Os Fornos de Cal

Opinião de Zelinda Pego

A cal, tão utilizada na construção, caiação, e até na agricultura, a calda bordalesa, mistura de cal com sulfato de cobre, com que se curavam as vinhas contra o míldio e o oídio, teve certamente um papel importante na economia de Pontével no séc. XVlll.

Após o terramoto de 1755, inicia-se a reconstrução de Lisboa, onde a cal era um elemento imprescindível; a cal, obtém-se pela calcinação de pedra a elevadas temperaturas, cerca de 850 graus centígrados. As pedras, são introduzidas num forno, uma construção abobadada com orifícios laterais para a oxigenação e uma outra abertura no cimo do forno por onde sai o fumo branco o que indica que as pedras já se transformaram em cal; transformação esta que durava mais ou menos sete dias.

Para que os fornos funcionassem era necessário mato; contudo o rei tinha proibido a limpeza das matas como protecção às caçadas.

Assim um ministro do reino, oficia ao rei, no sentido deste levantar a proibição da limpeza das matas, para que os fornos pudessem trabalhar, para a produção da cal que tão necessária era na capital.

Nesse documento, que envia ao rei D. José, faz uma listagem dos fornos de cal existentes, desde Alverca até Santarém, e indica os que não coziam por não terem mato. Nessa relação constam os fornos de cal existentes em Pontével e diz que alguns até já foram empedrados por falta de mato, como foi o caso do forno das Enxurreiras. Continua a listagem onde são referidos os seguintes fornos: do Casalinho, do Casal do Aguiar, Vale do Silva, do Bugalho, do António Silvestre, da Falagueira, do Casal da Ribeira, do Gaio, do Casal do Pinheiro, do Areal, do S.Gens, e o da viúva no mesmo sítio, do Desembargador, dos Lameiros, do Viso, da Fonte da Telha, do Pedro do Rego, de Nabais, do Carrascal e do Vale da Pedra; todos estes fornos não coziam por falta de mato; o do Francisco Alves e o do Casal do Carreira iam então começar a cozer. Pelo exposto, verifica-se que existiram pelo menos 23 fornos de cal em Pontével, dos quais apenas um, o forno de S. Gens, ainda hoje existe, e em razoável estado de conservação. Embora situado numa propriedade privada, e após a intervenção da Associação Rio da Fonte, os proprietários autorizaram a Junta de Freguesia a limpar o forno e a arrotear a vegetação envolvente a fim de o preservar e torna-lo mais visível, incluindo-o nas Visitas Guiadas à Freguesia. Afigura-se-me que seja o único Forno de Cal existente no concelho do Cartaxo. Bem merecia uma classificação como Monumento de Interesse Concelhio.

*A autora não adopta o acordo ortográfico vigente.

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