Os nossos candidatos

O que pensam e que expectativas têm os quatro cidadãos do concelho do Cartaxo candidatos a deputados pelo distrito de Santarém

Gonçalo Gaspar, Francisco Colaço, Elvira Tristão e Pedro Mendonça

A boa notícia é que todos prometem dar o seu melhor na campanha, na qual afirmam ir entrar com o maior empenho político e pessoal possível. A má notícia é que o concelho do Cartaxo vai seguramente perder voz na Assembleia da República pois o atual deputado com origem no concelho, Vasco Cunha, do PSD, concorre num lugar de suplente na lista da Coligação “Portugal à Frente” não estando por isso em posição de ser reeleito. Nem ele nem os quatro candidatos do concelho que, nos diferentes partidos concorrem em posições nas listas que dificilmente darão lugar a uma eleição. Nem mesmo Pedro Mendonça, cabeça de lista do Livre, pode aspirar à eleição pois as melhores expectativas do partido passam pela eleição de um ou dois candidatos por Lisboa e um pelo Porto. Elvira Tristão, sétimo lugar na lista do Partido Socialista, Gonçalo Gaspar, do PSD, sétimo na Lista da coligação Portugal à Frente, e Francisco Colaço, sétimo na lista do Bloco de Esquerda sabem que apenas uma imensa reviravolta eleitoral, para qualquer dos lados, os poderá levar a São Bento. Afinal o que aconteceu? Estará o concelho do Cartaxo a perder influência e as suas forças políticas não têm poder para colocar em lugar elegível os seus candidatos? “Não”, garantem-nos. Elvira Tristão, que faz questão de sublinhar que na política nunca se moveu por lugares “mas por causas e convicções políticas” dá como justificação o facto de assembleia ser “de toda a República”. Mas concorda que “é importante que uma determinada comunidade se sinta representada de alguma forma nos órgãos da República. De facto temos tido um deputado nestes últimos 20 anos, do PSD, mas também temos tido outros lugares de destaque na governação da República, um secretário de estado que bisou, Conde Rodrigues, e uma secretária de estado da educação que foi Ana Benavente. Não estando o concelho representado, temos Almoster aqui ao lado e sabemos que não sendo a candidata Idália Serrão do concelho do Cartaxo ela é do concelho de coração”.
Pedro Mendonça, pelo seu lado, assegura que em democracia está “sempre em posição de ser eleito”. “Quando estamos certos de estarmos a tentar fazer o melhor pela região e o país, desânimo não é uma palavra em que pense. A beleza da democracia é a última palavra ser sempre a dos cidadãos”. Já Gonçalo Gaspar coloca a questão a dois níveis “o nível autárquico e o político”. Para o candidato “era importante que a nível autárquico o Cartaxo ganhasse força para bater o pé ao nível intermunicipal. Acho que isso se foi perdendo na última década. A nível partidário não creio que tenha perdido peso. Veja-se o caso do PSD que a nível distrital, nos últimos dez anos, teve um presidente que é do Cartaxo”. A questão também é rejeitada por Elvira Tristão que lembra que “a concelhia do PS do Cartaxo ainda continua a ser a maior do distrito em termos numéricos. A questão passa por critérios diversos, que são muitos. Não me vou pronunciar sobre eles porque o fiz em sede própria”, garante.
As eleições
Afinal, quisemos saber, são estas eleições mais importantes que outros atos eleitorais. Também aqui, curiosamente, há um consenso entre os nossos candidatos, embora como é natural, por motivos diferentes. Francisco Colaço não tem dúvidas de que estas eleições são “muito importantes”. “Estamos no marco de uma governação delinquente que tem destruído o país e criado as maiores dificuldades à vida das pessoas, jovens sem emprego, reformados a quem “roubam” as reformas, casais que são despejados por incapacidade de pagar a renda da sua casa, estudantes que têm de abandonar os estudos no ensino superior por não poderem pagar, uma saída de milhares e milhares de jovens com formação que têm de buscar futuro lá fora, porque a sua própria terra (o governo) os expulsa e manda sair do país. É fundamental ir votar. É o futuro ou o abismo que está em jogo”, afirma. Embora considere que “todas as eleições são vitais para a nossa vida em comunidade”, Pedro Mendonça considera que “vivemos um tempo trágico. Os cidadãos devem tomar a política nas suas mãos nestas eleições vitais para o país e para a Europa. Neste ato eleitoral os cidadãos têm a opção de continuar com as mesmas políticas ou de mudar para novas políticas mais humanas, mais sociais e que pensem mais nas pessoas, nas suas vidas e no