Os 50 são os novos 40?

Reportagem publicada na edição impressa nº58 da Revista DADA, em outubro de 2015, recorde

Cartaxo, 30/09/2015 - Reportagem para a Revista Dada com as novas mulheres de 50 anos ( Vitor Neno / Neno Photo )

Cristina Oliveira, Hermínia Cóias e Edite Costa, falam do que é viver a década dos cinquenta nos dias de hoje

A idade, diz o povo, está na cabeça de cada um. No entanto, nas cabeças de muitos, existem ainda alguns comportamentos apropriados a cada fase da vida. Não obstante, esses estereótipos estão cada vez mais distantes, até porque existem velhos de 20 anos e jovens de 70. Com a alteração de comportamentos, serão os 50 os novos 30 ou 40?

Quantos de nós já não nos perguntámos, ao encontrar uma amiga que não víamos há muito: “mas quantos anos é que ela tem? Está ótima!”.

A verdade é que, cada vez mais, as diferenças de idade parecem não passar por (algumas de) nós. É o que se passa com estas três mulheres, na casa dos 50, convidadas pela dada para ilustrar este artigo: Cristina Oliveira, 51 anos, secretária administrativa e mãe de duas filhas, Hermínia Cóias, 57 anos, professora, mãe de duas filhas e Edite Costa,  52 anos, empresária, mãe de um filho e uma filha.

As mulheres na faixa dos 50 anos apresentam, hoje, uma saúde semelhante à que, há umas poucas décadas, apresentavam os jovens na faixa dos 35 anos. E porquê? Graças aos avanços da medicina, ao acesso aos cuidados básicos de saúde, à melhoria das condições de vida, à atividade física, às escolhas alimentares, e a outros fatores importantes.

“Exercício físico sempre fiz, tenho necessidade de fazer”, diz Hermínia Cóias, acrescentando que também a alimentação merece especial cuidado. “Ando a racionalizar bastante. Mais vegetais, menos carne, uma água com limão de manhã, em jejum, os suplementos, como sementes de girassol, os muesli com iogurtes naturais, essas coisas assim, e deixando alguns açucares, que é a coisa que eu mais gosto”.

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Cristina Oliveira

Cristina Oliveira refere mesmo sentir-se “nunca com 30, mas sinto-me como se tivesse 40. Pelo menos, fisicamente. Já vou tendo algumas coisas, claro. Os 50, no fundo, estão cá, mas a postura perante a idade conta muito, não é? Não nos podemos entregar assim muito, às vezes, à dor no joelho, à dor nas costas, vamos levando as coisas com calma, e há todo um estado de espírito, depois, que nos faz sentir bem com a idade que temos”.


Mulheres convivem melhor com questões pessoais

Ainda não há muito tempo, os 50 eram sinónimo de entrada na terceira idade. As mulheres assumiam um estilo mais sóbrio, cortavam o cabelo – as mulheres de idade não usavam cabelos longos, sobretudo soltos  – «calçavam as pantufas» e preparavam-se para cuidar dos netos.

Uma ideia que, ao que parece, não poderia estar mais distante da realidade atual. Cristina Oliveira refere que “as pessoas entregavam-se, às vezes demais, aos problemas que tinham e às limitações que iam aparecendo. E, hoje em dia, as mulheres convivem melhor com as suas questões pessoais e com os problemas que a idade lhes vai trazendo”. Cristina Oliveira acrescenta mesmo recordar-se bem da sua mãe aos 50 anos. “Era mais queixosa, com os seus problemas de saúde, que não foi fácil. Mas acho que havia uma predisposição para aceitar mais“.

Edite Costa

A mesma constatação faz Edite Costa, socorrendo-se do exemplo da sua mãe que, segundo diz, parecia muito mais velha do que era na realidade, porque “a minha mãe era uma mulher velha aos 55 anos. A maneira de vestir, a maneira muito clássica, o penteado, faziam dela uma mulher mais pesada. E a nível da pele, uma pele mais queimada, mais enrugada, menos hidratada, o que lhe dava um aspeto mais pesado”.

