O papão

Opinião de João Fróis

Noite de eleições e o bicho papão, esse ideário das estórias antigas que assustava as criancinhas que se portavam mal, ganhou o sufrágio.

Num país imerso em problemas económicos e sociais graves desde a fundação da democracia, com 3 bancarrotas no seu currículo e a ver-se ultrapassado pelas economias do leste europeu, foi o medo do liberalismo que prevaleceu neste país desigual, tendo como paradoxo o crescimento da IL, manifestamente urbano e uma ala dissidente dos desencantados com o PSD e as suas soluções ou a falta delas.

Mas a vitória do PS mostra uma penalização dos seus pares na famosa geringonça. O povo culpa BE e PCP pela queda do governo e sangra-os, dando ao PS a estabilidade que Costa pediu e acenou como necessária para impedir que o bicho liberal atacasse em força e trouxesse os males da era da troika.

O medo ganhou. Medo de dar força à geringonça e à instabilidade que originou. Medo de uma direita que mesmo fracionada consegue crescer e onde assistimos a uma radicalização óbvia mas que penaliza o partido grande desta ala ideológica, o PSD. Medo que a direita atente contra o peso do Estado e a sua guarda paternal, tão necessária a quem tem medo de ficar órfão de um pai que Salazar deixou plantado na identidade de um povo quebrado pelo peso da história.

Se à esquerda o PS colhe e sangra os pequenos partidos desta ala, à direita o PSD perde para os partidos emergentes, Chega e IL e o quase desaparecimento do CDS não é boa notícia para o velho mito da AD.

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Portugal teima em insistir em dividir a riqueza que não cria. Em criar serviços e apoios que a economia não sustenta. Faz lembrar aquele filho que ainda vive em casa dos pais e está sempre a pedir mais dinheiro, obrigando a que os pais se endividem para que nada lhe falte. Se o estado social é uma conquista da democracia e essencial para o bem-estar social, não é menos verdade que se não se cria riqueza a sua sustentabilidade é uma utopia. Afinal não se pode atribuir o que não existe e a UE não irá despejar eternamente bazukas de dinheiro num país que não mostra sinais de querer inverter o seu rumo despesista e dependente de Bruxelas.

Criámos um problema enorme na sociedade portuguesa com as fragilidades sociais e as debilidades económicas e geradoras de emprego, levando a que o medo cresça e alastre e favoreça quem arroga o poder do estado e a sua pseudoproteção a quem dela carece. A verdade é que continuamos a ser um país adiado, onde o medo prevalece. E ganha eleições.

*Artigo publicado na edição de fevereiro do Jornal de Cá.

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