Opinião de João Fróis
A guerra voltou à Europa, para grande consternação de todos nós. Pelas mãos de Vladimir Putin, um ditador que ambiciona ficar na história da grande mãe Rússia como o derradeiro Czar e não olha a meios para atingir esse desiderato. Se nunca aceitou a desintegração da URSS em 1991, após a queda do muro de Berlim, não descansou enquanto não controlou as agora independentes ex-repúblicas soviéticas. Foi assim com a Bielorússia, estado fantoche de Moscovo e a Ucrânia era há muito um alvo. A tomada da Crimeia foi a ponta da lança que cravou no leste, zona de Donbass, gerando uma zona de conflito permanente numa região onde os independentistas pró-russos eram dominantes. Das ameaças passou agora à ofensiva real. E vivemos agora numa tensão diária, na reação legítima da Ucrânia à entrada abusiva e incompreensível das tropas de Putin em todas as frentes, terrestres e marítimas. O mundo ocidental e a NATO reagem com sanções económicas que já ferem Moscovo e não ativam respostas militares de modo a não dar argumentos ao invasor para uma retaliação feroz, de alguém que sempre arguiu com a defesa da Rússia contra os opressores ocidentais.
Ninguém sabe até onde Putin irá mas a narrativa aumenta de tom, com ameaças a Finlândia e Suécia caso entrem na NATO e a esta organização com o uso de armas nucleares, caso interfira na sua ofensiva contra o regime ucraniano.
A prudência é agora imperativa. Mas a Europa tem muitas lições a tirar deste conflito. A Alemanha, dependente em 40% do gás russo, foi dando força a Moscovo, com milhões de euros por uma energia que se revela agora bem mais cara. Parar o Nordsteam2, o gasoduto do Báltico, não resolve a equação. Mas para Putin, deixar de pagar milhões de dólares pela passagem dos dois gasodutos terrestres que passam na Ucrânia e abastecem boa parte da Europa, revela-se um grande negócio. Por detrás desta guerra estarão razões económicas óbvias. As reservas petrolíferas e de gás têm os dias contados e a guerra é agora energética e quem deteve o poder até agora não o quer ceder a troco de nada. Juntar a isso a velha glória czarista do império da grande mãe Rússia é o sonho de um déspota militarista que nunca aceitou ter os regimes democráticos e defensores da liberdade à sua porta.
A reação do mundo é fantástica e a solidariedade aumenta a cada dia, seja na abertura das fronteiras aos refugiados, seja no envio de toneladas de bens essenciais à sua sobrevivência. Ninguém aceita esta guerra, tão incompreensível quão desnecessária. É a liberdade que está em causa e todos olham para a Ucrânia como o bastião da defesa dos direitos humanistas face ao medo, à violência e à opressão.
Que a pomba da paz seja a vencedora e dê o mote para um renovado século XXI.
*Artigo publicado na edição de março do Jornal de Cá.