Opinião

Omnis vincit

"Grande vitória do PSD e de João Heitor, com números nunca vistos, quer na cidade quer nas freguesias onde Vila Chã de Ourique se destaca pela viragem marcante". Por João Fróis

By Jornal de Cá

October 14, 2025

Todos vencem. Esta é a conclusão a que chegamos ao ouvir as reações aos resultados das eleições autárquicas de 12 de outubro último. Sendo certo que quase ninguém ousa admitir a derrota, a gestão política do escrutínio eleitoral leva a exercícios complexos e que muitas vezes revelam a verdadeira face dos candidatos.

Num resumo possível e a nível nacional observemos então.

O PSD sai claramente vencedor e Montenegro ganha uma almofada de conforto para a aprovação do orçamento e garantir alguma estabilidade governativa para os próximos meses. Para tal as vitórias de Moedas em Lisboa e de Pedro Duarte no Porto são determinantes. Mas não só pois as vitórias em Sintra, Cascais e Gaia, garantem o pleno nos cinco concelhos mais populosos, assumindo a liderança urbana e marcando a cisão com o velho chavão da base provinciana e que Viseu marca ironicamente ao derrubar o antigo “cavaquistão”, fortaleza laranja durante décadas e que agora muda de mãos e cor política para o PS. A obtenção do maior número de câmaras permite a liderança do poder local, dando conforto territorial ao executivo e maior confiança a Montenegro na sua estratégia nacional. De realçar o retorno pela porta grande de Luís Filipe Menezes a Vila Nova de Gaia, doze anos depois, garantindo que as duas margens se vistam em tons laranja. Uma palavra para a vitória histórica na cidade berço, onde resido. O PSD consegue assim a hegemonia no quadrilátero minhoto, Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão e Barcelos.

O PS tinha nestas eleições uma montanha dura de escalar. Após a hecatombe nas legislativas era imperioso não perder a face nas autarquias. E na verdade conseguiu segurar a sua forte implantação com a conquista de algumas capitais de distrito importantes para lá de Viseu, como Bragança, Faro e Coimbra. É certo que perdeu nos “big five” populacionais, mas atenuou a queda e manteve um contingente expressivo particularmente no centro e sul do país, onde tinha conhecido um esvaziamento para o Chega nas legislativas. José Luís Carneiro consegue algum conforto para levar a cabo esta travessia na oposição, tendo a missão de recentrar o partido face aos novos desafios que são transversais a todos sem exceção. Não ganhou, mas também não perdeu tanto como muitos previam ou até desejavam. Está vivo e capaz de se reerguer.

A CDU estava igualmente a fazer nova prova de vida e resistência. Voltou a perder câmaras, mas aguentou alguns dos seus bastiões e almejou conquistar novos e que atenuaram a queda. A sua velha hegemonia no Alentejo é hoje apenas memória, mas a componente autárquica continua a ser o braço armado do partido e as doze câmaras são agora o número da resiliência comunista. O partido continua em perda e pela primeira vez reconheceu a derrota. Eis a honrosa exceção ao discurso vitorioso.

O CDS tinha uma prova ainda mais dura. Partido da construção democrática pós 25 de Abril, mas longe do fulgor dos tempos de Paulo Portas ao comando, vive agora com o fantasma de perda de presença em São Bento e da consequente luta pela sobrevivência política, para lá do abraço “de urso” do seu incontornável aliado laranja. Manteve as seis autarquias onde concorreu como cabeça de lista e participou em várias alianças com o PSD e também a Iniciativa Liberal. A manutenção aqui sabe a uma pequena grande vitória, até por garantir a quarta posição no número de autarquias e frente ao novel Chega.

O Chega era claramente o elefante na sala ao nível autárquico. Após o enorme sucesso nas legislativas estas eleições eram o novo desafio a superar. E na verdade a desilusão tornou-se por demais evidente nas hostes do partido, mesmo que disfarçada nos sorrisos das primeiras conquistas e na emblemática vitória em Albufeira, que ainda assim não atenuou a derrota de Pedro Pinto em Faro. O algarve, região onde o Chega tinha sido um furacão vitorioso nas legislativas, mostrou as duas faces que o partido enfrenta. O debutar nestas andanças e o caminho das pedras que se antevê ter de percorrer. Ganhou as três primeiras câmaras, mas perdeu algum do fôlego com que vinha do início do ano.

A IL, após a saída de Rui Rocha e da assunção da simpática Mariana, tinha também uma prova dura de enfrentar. Marcar presença e principalmente conseguir sair da sombra do seu “pai” ideológico e com quem se aliou nomeadamente na cidade invicta, almejando mandatos que lhe dão expressão na sua terra natal. O liberalismo estará sempre ligado ao empreendedorismo nortenho e portuense. Foram apenas umas pequenas e quase impercetíveis vitórias nos mandatos alcançados, mas que mais não são do que uma lufada de inspiração.

O Livre, sem bases para grandes voos, entrou em alianças e conheceu o sabor da derrota em Lisboa, mas almejou sorrir em Coimbra onde Ana Abrunhosa deu oxigénio à esquerda.  Sendo um partido de cariz urbano, tem o desafio do crescimento e do alargamento da sua base territorial.

O Bloco de Esquerda é hoje uma antítese de si mesmo. Dos tempos originais com Miguel Portas e Francisco Louçã e da sua sedutora proposta de uma nova esquerda urbana, pouco resta. Já não existe um bloco e o desmoronamento é evidente. O Livre aglutinou boa parte do seu eleitorado e Mariana Mortágua bem tentou agarrar-se a causas internacionais, mas a sua viagem na flotilha fica na história como uma fuga para a frente, procurando o protagonismo que por cá já se perdeu. O seu rosto de derrota estava bem visível no palanque atrás de Alexandra Leitão, a maior derrotada da noite.

Por último os independentes, a marcarem a forte identidade das candidaturas personalizadas e vincadamente fora da esfera partidária. E aqui Isaltino continua a ser um caso sério de popularidade junto do eleitorado mais letrado do país. A obra feita é a sua marca impressiva em Oeiras.

E guardo para o fim o meu Cartaxo.

Grande vitória do PSD e de João Heitor, com números nunca vistos, quer na cidade quer nas freguesias onde Vila Chã de Ourique se destaca pela viragem marcante. O eleitorado sentiu a entrega e empenho de todo o elenco executivo, que está de parabéns, e percebe-se a adesão popular ao projeto e a identificação com a mensagem positiva que emana das decisões, discurso e presença de todos os que abraçaram a nobre missão de representar o Cartaxo. Parabéns a todos e votos do maior sucesso no projeto de engrandecer o concelho e as suas nobres gentes. O Cartaxo merece sonhar e voltar a ser atrativo, dinâmico e empreendedor como noutros tempos e realidade. Para o bem de todos os cartaxeiros sem exceção. Bem hajam todos e viva o Cartaxo!