A 6 de Outubro de 2011 o Cartaxo inaugurou, com pompa e circunstância local, o Parque Central do Cartaxo (termo certamente alusivo ao Central Park de New York), e para tal convidou o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que ao Cartaxo se dirigiu.
Para trás ficavam esquecidos os protestos de forças partidárias minoritárias (o espectro inicia-se com o BE, e que depois foi acompanhado pela CDU e PSD), em Assembleias Municipais acaloradas, e a intervenção corajosa e individual de cidadãos, assim como as críticas que se iam lendo nos fóruns sociais da Internet, contra um partido maioritário e absolutista.
No espaço do novo Parque Central, que eu prefiro apelidar de Terreiro, tinha existido um convento franciscano, o Convento do Espírito Santo do Cartaxo, que durou desde 1510 até 1834/1869.
Depois do abate de centenas de árvores e de arbustos, do arranque da calçada portuguesa, da destruição dos antigos bancos de jardim, do desmantelamento da base em cantaria do coreto, da trasladação do Monumento aos Mortos, e da deposição, durante meses, da extraordinária estátua de Marcelino Mesquita (da autoria de Leopoldo de Almeida), que dormia pacificamente, perante o caos e estaleiro de obras, iniciaram-se as escavações. Não sem espanto meu, se começaram a encontrar as fundações do antigo convento, muros em alvenaria e pedra, pavimentos, azulejos, detritos e depósitos da cozinha conventual, parte de capelas, epitáfios tumulares (como o das fidalgas famílias Osório, ou Salazar Moscoso) e despojos humanos de enterramentos. O IGESPAR foi chamado, e a obra começou a ser acompanhada por estes especialistas do património. Na altura foi prometido, ao gosto contemporâneo da Câmara de então, um Painel multimédia, que seria colocado na Praça e que contaria a história da antiga Praça 15 de Dezembro. Onde param estes despojos? No Cartaxo? Em Lisboa, nos armazéns do IGESPAR?
À época foi saindo no extinto jornal regional “O Povo do Cartaxo”, em crónicas quinzenais um excelente texto da autoria de Cristina Tristão Cera. Pouco tempo depois, esta especialista em Conservação e Restauro publicou na Revista Apontamentos de Arqueologia e Património, nº 7, pp: 55-72, a interessante monografia intitulada “O Convento do Espírito Santo do Cartaxo”. Este trabalho constitui, até ao momento, o trabalho historiográfico mais sério sobre o tema, pois possui investigação inédita, consulta de fontes, e de bibliografia, heurística e problematização. Passou despercebido a muitos cartaxeiros, mas é um dos mais interessantes e fundamentados estudos de História local que temos.
*O autor não adopta o acordo ortográfico vigente
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