O mal do século

Opinião de João Fróis

Em 2022 a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera já a depressão o mal do século, tal a incidência que alastra na sociedade planetária. Estima-se que a depressão afete 300 milhões de pessoas em todo o mundo e destas 20% sejam jovens e adolescentes.

Com a pandemia de Covid19 a saúde mental ganhou um espaço noticiário que antes lhe era constantemente negado. Face aos números alarmantes de casos que o isolamento forçado propiciou, começou a olhar-se, finalmente, para a incidência preocupante nos jovens portugueses. O governo só agora trouxe a lume este tema mas já em 2020 um estudo da escola superior de enfermagem de Coimbra alertava para o crescimento da depressão nas faixas etárias mais jovens. Na verdade cerca de 30% dos adolescentes e jovens adultos sofrem episódios depressivos, tendo 19% sintomas moderados e 10% risco elevado de comportamentos suicidários. Sendo um fenómeno complexo de analisar, o suicídio tem no entanto na depressão umas das suas causas com forte impacto. Em Portugal suicidam-se em média 3 pessoas por dia, num ratio de 12 pessoas por cada 100 mil habitantes. No mundo põem fim à vida uma pessoa a cada 40 segundos, cerca de 800 mil por ano. Na faixa etária entre os 15 e os 34 anos é mesmo a 2ª causa de morte e atente-se que as tentativas de suicídio sem desfecho em morte são 25 vezes mais que as que infelizmente a traduzem.

Vivemos tempos complexos e por vezes quase insuportáveis para tantos. Para lá da odiosa guerra que insiste em continuar na Ucrânia, vivemos enormes tensões sociais com o desemprego e falta de acesso ao mundo do trabalho. No Algarve, região com marcada sazonalidade na oferta, os números de depressões e suicídios é superior à média nacional e as autoridades regionais de saúde há muito que acompanham e tentam debelar a raiz deste imenso mal social.

Fenómeno igualmente preocupante é o bullying, do inglês bully, tirano ou brigão, e que afeta milhares de jovens no mundo e em Portugal. As tensões de uma sociedade fraturada estão a originar exclusão social, discriminação, estigmatização e em consequência problemas de saúde física, comportamentos de risco e violações dos direitos humanos. Urge dedicar maior atenção não só às ocorrências mas às suas raízes, de modo a poder atuar de modo profundo e transformador. A escola é hoje um lugar pouco apelativo e não consegue promover a socialização e integração dos jovens. Temos de reformar métodos e criar estruturas de ensino onde os alunos se revejam e gostem de estar e os professores se sintam dignificados e úteis em pleno na formação dos jovens.

Tanto por fazer. Mas falar seriamente de saúde mental é um passo decisivo. Façamos a nossa parte, deixando cair o preconceito e fomentando a aceitação.

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*Artigo publicado na edição de junho do Jornal de Cá.

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