Por Raquel Marques Rodrigues
Precisamos de conversar sobre o medo. Certamente, já sentiu medo de falhar, de sofrer, de arriscar… mas, e medo de um inimigo invisível?
A pandemia do coronavírus está a dominar as nossas vidas. É hoje e o futuro do centro das discussões em toda a esfera económica e social. Como trabalho num lar de idosos, considero pertinente partilhar este apontamento como reflexão do meu dia a dia e de tantos outros profissionais na área social e da saúde. Como reagem os idosos institucionalizados a este flagelo social que em muitos países parece ser um verdadeiro ‘genocídio’ na terceira idade?
O medo não é sinal de fraqueza nem covardia, mas neste momento invadiu-nos a todos nós. E os idosos como lidam com esta pandemia?
“Estou na reta final da vida. Caminho para os 95 anos. Estou isolada por prevenção. Tive gripe e o médico recomenda que fique no quarto. A porta está meio aberta e observo quem passa: os funcionários, atarefados de um lado para o outro, a colega R. que caminha sem destino, o J. ansioso pelo seu cigarro e aquela velha rabugenta com a sua bengala promete que vai fazer das suas…
Mas agora algo diferente se passa… embora cuidem de mim com amor todos os dias estão diferentes. Parece que os funcionários vão para um bloco operatório. Usam máscara e têm um cheiro inconfundível. Um aroma particular, cheira-me a álcool.
Mas os dias parecem mais longos, pois gosto de companhia e de uma boa conversa. Ligo a TV e só se fala do coronavírus. Parece que estamos todos num Big Brother, isolados mas com o privilégio de estar conectados. Aqui no lar eu sinto-me protegida. Sou otimista e não temo. Sabe porquê menina? Porque, nesta pandemia, Deus nos fala. Será que o mundo não para para escutar? É o gemido da Terra explorada… No meu recanto leio um livro “As respostas de Maria”, oferta da minha neta, que me consola e dá ânimo. A oração e a fé nos sustenta e eu rezo todos dias sem exceção. Não temas, Deus está contigo.”
Neste período que atravessamos as pessoas só dão valor ao que perdem e não sabem o que fazer ao tempo. Agora, é sem dúvida a mais incrível experiência de solidariedade entre a vizinhança. Superar o individualismo e egoísmo numa sociedade centrada na competição e no lucro. Vamos controlar o nosso medo, cumprir as orientações das autoridades e o arco íris virá.
Como corre nas redes sociais: “Se depois dessa pandemia não nos tornarmos pessoas melhores, então não teremos aprendido nada na vida”.