O Hitler é Santo numa Câmara de Gás

Opinião de Ricardo Magalhães

A população do Cartaxo acordou para 2021 sobressaltada, após as ultrajantes contas de gás natural que lhe foram apresentadas. A Taxa de Ocupação do Subsolo (TOS) começara a ser cobrada e com valores várias vezes superiores aos valores do consumo. Gerou-se uma natural revolta perante aquele que, não haja dúvidas, é um assalto aos contribuintes. No entanto, pasme-se, nesta Câmara de gás Hitler é Santo. Porquê? Ora vejamos.

Perante o fogo cruzado que se instaurou com a polémica, o executivo da Câmara saiu asfixiado. É natural que havendo roubo, haja bandido. No entanto, o bandido nunca foi o judeu, asfixiado nas câmaras de gás. O bandido sempre foi Hitler, que tudo orquestrou. E o Hitler que orquestrou tudo isto foi a empresa Tagusgás.

É do conhecimento de todos o enorme lobby das empresas energéticas que existe em Portugal. Esse lobby explica porque é que a TOS, que pretende taxar a utilização do subsolo, um bem público, por parte dessas empresas, possa depois ser cobrado pelas empresas aos seus consumidores. Uma vergonha que serve os interesses de alguém certamente, mas não do Zé Povinho.

A Tagusgás faz parte desse lobby e esteve isenta de pagamento da TOS até ao final de 2014. Acontece que a empresa nunca quis reconhecer nem pagar esse imposto, que ficou por isso em dívida para com a Câmara Municipal nos anos de 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019. Ao contrário do Zé Povinho que tem que pagar os seus impostos a tempo e horas, não há na lei castigo para este comportamento. Neste último ano a empresa foi adquirida pela Galp e a nova administração decide pagar a totalidade da dívida. Para surpresa de todos, em plena crise pandémica e financeira, decide cobrar num só ano aos seus consumidores a taxa referente aos 5 anos em dívida. Mais uma vez, a lei protege o lobby. Trata-se de um comportamento repugnante da direção da empresa, que ainda para mais mente aos seus clientes, colocando a culpa na Câmara Municipal, deixando-a entre a espada e a parede em ano de eleições. Hitler estaria orgulhoso.

Resultado? 10 anos de isenção de pagamento da TOS, 10 anos de isenção de pagamento da derrama e uma mensagem forte para que os outros municípios em que opera não se lembrem de lhes começar a cobrar TOS. Uma jogada de génio, principalmente porque o mundo não condena agora Hitler mas sim o judeu asfixiado. Já o Zé Povinho, também asfixiado, talvez seja nesta analogia o Rapaz do Pijama às Riscas.

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*Artigo publicado na edição de março do Jornal de Cá.

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