Aos 50 já não somos velhos
Hoje, todo o quadro se alterou. As mulheres trabalham, mas também viajam, estudam, namoram, fazem exercício, divertem-se.

É comum encontrar avós «enxutas», que continuam a cuidar dos netos, mas que preferem fazê-lo só ao fim-de-semana, por exemplo. Nos outros dias, trabalham, saem com amigas, vão às danças de salão ou às aulas da faculdade… ou seja, têm mais que fazer.

A roupa deixou de ser apropriada para «aquela» faixa etária. Por isso, é comum encontrarmos estas «novas jovens» de sapatos de plataforma, minissaia e cores berrantes. E como ficam giras! Uma ideia reforçada por Edite Costa, que considera que, nos dias que correm, há uma democratização da moda, embora refira que “sou apologista que tudo tem limites. Não podemos, também, cair no ridículo. Temos de respeitar a idade que temos, e saber aproveitar o que de bom a idade tem para podermos usufruir. Não há limites para o bem estar, mas há limites de preservação da nossa integridade e dignidade”.

Mas há que estar atento, avisa Hermínia Cóias, dizendo que “penso que elas (as filhas) gostam de ter uma mãe com uma aparência moderna, cuidada, e eu só lhes digo é: «quando a mãe não tiver noção de que está a ultrapassar o limite, vocês avisam-me», porque nada como a família e os amigos para dizer «não, que já não fica bem, há que parar». Não tanto porque seja pela opinião alheia, mas porque, de facto, há aquela situação de pensarmos que temos de ter uma certa atitude, uma certa classe, uma certa dignidade, e temos que saber impôr os nossos limites”.

Aos 50, estamos no auge da vida. Os filhos estão, na maioria das situações, criados, a vida profissional estabilizada, a saúde controlada, e há tempo e dinheiro para desfrutar dos prazeres de viajar, aprender, conhecer. Há, até, tempo para encetar novos relacionamentos.

Mas desenganem-se aqueles que pensam que as cinquentonas atuais tentam disfarçar a idade. Pelo contrário, a maioria deles encara a idade de forma positiva. Não querem parecer ter 20 ou 30 anos, antes querem estar bem aos 50.

“Eu acho que é uma questão pessoal”, salienta Cristina Oliveira. “Não importa a idade, importa a forma como a pessoa se sente na vida”, refere.

Já Hermínia Cóias confessa nunca ter pensado muito nisso, mas “penso que não me descurei, ou seja, se quando somos mais novos há uma beleza natural da juventude, que nem sempre apreciamos devidamente, quando se tem mais idade, mas também já temos os filhos criados e já temos mais tempo para nós, focamo-nos mais em nós próprios e, portanto, elevamos um pouco a nossa autoestima e os cuidados vêm, se calhar, com mais acuidade nessa altura”.

Edite Costa diz que não há segredos para manter uma aparência jovem. “Não há segredo, é força de viver. É acordar todos os dias com vontade de viver mais um dia e pedir a Deus que me dê coragem para esse dia. Mas viver um dia de cada vez”, refere.


Genética é determinante

Há, no entanto, fatores que não podemos escamotear nesta mudança dos cinquentões atuais. A genética favorável é determinante, e ou se tem ou não se tem, não há muito a fazer. Mas podemos fazer algo em relação às opções que tomamos. Quer isto dizer que está na nossa mão optar por hábitos mais saudáveis, nomeadamente no que respeita à saúde e alimentação. A informação é mais que muita e está disponível para todos, apenas à distância de um clique. E os avanços na medicina também contribuem em muito para esta situação. Os exames diagnósticos, a prevenção e os tratamentos são determinantes para manter a qualidade de vida e o bem-estar por muito mais tempo. Viver bem tem a ver com cuidar da saúde do corpo, da mente e das relações.

