Já se passaram três anos desde que o Fórum Económico Mundial considerou o aumento da desigualdade económica como a principal ameaça à estabilidade social e segurança das populações. Hoje, novas estimativas indicam que o património de apenas oito homens é igual ao da metade mais pobre do mundo e que 1% dos mais ricos é superior à restante riqueza do planeta, pelo que a crise da desigualdade global continua galopante e sem retorno.
Se nada for feito no combate a esta crescente desigualdade a nível mundial, os conflitos multiplicar-se-ão como cogumelos, desintegrando comunidades étnicas e religiosas, anulando direitos humanos e valores civilizacionais que foram sendo alicerçados ao longo de séculos.
Perante o agravamento desta situação, as lideranças mundiais têm vindo a clamar que, para garantir a paz e a estabilidade mundial, é prioritário conjugar esforços num objectivo global com vista a reduzir estas escandalosas desigualdades económicas. No entanto, para além dos discursos e das cimeiras, nada de concreto é realizado para resolver o problema. Os líderes mundiais estão cativos dos mercados financeiros especulativos, e estes não se preocupam, minimamente, com tais problemas. Antes pelo contrário! Claro que esta situação cada vez mais incontrolável, gera crescentes conflitos bélicos de matriz religiosa, étnica ou, também, no escandaloso saque de riquezas naturais, alimentando negócios obscuros de droga, armas, tráfego humano, etc…
Também na Europa que julgávamos política e civilizacionalmente estabilizada, a criminalidade e a insegurança dos cidadãos vai crescendo tornando-se, cada vez menos, a Europa dos valores e dos princípios e, cada vez mais, a Europa refém da especulação financeira e da insensibilidade social perante a miséria humana. Infelizmente, uma Europa socialmente vazia de valores, preocupada com décimas orçamentais mas que assiste à construção de “novos muros” e coabita, sem pejo, com regimes de extrema-direita.
Não gostaríamos de ser pessimistas, mas uma União Europeia indiferente ao sofrimento e ás desigualdades económicas e sociais, tornar-se-á, lamentavelmente, um território egoísta, de mercadores e de mercenários sem escrúpulos. É preciso recuperar o discurso político baseado numa sociedade com uma mais justa distribuição da riqueza gerada. Sem melhorar essa repartição, no respeito pelos valores humanos e civilizacionais, nunca mais haverá paz e o mundo ficará, cada vez mais, um lugar perigoso.
Artigo publicado na edição de maio do Jornal de Cá.