O poder local democrático tem sido o garante do desenvolvimento dos territórios e das comunidades e um dos principais mecanismos de formação cívica, e “escola” de cultura e participação democráticas.
O concelho do Cartaxo foi governado por listas de eleitos do Partido Socialista durante 46 anos e, em 2021, a maioria dos eleitores decidiu dar uma maioria inequívoca às listas do Partido Social Democrata. Muito poderemos dizer sobre o que levou a esta mudança, cada um de nós, partindo da sua experiência pessoal e do seu ponto de vista. Mas o que importa salientar é que se trata da democracia a funcionar.
Durante 46 anos os homens e mulheres que deram a cara pelo Partido Socialista na sua terra fizeram-no dispostos a contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos seus concidadãos. Muitos deles saberão hoje identificar o que correu mal, mas, à época, acreditaram na capacidade das suas lideranças ou, desacreditando-as, assumiram a reserva do silêncio. Durante os mesmos 46 anos, outros tantos homens e mulheres acreditaram ser as suas equipas as mais preparadas e não desistiram de exercer legitimamente a sua oposição. De entre eles, muitos jovens que hoje fazem parte do grupo de homens e mulheres a quem foi dada, pelos eleitores, a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento do concelho. Em alguns projetos estruturantes, como a reabilitação da Escola Secundária do Cartaxo ou a Rua Serpa Pinto, dando continuidade ao trabalho dos seus antecessores, noutras planeando e executando o que entendem fazer falta no concelho. Faz parte e é o que se espera.
O que é doentio é que aqueles que agora apoiam o novo executivo e maioria social-democrata destratem aqueles que antes desempenharam as mesmas funções com a mesma dedicação e convicção. Como se, por terem perdido eleições, deixassem de ter direito ao exercício da sua cidadania. Como se estivessem obrigados ao silêncio. De facto, muitos o fizeram. Convenientemente para deixarem de ser ofendidos pelos apoiantes dos adversários nas redes sociais, e convenientemente para estes últimos, porque o silêncio das oposições é garantia da longevidade da manutenção do poder.
Também eu convenientemente deixei de escrever sobre assuntos da atualidade local e confinei-me aos temas da educação. Mas nem assim me livrei das sequelas de ter sido autarca, que “aqui e ali”, desconfio, têm “apimentado” o meu exercício profissional. Ao ponto de ter ponderado deixar de colaborar com o Jornal de Cá. Mas sei por experiência (própria e alheia) que os silêncios convenientes são erva daninha para a democracia.
Vem esta reflexão a propósito de um texto de opinião em que um jovem socialista (deputado municipal) foi destratado só porque expressou o seu desagrado pela resposta do presidente João Heitor a uma deputada municipal. Outros jovens o fizeram, no passado, relativamente ao então presidente Pedro Magalhães Ribeiro. Vivemos em democracia e é salutar que os jovens participem, democraticamente e em liberdade, nas causas públicas, estejam eles do lado do poder ou da oposição. Que o saibamos fazer todos com urbanidade, olhos nos olhos e assinando por baixo.
Quanto a mim, até ver, e até porque celebramos em abril 49 anos de democracia, continuarei a expressar as minhas opiniões, enquanto o convite da diretora do Jornal de Cá se mantiver e a vontade persistir. E quanto ao texto do jovem socialista, creio que o jovem presidente João Heitor lhe vai dar a importância que este merece, porque acredito que também é um democrata e um homem de bem.