Mães ou amigas?
Também as relações com os filhos destas mulheres na casa dos 50 anos são diferentes, na grande maioria das vezes, daquela que tiveram com as suas mães.

Há hoje uma abertura que não existia há apenas 20 ou 30 anos, como salienta Edite Costa, que confessa que “quando era jovem, a relação com a minha mãe era muito mãe e filha. O tratar por «você», havia uma certa distância, não havia conversas muito íntimas – as próprias mães não tinham à-vontade para falar connosco sobre alguns assuntos.

Com os meus filhos não é assim. Com os meus filhos somos quase… eles são uns irmãos mais novos. Mas dando o respeito de mãe. Conseguimos ter conversas à vontade, que eu nunca poderia ter com a minha mãe ou com o meu pai. Na altura, nunca me deram oportunidade para isso. Hoje, com os meus filhos não. Eles não têm problema com a mãe, de chegar ao pé da mãe e perguntar aquilo que têm a perguntar”.

Cristina Oliveira alinha pelo mesmo diapasão, salientando as diferenças das mães de então para as mães atuais. “É muito diferente. Com as minhas filhas, tenho uma relação de amiga para além de mãe. Há menos distanciamento. Há maior proximidade nos interesses, nos locais que frequentamos. Dou-me bem com a minha mãe, mas realmente havia aquele fosso, que hoje em dia não existe, a não ser por incompatibilidade de feitios. Não havia muita abertura. A educação delas também foi diferente, e elas não conseguiam. Mas eu sou fruto da educação que a minha mãe me deu, por isso… não sei. Acho que também tem a ver com o contexto sociopolítico, que era diferente, e que nos trouxe uma maior abertura de espírito”.

Hermínia Cóias

Mas também existiam mães mais próximas das mães atuais. Hermínia Cóias assegura que a sua mãe “sempre acompanhou a moda. As minhas amigas sempre foram lá a casa pintarem-se, porque era lá que nós podíamos fazer essas coisas «mais à frente». A minha mãe sempre foi a primeira a dizer «usa isto, fica-te bem, é moderno». Acho que isso também me terá ficado”. Apesar disso, esta professora de profissão considera que não se devem misturar as coisas, ou seja, “acho que essa verticalidade deve existir enquanto estão na fase do seu desenvolvimento, e perceberem que a mãe é, sobretudo, mãe. Claro que também é amiga, mas o amiga tem que estar subjacente, não pode ser aquilo que emerge, porque as regras e os limites têm de ser impostos”. Mãe de duas filhas adultas, na casa dos 30, Hermínia Cóias salienta que “uma foi mais «adolescente» que a outra. Agora é muito tranquilo, é uma liberdade imensa. Agora sim, é mais a amiga, já não precisa de ser tanto a mãe, é a amiga, a confidente, é o porto de abrigo”.

Recuperar o tempo perdido
Se até aqui se «deixou ir», fique a saber que é possível recuperar o tempo perdido. Basta, para isso, fazer opções.

Trabalha 14 horas por dia e anda sempre cansada? Talvez esteja na hora de deixar de o fazer. Imponha limites para o trabalho, vá ao ginásio, faça jogging, caminhada, aposte num novo relacionamento, vá tomar «um banho de loja»… Cuide-se e, sobretudo, arranje tempo para si.

Até porque, dizem os cientistas, aqueles que revelam menor satisfação com a vida sofrem mais AVC’s. Por isso, Edite Costa deixa um conselho: “acho que não se devem inibir de ir à perfumaria, à farmácia, seja onde for, procurar um creme, informar-se sobre tratamentos, fazer uma limpeza de pele… sei lá… Porque é muito importante nós olharmos para o espelho e sentirmo-nos bem com aquilo que vemos. Dá-nos mais estímulo para trabalhar, dá-nos mais estímulo para a vida”.

Aproveite a vida. Recorde-se, também, que uma cabeça bem resolvida pode ajudar a vida sexual.

Isuvol
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