futuro. É um momento chave para o país”. Elvira Tristão vai mais longe e afirma que “estas serão talvez as mais importantes eleições dos últimos 30 anos porque”, considera, “o que está em causa é uma tentativa do atual governo de mudar aquela que é a nossa identidade constitucional”. Gonçalo Gaspar também sente que as eleições têm grande importância. “Para a minha geração e para o país. Para a minha geração porque estes quatro anos foram extremamente complicados. Todos nós sofremos com a austeridade. Mas a austeridade não caiu do céu. Foi uma consequência de nos últimos anos ter havido uma governação danosa que colocou o país de mão estendida. Temos aqui um termo de comparação do que havia há quatro anos e do que temos hoje. As coisas são claras, houve uma evolução importante e sustentável. De facto estas eleições são especiais mas não é para o meu partido nem para a coligação. São especiais para a minha geração e para o país”, remata.
O eleitorado
Bom, a importância das eleições parece óbvia para os políticos, mas será que o cidadão pensa da mesma maneira? Será que os políticos se dão conta que há um alheamento e uma desconfiança generalizada em relação à classe política? Pedro Mendonça concorda e garante que “é por isso mesmo que estou de corpo e alma com um movimento cidadão, onde quem manda são os cidadãos e não as comissões políticas e os profissionais da política. Eu estou farto de muitos políticos e por isso me candidatei. Estou farto das políticas vigentes e por isso quero participar na mudança. Considero mesmo que a muitos partidos interessa esse afastamento dos cidadãos pois assim podem indicar quem querem para mandar. Tem-se promovido o afastamento dos cidadãos para depois os amedrontar e chantagear com ameaças de que se houver mudanças haverá o caos e a fome”. Francisco Colaço tem uma posição idêntica. Existe bastante desencanto, mas também existe uma prática política propositada tendente a que o comum das pessoas deixe de votar, sobretudo as desiludidas e as que vivem cheias de dificuldades, o que abre caminho a que só uma franja muito reduzida vote. E fundamentalmente as clientelas políticas, essas vão sempre votar, há empregos e outras nomeações em jogo. Creio ser um erro as pessoas não irem votar, seja em quem for. Não votando coloca-se nas mãos das clientelas partidárias a decisão final sobre a governação”. Gonçalo Gaspar reconhece que as pessoas têm “uma grande desconfiança daquilo que todos os partidos políticos apresentam. Essa desconfiança leva à indecisão. Temos de ter em conta que há um eleitorado tradicional e há o flutuante. É este eleitorado que decide quem vai ganhar. E acho que os partidos todos têm de deixar de falar o politiquês e começar a falar português e começar a falar para as pessoas. E falar através de factos. A política também se faz de factos e de resultados e é através deles que as pessoas começam a refletir e a decidir em quem votam. Acho que as pessoas estão afastadas dos partidos mas continuam a achar que o seu voto é útil e tem consequências, boas ou más, mas essa é uma regra da democracia”.
As bandeiras
Embora já tenhamos visto que os “nossos” candidatos dificilmente poderão chegar a São Bento para defender os interesses do Concelho, sabemos que vão entrar em campanha e nada melhor que ter uma bandeira política, apesar de sabermos que todos, a ser eleitos, estariam a desempenhar funções nacionais. Mas e o Concelho? O que é que cada um se propõe levar para Lisboa em defesa do seu concelho de origem?
Elvira Tristão, professora, não hesita e escolhe a educação, que é um tema nacional mas de que o concelho poderia beneficiar. “Há muito a fazer na educação. Há que assumir alguns erros do passado, corrigi-los com bom senso e retomar algumas bandeiras que foram grandes desafios políticos do PS na área da educação e tão maltratadas têm sido. Sobretudo a escola pública. Não posso admitir que inúmeras pessoas que fizeram o dumping social e que o fizeram graças à escola pública sejam hoje defensoras do ensino privado. O ensino privado faz sentido, não sou contra mas entendo que é ao estado que compete zelar pela educação de todos em igualdade de oportunidades”. Embora também na área da educação, a escolha de Gonçalo Gaspar é a “Escola Secundária do Cartaxo”, o jovem político não deixa de referir que estar no parlamento é legislar a nível nacional, para todos os cidadãos, mas a situação da Secundária do Cartaxo, que segundo recorda, é uma matéria que o preocupa desde o tempo em que presidia à JSD do Cartaxo, precisa de solução urgente. “Já é tempo mais que suficiente para a Escola Secundária passar por uma requalificação. A escola estava na quarta fase de requalificação do programa da Parque Escolar. Esse programa foi suspenso porque se gastaram milhares de euros em obras sumptuosas e houve escolas que não conseguiram ver as suas instalações recuperadas. É preocupante ver o estado de degradação. A escola por onde passaram várias gerações de cartaxeiros merece ter uma cara lavada e uma estrutura que sirva os professores e os alunos”.
