O Dia da Memória

Opinião de João Fróis

6 de Junho de 1944. Normandia, França. Foi há exatamente 73 anos que começou o maior desembarque naval da história e que permitiu que as tropas aliadas invertessem em definitivo o rumo da 2ª Guerra Mundial. O que ficou conhecido como o dia mais longo, foi uma orquestrada ofensiva bélica por mar e ar à região noroeste de França, tomada pelo exército nazi de Hitler. Foram milhares de soldados franceses, ingleses, norte-americanos, canadianos e australianos que desembarcaram nas praias do canal da Mancha e enfrentaram as poderosas baterias de metralhadoras, minas e tanques da poderosa armada alemã. Este famoso desembarque foi já imortalizado em vários filmes e entre eles, o Resgate do soldado Ryan, mostra-nos com inaudita crueza a violência atroz a que se submeteram aqueles jovens nascidos a milhares de quilómetros, dando literalmente os seus corpos às balas inimigas e oferecendo o seu martírio em nome de um propósito maior, a libertação europeia do jugo sangrento da guerra e do espectro de terror que Hitler impunha a seu belo prazer, sobre povos inteiros.

73 anos são tempo que uma vida humana comporta. E é assim que todos os anos se juntam os ainda sobreviventes desses tempos míticos e marcados a sangue nos anais da história da civilização, junto às praias normandas, honrando todos os que tombaram nesse dia que cumpre nunca esquecer.

Já tive a oportunidade de visitar as praias de Colleville-sur-mer, na região de Bayeux e deter-me em silêncio no cemitério que França ofereceu aos EUA para aí poder sepultar os milhares de soldados norte-americanos que morreram nesse dia e ficarem assim em solo natal. Os milhares de cruzes brancas com o nome de cada soldado atrás, simetricamente alinhadas no relvado imaculado transportam-nos para outra dimensão. A do imenso respeito por tamanha dádiva e sacrifício. Foram milhares de jovens que ali pereceram e não puderam ter um futuro, uma família e ver crescer os seus. Tombaram sob o peso das balas mas possibilitaram que a Europa se reencontrasse com a liberdade e se afastasse do terror e da morte. Foi preciso morrer para impedir que mais morressem, inocente e impunemente. E é este legado maior, este sentido ético e humanista que tem de nos nortear e nunca abandonar. Nestes tempos de terrorismo e guerras circunscritas a países, de migrações em fuga e desalojados, a guerra não é dita mundial mas está espalhada pelo mundo. E sob diversas formas. Económica, financeira, ambiental, religiosa, étnica, política. O mundo está mais dividido e o perigo de fragilização dos blocos é real. A união tem de ser o mote e propiciar a paz, combatendo o radicalismo, a xenofobia e a exclusão.

Se assim não for o sacrifício dos jovens na Normandia terá sido não em vão mas tolhido pelo efémero. Por esta incerteza nebulosa que nos quer subjugar ao medo, separando-nos.

O legado tem de ser honrado. Todos os dias. Em nome da humanidade, da paz e do futuro das novas gerações. Porque quem não sabe honrar o passado, não é merecedor do futuro. Cabe-nos não esquecer e relembrar quem somos e como chegámos até aqui. E se não tivessem havido homens com este sentido maior de legado, de oferta do melhor de si em nome da liberdade, o mais provável era não estarmos sequer aqui e os que estivessem se aparentassem com a triste realidade que conhecemos na Coreia do Norte.

Honremos pois todos os que por nós lutaram e nos ofereceram esta magnífica liberdade em que vivemos.

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A minha homenagem aos que neste mesmo dia, há 73 anos, lutaram e dignificaram a humanidade! Que descansem em paz. E que nós os honremos sempre na sua memória!

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