Nos últimos anos assistimos à emigração de muitos amigos e familiares. A crise empurrou Portugueses para fora, espalhando a palavra saudade pelo mundo, como sempre fizemos. Motivou-os a falta de trabalho, a necessidade de encontrar um lugar onde pudessem criar um futuro mais promissor.
A história repete-se. No passado, alguns emigrantes voltaram carregados de sotaque e poupanças ou desilusões às costas. Mas muitos outros foram ficando, integrando-se noutras culturas, criando novas raízes.
Esta nova geração de emigrantes é diferente. Bem preparada, conhecendo outros idiomas, muitas vezes com uma formação igual ou superior aos dos locais para onde emigram. Conheço alguns; jovens médicos, de futuro brilhante, mas agora longe de nós.
Mesmo assim, por mais preparados que estejam, ficamos preocupados quando partem. Será seguro? Serão bem acolhidos? E que tamanha preocupação seria essa se emigrassem a pé, com fome, ao frio, com crianças ao colo? Os motivos destes outros emigrantes são outros. A guerra, a fome, a intolerância radical. Não há regresso possível no imediato. Já não teriam casa, seriam considerados traidores. Por isso lhes chamam refugiados, os que buscam refúgio.
Não teremos lugar para alguns destes refugiados? Continuamos com a nossa vida difícil? Verdade. Temos portugueses que passam fome? Verdade. Mas quem acredita que é por recebermos alguns milhares de refugiados que a vida destes portugueses fica mais prejudicada?
Não devíamos precisar de assistir à barbárie de crianças afogadas para alertar consciências. E quando nos dividimos sobre a necessidade de ajudar os refugiados, esquecendo que já necessitámos tantas vezes da solidariedade de outros povos, perdemos a razão. Ficamos portuguesinhos, reduzidos à dimensão de um pequeno pais periférico com menos habitantes que Londres. Esquecemo-nos que somos mais que isso. Que somos um país com milhões de portugueses espalhados de norte a sul e de este a oeste. E que em tempos também procuraram noutras terras um futuro melhor.
Por isso será normal que tratemos os refugiados como gostaríamos que tratassem os nossos filhos e amigos que emigram. Nem mais, nem menos.