Nesta questão Francisco Colaço tem uma posição nacional mas também com o concelho na mira. “Como sem dinheiro não se pode prometer nada”, afirma, “seria fundamental a alteração do sistema de endividamento dos municípios, que está a asfixiar o concelho. Para resolver a questão da dívida em que a gestão Caldas/Varanda deixou o Município do Cartaxo e que está a atrofiar a gestão diária, a impedir o desenvolvimento das políticas sociais tão necessárias, há que renegociar a dívida com o governo central e esse pode ser um papel fundamental para um deputado que se interesse pelo Cartaxo. Desenvolver o concelho, modernizando-o, virando-o para o Tejo, e para a fixação de empresas tecnologicamente desenvolvidas que criassem emprego de qualidade. Um deputado pode e deve, nos seus contactos internacionais, dar a conhecer o seu concelho e atrair investimento moderno e de futuro. Ser deputado não é um emprego, uma carreira, ser deputado é uma função nacional, de interesse público e temos de nos mexer, para que quem em nós votou não se sinta defraudado. Por exemplo, prescindiria do meu salário de deputado. Defendendo, no parlamento, uma descida, moralmente justa, dos salários dos cargos públicos, como o de deputado”. Já Pedro Mendonça não distingue umas bandeiras das outras. “As bandeiras do concelho são as bandeiras do país: mais rigor, melhor trabalho, saúde para todos, educação para todos, Mais ecologia e uma política de transportes públicos que permita a mobilidade para todas as bolsas. Porque é tão difícil e caro viver no Cartaxo e trabalhar em Lisboa?”, questiona.
A abstenção
Outra questão preocupante mas que une estes políticos de áreas tão diferentes, são os valores da abstenção. Num inquérito aos cartaxeiros que o Jornal de Cá levou a cabo nos últimos dias, em entrevistas de rua e online (ver página 9) há uma maioria de cidadãos que já sabe em quem vai votar e que garante ir no próximo dia 4 de outubro exercer o seu direito de voto. No entanto, a crescente subida dos números da abstenção (36% em 2005, 40% em 2009 e 42% em 2011), não pode deixar de preocupar os nossos políticos.
Apesar disso Pedro Mendonça entende que falar de abstenção “é entrar na futurologia” coisa que garante que não gosta. Mas acaba por justificar uma eventual subida da abstenção “por duas razões: pelo desânimo dos cidadãos e por os cadernos eleitorais estarem num estado deplorável. Esta última razão demonstra bem o desrespeito que o Estado e o Governo português têm pela democracia. Qualquer dia há mais gente nos cadernos que no país”, afirma com ironia. Quanto a Francisco Colaço, deixa escapar um imediato “espero que não” pois para o candidato do Bloco “o que há para decidir é demasiado importante, é a nossa sobrevivência como país com unidade cultural, social e territorial. É o futuro que se decide a 4 de outubro”. Sem hesitações Gonçalo Gaspar classifica a abstenção de “gritante” e mostra-se preocupado com o aumento do fenómeno em camadas mais jovens de eleitores. No entanto acredita que “os jovens começam a ter uma consciência mais crítica e uma participação cívica mais ativa, não obrigatoriamente através dos partidos políticos. Hoje entra-se numa universidade e os jovens fazem política. Cabe aos jovens nestas eleições tão importantes para o seu futuro dar um sinal sobre o que é que querem para o seu país e para as suas vidas”. Esta decisão e, sobretudo, esta discussão é o que Elvira Tristão preconiza como mais importante de entre todos os temas que abordámos. “Sinto que hoje em dia se dá mais importância à forma do que ao conteúdo. As pessoas andam preocupadas com as sondagens, com os slogans e os cartazes e não se discute o que é verdadeiramente importante: qual é a ideia que cada um dos partidos tem para o país. Mais que resolver problemas económicos é urgente saber que sociedade é que nós queremos. O que queremos ser como país”. Espera-se que parte da resposta a esta questão seja dada por todos nós no dia 4 de outubro.

