O mundo de Murphy

Opinião de João Fróis

“Se houver duas ou mais formas de fazer algo e uma delas puder resultar em catástrofe, alguém se decidirá por esta”.

Esta máxima, original de um engenheiro aeroespacial dos EUA, em 1949, ganhou nova atualidade nestes tempos de pandemia mundial, era de Covid19.

Basta atentar nos disparates que vários líderes mundiais insistem em perpetrar face aos enormes desafios que esta crise sanitária despoletou.

Barack Obama disse recentemente que se alguma coisa esta crise veio provar, foi que não há líderes capazes nesta atualidade. Referia-se claramente a Donald Trump, com as suas decisões e narrativas polémicas, mas poderia bem aplicar-se ao sociopata Bolsonaro ou aos atarantados políticos europeus, perante o descalabro económico.

Mas que dizer da realidade lusitana? Passámos de um estado de emergência, cheio de receios e mensagens de medo, onde a população acatou o confinamento social com apreciável adesão, para um desconfinamento algo apressado e onde claramente nos estamos a pôr a jeito para algo correr mal. António Costa não terá conhecido Edward Murphy, mas parece querer dar nova vida à máxima que o mesmo descobriu numa instalação aeronáutica com tudo fora do lugar e a anunciar o caos.

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Costa e Marcelo foram a banhos este fim de semana estival, ainda em maio. Se dúvidas houvesse do impacto deste convite velado a que todos os imitassem, bastou olhar para os 180 mil que correram para a Costa da Caparica e um pouco por todo o lado encheram as esplanadas e os passeios marítimos e ribeirinhos deste país sui generis.

A esquizofrenia anda na rua. Para andarmos de transportes públicos ou entrarmos numa loja ou café, temos de usar máscara de proteção mas na rua o seu uso não é obrigatório. E assim vemos ruas cheias de gente sem qualquer proteção e lojas cheias de “mascarados”. Algures entre estas duas dimensões estará alguma virtude, diga-se sorte, pois só mesmo essa nos isentará de uma segunda vaga do vírus.

Dia 1 de junho irão reabrir os espaços preferidos de milhares de portugueses, os incontornáveis shopping center, assim como os espaços públicos restantes.

Faltam dois meses para agosto e ninguém pode arriscar cenários para este verão. Até à data os números de infetados, internados e falecidos, andam baixos, mas o risco de poderem aumentar existe, face ao regresso às ruas de milhares de pessoas ansiosas por tal e sem os cuidados que seriam aconselháveis.

A verdade é que ninguém quer falar de vírus e ficar fechado entre paredes. O sol brilha e convida a passeios e banhos de mar. Com alguma sorte o vírus irá perder fulgor entre o sal marinho e os ventos quentes de leste. E Costa e Marcelo poderão sorrir por não darem razão a Obama. Barack mantém-se atento e terá com certeza ocasião de sorrir por último. Aqui ou em qualquer outra democracia de papel e tesoura.

*Artigo publicado na edição de junho do Jornal de Cá.

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