D. Domingos Xavier de Lima (1765-1802), Senhor dos Chavões, foi um notável almirante da marinha portuguesa tendo combatido no Mediterrâneo ao lado de Lorde Nelson. Casou com D. Eugénia de Bragança, uma senhora carregada de títulos de nobreza e recebeu como prenda de casamento do príncipe D. João, futuro rei D. João VI, o título de 7º Marquês de Nisa, título criado em 1646 por D. João IV e o de Conde da Vidigueira, visto D. Eugénia ser descendente de Vasco da Gama descobridor do caminho marítimo para a Índia.
O padre António Vieira sempre que se dirigia a D. Domingos tratava-o por Conde da Vidigueira, como que a realçar a lusa presença do grande nauta na linhagem. E o brasão deste título passou a vigorar em muitos locais incluindo quintas em Valada e casas que possuíam na região. O solar medieval dos Chavões, construído por volta de 1345, pelo cavaleiro Lourenço Gonçalves por morte do seu proprietário passou à igreja de Santo Estêvão de Santarém. No século XVI está nas mãos de Rui Teles de Meneses, Senhor de Unhão, que na política de casamentos se entrelaça nos Marqueses de Nisa. Estrutura maneirista com obras de renovação no século XIX, adquire feições neogóticas muito ao gosto da época integrando uma capela dedicada a Santo Amaro. A nobreza fez do local lugar de veraneio e no período que era rendeiro o lavrador Dâmaso Xavier dos Santos, aquartelamento de tropas, mas o seu espaço era sempre referido como um dos lugares privilegiados de beleza natural para as reuniões da “corte na aldeia” onde os conjurados de 1640 teriam feito planos para tirar os Felipes do trono de Portugal e em que Alexandre Herculano maravilhado com a vista da lezíria o descreveria como “perspectiva grandiosa”.
Foto: O Solar dos Chavões numa aguarela do pintor Jorge Maltieira
Mas o 9º Marquês de Nisa, também ele D. Domingos (Francisco Xavier da Gama Castro Noronha Ataíde Silveira e Sousa) (1817 – 1873), 9º Conde de Unhão e 13º Conde da Vidigueira com uma vida faustosa e de boémia, onde no dizer do seu biógrafo os caprichos fantasiosos causariam inveja a “alguns dos mais loucos imperadores romanos” e a população via nele o anti-Cristo das tradições bíblicas, deitou por terra a linhagem e arrastou os Chavões para a esfera dos plebeus endinheirados. Foi o que Eduardo Noronha classifica como o último marquês de Nisa, que acabou o resto de sua vida por se lançar na desconhecida indústria de ostras para sobreviver depois de não ter conseguido estabelecer uma exploração de jogo como existia em Monte Carlo e mais tarde se instalou no Estoril.
Rogério Coito escreve de acordo com a antiga ortografia