Pedro Barbosa, 55 anos, é um dos professores de desporto mais admirados no Cartaxo. Treinou atletas como Rui Silva e Teresa Mirra, criou e organiza eventos como a Corrida da Liberdade (a 25 de abril) ou o prémio Rui Silva. Ao fim de 40 anos de dedicação ao atletismo realiza-se no domingo, 8 de outubro, um almoço de homenagem a Pedro Nazaré Barbosa.
A iniciativa vai juntar, no restaurante O Saraiva, dezenas de antigos e atuais atletas, familiares e amigos, que desta forma querem homenagear o homem que há 40 anos se dedica ao atletismo no concelho. O almoço está marcado para as 12h30.
Que balanço faz de mais de três décadas a formar atletas?
Sinto-me satisfeito e frustrado ao mesmo tempo. Por um lado, orgulho-me do trabalho que desenvolvi, das amizades que fiz e dos prémios que ajudei a conquistar. Por outro, acho que foi uma vida inteira de sacrifício, sem qualquer tipo de reconhecimento por parte das instituições competentes.
Não recebe apoios de ninguém?
A Câmara Municipal do Cartaxo dava-nos um subsídio que permitia custear os técnicos e instrutores, sendo que era sempre insuficiente para todos os gastos inerentes às deslocações, materiais, entre outros. Há uns dois anos cortaram-nos essa verba e ficámos sem nada. O que nem se compreende, porque foi a própria autarquia que nos pediu para criar uma secção de atletismo no Cartaxo. O Ateneu Artístico Cartaxense também não pode desviar verbas que se destinam a outras modalidades e, como tal, temos de sobreviver com a ajuda de pais e do altruísmo de toda a equipa técnica.
Mas isso não chega…
Claro. Criámos uma associação (Correr Mais) que organiza eventos para recolha de fundos. São os pais e amigos que, com muito empenho, tempo, esforço e sacrifício, organizam jantares, festas e angariações de dinheiro. E é com essas verbas que vamos pagando as deslocações, aos fins de semana, para as provas regionais e nacionais, o combustível, ou os materiais que se vão deteriorando. Além disso, como em Santarém não há pista de treino, temos até que transportar atletas escalabitanos! Ora, fazer tudo isto é uma tarefa quase sobre-humana. Já deixei de olhar para os gastos que faço com o meu próprio carro ou telefone.
Que pensa fazer?
Já me cansei de chamar a atenção das autoridades competentes e de procurar apoios e patrocínios junto de empresas e particulares. Por isso, acho que este será o ultimo ano que me dedico desta maneira à formação. Tenho uma família e uma profissão [é fisioterapeuta] às quais também tenho que dar atenção e não consigo acudir a tudo. Talvez mantenha o trabalho com alguns dos melhores atletas e a maioria terá que deixar de ter formação.
É estranho isso acontecer, tendo em conta a qualidade dos atletas da região e os prémios conquistados.
Pois. Teremos que fazer uma greve, talvez depois se lembrem que existimos.
Em 30 anos, a maneira como vemos o desporto mudou muito?
Depende. Acho que as pessoas estão cada vez mais conscientes para a prática de exercício físico e muita gente adere a modalidades, nem que seja de manutenção. Mas na alta competição, cometem-se erros graves por ignorância e má gestão. Mas fico sempre muito contente quando um pai ou uma mãe chegam até mim para inscrever uma criança.
Prefere ficar do lado da formação ou também gosta de praticar?
Sofri uma lesão quando tinha 16 anos. Foi uma fratura de ligamentos num joelho que me cortou o sonho de continuar como atleta, por isso acabei por me cingir à formação. Comecei por ensinar os meus amigos no bairro, depois vieram as escolas, estive no União de Santarém, depois no Estrela Ouriquense [onde treinou Rui Silva] e estou agora no atletismo do Cartaxo. Sinto-me muito satisfeito com o trabalho que desenvolvo.