Opinião de João Fróis
Se nos fosse pedido para classificar a civilização atual em apenas um vocábulo, a escolha teria de recair na “estupidez”.
Após um doloroso e sangrento séc. XX, com duas guerras mundiais e outros tantos conflitos que mataram milhões de inocentes, seria de esperar que os ventos da paz e reconstrução social vingassem e permitissem almejar um futuro mais próspero, justo e livre. Puro engano. A economia cresceu imparavelmente, os avanços na medicina e farmacêutica permitiram um crescimento demográfico sem igual e o avanço nos direitos humanos e sociais trouxeram dinâmicas coletivas de mais justiça, igualdade de oportunidades e possibilidades reais de maior qualidade de vida a todos os níveis. A ilusão tornou-se viciante mas o mundo continuava desigual, injusto e mortífero como sempre fora ao longo da história. Os Balcãs ficaram manchados a sangue na desagregação da Iugoslávia de Tito, a guerra do golfo impôs a força do petróleo sobre tudo e todos e o terrorismo assolou o mundo, instalando o medo. Mas na escalada da estupidez humana, nesta falta grosseira de inteligência nas escolhas e melhores opções coletivas, há dois nomes que demonstram a apologia desta condição que parece dominar o planeta, Trump e Bolsonaro. O primeiro insiste em negar as alterações climáticas, por mais que a Antártida e Gronelândia estejam a derreter e o segundo alimenta a conspiração de que as ONGs estão a atacar o Brasil, justificando os terríveis e gigantescos incêndios que devoram a Amazónia há semanas. Cidades estão engolidas pelo fumo e nunca o pulmão da terra foi tão violentamente atacado, temendo-se o pior dos cenários.
Impõe-se perguntar: que mundo é este que elege demagogos, populistas e cabecilhas das maiores e mais poderosas indústrias mundiais, permitindo que a vertigem do lucro acelere a destruição do planeta? Que mundo é este que se revê nas mentiras, no ódio e no sectarismo e na xenofobia (Europa vs migrantes)?
Definitivamente estamos a viver tempos perigosos e que podem levar à destruição massiva dos recursos e da vida tal como a conhecemos. As evidências são já indesmentíveis. Tiranos como estes alimentam a busca do lucro imediato, a procura a qualquer preço de mais e melhor. Mas a que preço? 7,7 mil milhões de seres humanos estão entregues a um capitalismo selvagem, a jogos de poder patéticos e a encenações teatrais a que se chama política. A estupidez manda no mundo e a saga continua. Boris Johnson, outro estouvado, comanda agora a velha Albion. Não se prevê nada de bom com a efetivação do Brexit. A UE vai sofrer uma vez mais.
Para quando a chegada dos humanistas? Ou esse desiderato ficará para sempre na ilha da utopia? Até lá a estupidez avança e o planeta colapsa. Temo que sem volta possível.
*Artigo publicado na edição de setembro do Jornal de Cá.