando fechava mesmo, tínhamos sempre pessoas no nosso stand, a conversar, a darem opiniões. E é muito importante ouvir as outras pessoas e penso que, este ano, o trabalho que o meu irmão fez com os vinhos também refletiu um bocadinho certas opiniões que foram emitidas o ano passado, porque saber ouvir também é importante, porque é com as opiniões das outras pessoas que também aprendemos alguma coisa”, diz Madalena.
Mais variedade de vinhos
Nesta altura, os vinhos Lambéria’s têm cerca de três hectares de vinha. Por isso, têm uma maior variedade de vinhos. “O ano passado só tínhamos vinho tinto. Este ano já conseguimos fazer duas qualidades de vinho tinto, um vinho mais trabalhado, um vinho que estagiou durante todo o período da fermentação num tonel de carvalho; o outro foi diretamente para a cuba de inox. Portanto, têm algumas diferenças. E também temos branco. Fizemos um bocadinho de vinho branco, pouco, só como experiência, mas o feedback que tivemos no primeiro dia em que apresentámos os vinhos a mais pessoas foi muito bom, tivemos reacções muito positivas, muito encorajadoras, e estamos com esperança que este ano também vai ser um sucesso” adianta Madalena Lambéria. Além disso, a expetativa é que este ano já consigam produzir dez mil litros de vinho.
“Eu acho que é um vinho agradável, muito agradável, principalmente o que estagiou em casca de carvalho. Pelo menos, o feedback que tive foi esse, embora o outro também seja bom. Tem umas características que o outro não tem, ou seja, das duas qualidades de vinho, eu gosto mais do que estagiou em casca de carvalho do que do outro que não estagiou. No entanto, os dois são muito bons. É um vinho do Cartaxo”, caracteriza Paulo Lambéria.
Manter a tradição
Apesar de o Lambéria’s já estar no mercado engarrafado, estes dois irmãos fazem questão de continuar a manter os clientes do pai, que há muitos anos compram vinho a granel.
O vinho é logo separado por lotes no lagar, “e temos um depósito que é só para os clientes que já vêm de há muitos anos. Não vamos abandonar as pessoas que já vinham cá buscar vinho há décadas. Até porque é um dia sempre muito divertido. Eles vêm, faz-se uma almoçarada em casa do meu pai, no churrasco… é um dia de convívio. Eles enchem os depósitos que eles trazem, enquanto vão enchendo vai-se grelhando o chouriço, um queijinho, vai-se provando este vinho, aquele, o outro, e tal. É um dia de festa”, diz Madalena.
Para já, “sou eu que faço os vinhos. Por enquanto ainda não há enólogo. A nossa produção ainda não justifica, é muito pequena para isso, explica Paulo Lambéria, e Madalena acrescenta que “é um investimento extra que teríamos de fazer. Um enólogo, hoje em dia, está muito cotado no mercado dos vinhos, e não é propriamente barato termos os serviços de um enólogo. Também não estou a dizer que não mereçam. Nós é que ainda não temos capacidade de vendas para poder ter uma pessoa a trabalhar para nós”.
Consumidores associam Cartaxo a bom vinho
Presentes em diversos certames ligados ao vinho por todo o País, os Lambéria têm tido algumas surpresas, tais como a abrangência da marca Cartaxo. “Uma das surpresas que eu tenho tido – agradável surpresa – é que o Cartaxo ainda é uma marca. Mesmo gerações um pouco mais jovens conseguem muito bem associar Cartaxo a vinho. E isso é uma grande mais-valia para nós, as pessoas vêem o nosso logotipo, o nosso rótulo, e quando nos perguntam de onde somos e respondemos Cartaxo, dizem ‘terra de bom vinho’. E isto é uma mais-valia que está associada à nossa terra e a nós próprios. Acho que o Cartaxo merece a reputação que tem e o nosso objetivo é ainda dignificar um pouco mais, dentro daquilo que nos for possível, este nome e esta nossa terra”, finaliza Madalena Lambéria.