 

LivrePedro Mendonça
Cartaxeiro, 42 anos, licenciado em Relações Internacionais, membro da Amnistia Internacional, A.M.I., DECO e do LIVRE. É Republicano, Laico, Socialista, Europeísta e Ecologista.
Trabalhou no Teatro da Trindade, foi Diretor artístico do Centro Cultural do Cartaxo, Assessor do Diretor do Teatro Nacional D. Maria II, fez assessoria de imprensa ao Ministro da Cultura do XIV Governo Constitucional e coordenou a comunicação da Fundação INATEL. Encontra-se de momento a trabalhar na INATEL Turismo, em comunicação e novos produtos turísticos.
Exerceu funções autárquicas na Assembleia Municipal do Cartaxo, eleito em 2009 enquanto militante do Bloco de Esquerda.
É membro e porta-voz da Comissão de Trabalhadores INATEL, representante de cerca de novecentos trabalhadores distribuídos por todo o país. É Benfiquista.

 

Partido-SocialistaElvira Tristão
Tem 48 anos, é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses – Ramo Educacional) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e leciona no Agrupamento de Escolas D. Sancho I. Professora do ensino básico e secundário desde 1988, desempenhou funções técnico pedagógicas no Centro da Área Educativa da Lezíria e Médio Tejo (1996/97) e na Equipa de Apoio às Escolas da Lezíria do Tejo (2007/08). Foi Vice-Presidente da Comissão Instaladora e do Conselho Executivo da Escola Básica 2.3 de Pontével (1997-1999) e da Comissão Executiva Instaladora do Agrupamento D. Sancho I (2001/02).
Sindicalizada desde 1992, foi eleita  para o Conselho Geral do SPGL (Sindicato dos Professores da Grande Lisboa) em maio de 2015. Autarca desde 1994, é membro da Assembleia Municipal do Cartaxo pelo Partido Socialista. Militante desde 1995, é, desde dezembro de 2014, presidente da comissão política do PS Cartaxo. Foi membro da Assembleia Municipal do Cartaxo entre 1994 e 2001, órgão e Vereadora entre 2002 e 2005.
É Mestre em Administração Educacional pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, desde 2009. Encontra-se a concluir o doutoramento em Administração e Política Educacional no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

 

pafGonçalo Gaspar
Tem 29 anos, é natural de São Jorge de Arroios mas fez toda a sua juventude no concelho do Cartaxo, onde reside e casou. Licenciado em Direito e Pós Graduado em Direito do Trabalho, o seu percurso profissional como Advogado-Estagiário e como Jurista tem sido feito nas áreas do contencioso bancário, administrativo e laboral. Já desempenhou funções técnicas na área dos fundos comunitários destinados à juventude e encontra-se neste momento a desempenhar funções como Técnico Especialista no Gabinete da ministra da Administração Interna.
É Vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD, Presidente da Comissão Política Distrital da JSD Santarém, Vice-presidente da Comissão Política Concelhia do PSD Cartaxo e Conselheiro Nacional do PSD. Faz parte da Assembleia Municipal do Cartaxo em regime de substituição.

 

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Logo Bloco 2Francisco Colaço
É lisboeta, natural da Mouraria, 56 anos. Frequentou o curso de História na Universidade
Aberta. Ideologicamente define-se como democrata, republicano, laico e socialista.
Desde os 15 anos de idade que intervém cívica e politicamente. Pertenceu à Aliança Socialista da Juventude. Foi sindicalista na indústria vidreira onde trabalhou 20 anos. Integra o Bloco de Esquerda desde a sua fundação. Foi dirigente nacional, membro da Mesa Nacional e atualmente é membro eleito do departamento Internacional e dirigente distrital em Santarém. Foi autarca no Cartaxo e candidato à Câmara Municipal.

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