O que veem eles que nós não?

Por Carolina Simões

Aproveito este espaço para poder trazer à tona algumas questões que acredito que estejam a escapar na atual discussão-aceitação da eleição de Jair Bolsonaro à presidência da republica federativa do Brasil.

A questão que coloco é: “seremos nós que não nos estamos a conseguir colocar na posição alheia?”. Isto porque parece unânime, tanto perante a nossa comunicação social, como perante os nossos comentadores ou até partidos políticos, que Bolsonaro não deveria ser a escolha. Mas porque razão esta visão não terá sido assim tão clara para os mais de 57 milhões de brasileiros que nas urnas escolheram o candidato do Partido Social Liberal, é algo que me faz questionar se a nossa perspetiva não estará deturpada pela nossa sociedade e, em especial, pelas nossas condições de vida.

Num país em que o quotidiano passa por ter medo de sair de casa, com índices de violência que em Portugal são inimagináveis, o discurso do candidato é “com violência se combate a violência”, existindo como política a liberalização da posse de arma como direito à legitima defesa. Talvez esta ideia se torne favorável aos olhos de quem se encontra num meio de insegurança, em que o uso da arma por alguns é o dia-a-dia, mesmo que de forma ilegal. Colocando-nos na posição de uma família cujo objetivo principal é a sua defesa, talvez a ideia de se proteger dessa forma, legalmente, possa surgir enquanto esperança para um sono mais descansado.

Se considerarmos um Brasil onde cerca de onze por cento da população vive em condições de extrema pobreza, onde o atraso económico e social não acompanha o desenvolvimento digital repercutido pela globalização, talvez possamos começar a perceber o porquê de o povo brasileiro necessitar de mudança. O PT atinge a presidência da republica em 2003 com Lula da Silva e até 2016 com Dilma Rousseff, anos nos quais estão inseridos series de escândalos políticos, entre os quais aquele que leva ao segundo processo de impeachment, resultantes de crimes de responsabilidades. O que me leva a crer que possivelmente os brasileiros colocaram acima das ideologias políticas, a necessidade extrema de recuperar a credibilidade da sua democracia.

Com este texto, o intuito nunca passa por desculpabilizar ideologias ou políticas do candidato, muitos menos fundamentá-las na realidade brasileira, mas sim tentar perceber aquilo que de facto leva populações, que outrora lutaram pela democracia, a optar por um candidato que claramente lhes irá retirar parte desse direito. Acredito que seja claro, dados os recentes exemplos que temos vindo a presenciar, que a condição de vida de um cidadão ligado ao mundo por um segundo, acedendo a qualquer informação desde que deseje, é o que o leva a não ter em conta aquilo que de facto defende e a tentar a mudança. Acredito que se trate apenas de esperança…

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