“Os Falhanços, A Persistência e A Ciência”
A irregularidade do percurso académico, por Margarida Ferreira, aluna do 12º ano da Escola Secundária do Cartaxo
Ex-aluna da Escola Secundária do Cartaxo, Andreia Maia, dirigiu-se aos alunos do curso cientifico-humanístico de ciências e tecnologias na passada terça-feira, dia 20 de dezembro, para proferir uma palestra intitulada “Os Falhanços, A Persistência e A Ciência”.
A palestra, que teve lugar no auditório da Quinta das Pratas, teve como principais objetivos elucidar os alunos sobre a realidade dos percursos académicos e profissionais na área das ciências, assim como dar a conhecer experiências de investigação no campo das Ciências Biomédicas e como se desenvolve o método científico.
Com recurso a uma apresentação de PowerPoint e a um registo informal, a ex-aluna deu a conhecer todo o seu percurso académico desde a escola primária até à atualidade. Iniciou os seus estudos na Escola Básica da Lapa (1º ciclo), passando depois pela Escola Básica de Pontével (2º e 3º ciclo) e pela Escola Secundária do Cartaxo (ensino secundário), onde optou por escolher o curso científico-humanístico de ciências e tecnologias. No ensino superior decidiu seguir a licenciatura de Bioquímica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), seguida de mestrado em Biologia Molecular e Genética. Embora à vista grossa este possa parecer um percurso bastante linear, foi, na verdade, repleto de peripécias e contratempos, começando pela entrada na faculdade, onde a aluna apenas conseguiu ser colocada na terceira fase de candidatura. Entre as inúmeras adversidades destacam-se a entrada na faculdade dos seus sonhos, a busca por laboratórios onde realizar a experiência defendida na sua tese de mestrado, a candidatura às diversas bolsas de investigação e novamente a busca por laboratórios, mas desta vez nos Estados Unidos da América (EUA), onde iria desenvolver o seu doutoramento.
Perante estas dificuldades é difícil manter a moral, sendo as palavras proferidas por Elmer G. Letterman, o novo lema da aluna: “A sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade”.
Destacar-se no mundo das ciências não é tarefa fácil, tendo Andreia decidido envolver-se numa variedade de atividades enquanto terminava a sua licenciatura, entre as quais voluntariado no laboratório da escola durante os tempos livres e férias, desporto e tradições culturais, como o Rancho Folclórico e o concurso da Rainha das Vindimas. Também durante o seu mestrado embarcou em diversos desafios que lhe deram visibilidade e conhecimento – Famelab, Pint of Science – assim como diversos cursos e workshops de escrita e inglês.
Após terminar a sua tese de mestrado começou a trabalhar no Champalimaud Foundation Biobank, pois não pretendia iniciar de imediato um doutoramento.
Andreia Maia, atual investigadora na Fundação Champalimaud, encontra-se a meio do seu doutoramento em Ciências Biomédicas, o qual se baseia na investigação de uma imunoterapia para o cancro do pâncreas através de células do sistema imunitário humano-as natural killers (NK), em português, células assassinas. Encontra-se em Boston, nos Estados Unidos da América, a desenvolver o seu estudo no Dana-Farber Institute Harvard Medical School, Gene Manipulation and Therapy Laboratory, sendo bolseira da Fullbright.
A imunoterapia desenvolvida pela jovem é uma CAR T – cell Therapy, na qual células do sistema imunitário são geneticamente alteradas de modo a produzirem um recetor artificial contra a proteína típica do tumor do pâncreas (antigénio). Ao invés de utilizar células T, como o nome indica, a investigadora utiliza células NK, referidas anteriormente. Estas são células imunes citotóxicas que demonstram capacidade de reconhecer células malignas sem a necessidade de reconhecimento prévio de um antigénio específico, contrariamente às células T. Ao isolar estas células juntamente com tumores sólidos, expandindo-as in vitro, a investigadora será capaz de melhorar o seu direcionamento e as capacidades citotóxicas contra células tumorais.
Sem dúvida um método inovador que, uma vez chegado a Portugal, irá alterar por completo a luta contra o cancro. Andreia é pois um bom exemplo de grandes cientistas portugueses que se encontram um pouco por todo o mundo a fazer a diferença.