Opinião de João Fróis
Educar é por si só uma missão nobre. Pressupõe a transmissão de conhecimento, o ensinamento de regras e códigos, mais prementes na vertente familiar, e de conteúdos, matérias e problemáticas várias na vertente de ensino público geral.
É uma das grandes missões de qualquer estado de Direito. Contribuir para a formação do indivíduo, fornecendo-lhe os meios para que possa almejar a uma profissão e ao sucesso no cada vez mais exigente mercado de trabalho.
Mas o que assistimos atualmente é a um descrédito e desvalorização da instituição escolar, com problemas estruturais e de gestão de recursos humanos. Mais grave é o desfasamento funcional face à evolução dos tempos.
Vamos por partes.
A escola deve ser pública e prestar um serviço de qualidade à população, permitindo-lhe de modo tendencialmente gratuito, tal como defende a Constituição da República, o acesso à formação e ensino. Coexistir com escolas privadas é algo normal em democracia mas que não deve nunca substituir-se ao papel principal que a escola pública deve ter na sociedade. Só esta permite englobar toda a população, independentemente dos seus rendimentos e classe social. E deve merecer os melhores profissionais, edifícios e apoios para que os objetivos de escolarização de qualidade possam ser alcançados. O que não podemos tolerar é que a falência do sistema público de ensino leve muitos a desconfiar da sua eficácia e outros tantos a fazerem o esforço suplementar de optarem pelo privado de modo a satisfazerem as pretensões, legítimas, que o Estado deveria assegurar.
A gestão da classe docente tem sido reveladora dos grandes males da ditadura financeira nos orçamentos do estado. Os cortes na contagem do tempo de serviço que vão enchendo os telejornais, são demonstrativos da cegueira e prioridades de um estado demasiado contabilista. A insatisfação é legítima mas provoca danos na docência e no bom funcionamento das aulas, com faltas e greves sucessivas.
Mas todos estes problemas graves têm por detrás um maior e que se vai agigantando com o curso do tempo, o que verdadeiramente ensinar! Com o avanço tecnológico e a robotização galopante, todas as tarefas que as máquinas possam replicar irão substituir, sem apelo nem agravo, a mão humana. Assim, urge calibrar a missão da escola e as matérias a desenvolver. Estas têm de, sem dúvidas de permeio, recair na filosofia, na ética, na cultura e artes, no desporto, na assistência social, cada vez mais premente, na criatividade, algo que as máquinas dificilmente terão e nas incontornáveis relações pessoais, tão maltratadas nos dias que correm.
É nesta conjuntura que a educação deve ser acolhida no seio do poder, merecendo deste a maior atenção, recursos e empenho para que o futuro do país possa ser risonho. De outro modo iremos agudizar os problemas da empregabilidade, engrossando os dependentes dos apoios sociais e os marginalizados no acesso a uma vida digna.
A reforma educativa tem de ser uma prioridade. Temo que sem uma reforma do sistema político não seja possível. Venham as duas que só temos a ganhar.
*Artigo publicado na edição de fevereiro do Jornal de Cá.