Opinião de Pedro Mesquita Lopes
Havia um cantor que, nos intervalos das papoilas saltitantes, cantava que “Não há terra como o Cartaxo, não há, no coração do Ribatejo, cá está” e a verdade é que é mesmo capaz de não haver.
O Mundo no Cartaxo é um bom exemplo do que somos e do que podemos e devemos ser sempre. Penso (e espero) que esteja a acontecer por todo o país e era bom que também acontecesse por todo mundo, mas infelizmente não é o caso. Refiro-me aqui à Feira Medieval que aconteceu na Escola Marcelino Mesquita, ou melhor, não propriamente à Feira em si, que festejar a Idade Média, o feudalismo, o obscurantismo, o ascendente da religião sobre o povo e o domínio de uma centenas de nobres e um rei sobre toda a população não é coisa que se recomende ou que tenha qualquer tipo de desculpa e justificação para se fazer (basicamente está-se a comemorar a Idade das Trevas e, tirando um ou dois Putinistas manhosos ou Trumpistas ranhosos (ou vice-versa), acredito que não haja ninguém que o faça em consciência). Na realidade, o exemplo da Feira foi o seu espírito, a forma como foi executada e vivida, como aliás tem acontecido nos vários eventos que se têm realizado este ano pelo concelho; um espírito de alegria, colaboração, integração, respeito, simpatia e cooperação de todos os envolvidos e de todos os presentes. Na Feira Medieval havia pessoas de todos os continentes (se não havia, parecia), ouviam-se várias línguas e respirava-se um descontraído ar cosmopolita e de genuína globalização, que, naturalmente, a integração e reunião de crianças de diferentes origens na mesma escola, na mesma turma, em diferentes grupos de amigos ajuda (e assim é que deve ser). Foi bom. Muito bom. Aliás, têm sido boas as festas. E tem sido superior o espírito com que têm sido organizadas e vividas. Parabéns a todos!
O Cartaxo no Mundo. Volto a Luís Piçarra e ao verso “Não há terra como o Cartaxo, não há” e tenho a certeza de que nem ele, nem quem escreveu a canção (Arlindo Carvalho), alguma vez imaginaram sequer ter a música relacionada com o próximo assunto de que tenho de vos falar, mas a verdade é que, pelo que se leu nas redes sociais e se ouviu nos dias das Festas da Cidade, a sincera admiração e esfuziante júbilo que os Cartaxeiros deveras sentiram merecia que aquela espécie de hino informal estivesse a tocar em continua repetição nas reabertas casas de banho públicas. Foi ligeiramente estapafúrdio, mas simbólico pelo estado a que nos deixaram chegar, que a reabertura de umas casas de banho públicas com condições mínimas tenha sido saudada com tamanha intensidade (infelizmente justificada pelos anos de inércia e esfarrapadas desculpas dos anteriores executivos).
*Artigo publicado na edição de julho do Jornal de Cá.