O mensageiro

Opinião de João Fróis

Greta Thunberg, ativista ambiental sueca, tem concentrado sobre si os holofotes mediáticos a nível mundial e despertado, com igual fervor, amores e ódios.

De um lado, os cidadãos mais conscientes com o mundo que os rodeia e com as dramáticas alterações que estão a suceder a um ritmo imparável e, do outro, os cépticos que não abdicam dos imensos confortos que a sociedade moderna proporciona em prol de algo que não os afetará.

É nesta tensão que se vão vivendo dos dois lados da barricada, os impactos das (não)decisões políticas e os estragos que as tormentas cada vez mais recorrentes e poderosas, vão causando por esse mundo fora.

Greta tem sido acusada de tudo o que de pior a bestialidade humana é capaz. No conforto cobarde das redes sociais destila-se todo o tipo de ódios e frustrações, fazendo da jovem nórdica a bruxa que outrora teria já sido queimada nas fogueiras da inquisição. Essas piras justiceiras são hoje os milhões de opiniões, manipuladas e manipuladoras, entre as fake news e as campanhas difamatórias puras e duras, sem olhar a meios para abater os seus inimigos. Greta tornou-se o alvo perfeito. Como se num passe de mágica fosse a criadora do caos climático e não apenas a mensageira das suas evidências incontornáveis.

A vertigem de achar culpados para tudo em nada convive com o egoísmo dourado de uma sociedade capitalista que se borrifa para os gases com efeito de estufa, para os mares de plástico que poluem os oceanos e para o esgotamento de todos os recursos dos quais dependemos para sobreviver.

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A realidade é revoltante mas a maioria dos habitantes deste planeta à beira do colapso não quer abdicar do conforto que tem, mesmo sabendo que isso tem um preço demasiado alto para o futuro das novas gerações. Nunca como agora se viveu tão em prol do momento, da vertigem do que se faz, viaja e prova, do que se consome, experiencia e partilha. A cegueira atinge níveis absurdos e a ideia de abdicar agora para permitir a outros, tão simplesmente, viver quando já tivermos morrido, não colhe nem comove os rebanhos insaciáveis dos vícios desta sociedade de consumo extremada e extremista.

Ouvem-se desabafos da inevitabilidade do fim do mundo, como se nada nos importasse e nenhuma culpa nos acometesse. E neste encolher de ombros vamos caminhando para o abismo.

*Artigo publicado na edição de janeiro do Jornal de Cá.

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