Para quem?

Opinião de Frederico Corado

Sempre que começo a pensar um espectáculo começo por pensar no que quero dizer, no que quero contar e penso imediatamente a quem o vou dizer ou contar. Qualquer espectáculo começa com o desejo, com um texto e só depois toma forma, seja um texto original ou um texto escrito por outro.

No entanto o “para quem” anda na minha cabeça de um lado para o outro durante todo o tempo de preparação, de ensaios, de estreia e de carreira de um espectáculo, mesmo até ao último dia. Um espectáculo tão desejado, preparado minuciosamente, trabalho e burilado até ao mais pequeno pormenor foi feito para quem? Quem ocupa as cadeiras daquela plateia? E será que estou a falar a linguagem correcta para quem ali se senta? Será que me percebem? Mas será também que as linguagens terão de ser moldadas conforme os públicos ou os públicos deverão ser expostos a coisas às quais estão menos habituados? Como escreveu Eduardo Prado Coelho, “um poema, uma sinfonia, um quadro, um filme, um romance, que se dirigem a um público determinado e calculado à partida não são nem um poema, nem uma sinfonia, nem um quadro, nem um filme, nem um romance (…) São, quando muito, salsichas em forma de poema, de sinfonia, de quadro, de romance”.
Este pensamento e esta necessidade de formar públicos, de os expor a diferentes modos de teatro, de os fazer ver, é uma das razões que nos levou a criar um projecto chamado “Teatro na Escola” que começa agora nas escolas do Cartaxo. Será que mostrando o “como se faz” daqui a uns anos conheceremos melhor o “quem” que ocupará as plateias dos nossos teatros

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