Opinião de João Fróis
A relação do individuo com o mundo que o rodeia tem conhecido, ao longo da história, avanços e recuos na liberdade para acontecer e na sua limitação opressiva.
Vivemos hoje tempos onde opinar se tornou muito fácil, nas múltiplas plataformas digitais que tomaram o lugar das tertúlias e mesas de café. Cada um sente-se agora inteiramente livre para expressar o que lhe vai na alma, obtendo com isso uma mão cheia de nada, entre vazios, redundâncias e agressividade, consoante os temas e o nível do discurso. A diferença estará sempre no respeito que fomentamos para então sim podermos granjear igual retorno.
Mas opinar vem demonstrando outra tendência perigosa, a do abandono do pensamento, do exercício pensante, filosófico, analítico e de participação coletiva. O fim do clube dos pensadores ilustra-o. Este programa de debate coletivo entre figuras públicas de diversas áreas e os cidadãos, ocorreu durante quatorze anos em Vila Nova de Gaia e pretendeu promover a aproximação entre a sociedade civil e o poder político, debatendo temas da atualidade, entre eles o progressivo afastamento dos eleitores do fenómeno político, com o inevitável e imparável crescimento da abstenção. Algo que as recentes eleições europeias vieram comprovar. Ora o promotor deste clube veio esclarecer as razões deste fim e entre elas observa que hoje em dia existem inúmeros debates para todos os gostos e que deixou de haver espaço e quiçá interesse na proposta que o clube oferecia à sociedade civil. Respeitando a decisão soberana de quem era o motor da ideia, fica um desconforto latente neste termo. Num primeiro olhar a opinião venceu o pensar por ko técnico. Após anos de reforço do seu peso foi desgastando o exercício pensante e derrubou-o por cansaço. As televisões e redes sociais estão inundadas de opiniões sobre tudo e nada. Fica a sensação de que existem mais opinadores que os demais que se escusam a fazê-lo. Não sendo verdade, não deixa de ser preocupante. Porque assim como a abertura à informação global não trouxe mais conhecimento, apenas informação tantas vezes fútil e falsa, também a torrente de opiniões não trouxe evolução nem profundidade na análise crítica, construtiva e participativa que antes cabia aos filósofos e pensadores, antes promovendo a guerrilha ideológica, o ataque bárbaro à individualidade e respetivo direito ao anonimato e a radicalização dos discursos e atitudes.
Em tempos de enorme perda de referências mundiais, em que tantos líderes são populistas, inábeis ou corruptos, não deixa de ser preocupante que quem se dedica e promove a elevação, o livre pensamento e debate, com troca de ideias e conceitos mas sempre com respeito pelas diferentes, desista e assuma a falência do pensar. Quando os cidadãos abdicam de pensar, os rebanhos engordam e os déspotas florescem.