O impacto da vinda dos ‘retornados’ para o Cartaxo

Após a Revolução dos Cravos, em abril de 1974, Portugal viu-se confrontado com um movimento migratório sem precedentes na sua história e que marcou a memória coletiva portuguesa.

Entre maio de 1974 e finais de 1976, mais de meio milhão de portugueses, muitos dos quais já nascidos em Africa, chegam a Portugal vindos das ex-colónias.

Estas pessoas viram-se forçadas a abandonar as suas vidas, muitas delas com dezenas de anos, deixando tudo para trás para começar uma vida nova.

Muitos vieram para o Cartaxo. Depois de terem perdido terra, casa e emprego, tiveram de começar uma vida nova. Com muitas dificuldades estas pessoas conseguiram integrar-se, contribuíram para a modernização dos locais onde se instalaram, alguns abriram novos negócios e revolucionaram os costumes.

Vladimiro Elvas e Rosário dos Santos, nascidos em Moçambique, eram jovens adultos quando chegaram ao Cartaxo. Abriram a loja ‘Ás de Paus’, que foi um marco de modernidade no vestuário e na música desde os finais dos anos 70 e que se notabilizou nos anos 80 e 90 do século XX, no Cartaxo. Quem não se lembra?

Mário Júlio Reis, nascido em Angola, era um adolescente quando chegou a Portugal. Aqui continuou os seus estudos, foi para o Magistério Primário no Porto e foi professor na Escola primária de Vale da Pinta, hoje está aposentado. Após o 25 de Abril as manifestações culturais ganham liberdade e surgem várias iniciativas que foram um veículo de formação cívica e cultural nas comunidades. Mário Júlio Reis, desde cedo integrou grupos do então chamado teatro de intervenção, aqui no Cartaxo fez parte do T.A.C. Teatro Amadores Combate. Ao longo da sua vida continuou sempre ligado ao teatro.

Os seus testemunhos de vida ilustram bem o contributo dos chamados ‘retornados’ para a modernização das comunidades onde se instalaram após o 25 de Abril.