Será que nos importamos com o que se passa no mundo ou “passa-nos ao lado”? Confrontados com um questionário de rua sobre cultura geral, vários estudantes universitários demonstraram que, pior do que terem uma cultura geral medíocre, o desinteresse pelos grandes temas da sociedade é gritante. Expressões como “não é comigo” e “não ligo a essas coisas” são comuns nesta geração, onde ir ao Google dá as respostas básicas que precisam. O saber está a tornar-se obsoleto e a informação a pedido, à distância de um clique ou de um scroll num ecrã. E os temas são varridos com igual distanciamento, sejam artes, religião, desporto, política ou a cultura geral no seu todo, a todos cabe um “não é comigo”. Respiremos.
Afinal o que liga estes jovens? Que interesses os movem e merecem ser sabidos e pertencerem ao curto leque de assuntos que sejam “comigo”? Será que estudar é com eles? Ou fazem-no porque sim e não haver, para já, outro caminho para chegar mais longe e poder almejar a um emprego ou trabalho futuro?
Algo parece evidente. Os jovens estão desconectados com o mundo lá fora e a perceção deste chega-lhes enviesada pelas redes sociais e pela ligeireza liquida que inunda a web. Tudo é perene, rapidamente substituível e mais facilmente esquecido. As matérias das muitas disciplinas são encaixadas para darem resultados e rapidamente votadas ao esquecimento. O saber já não ocupa lugar. Existe, a espaços e apenas enquanto interessa. Depois é descartado sem pudores pois a espuma dos dias é feita de coisa nenhuma, apenas cabem o fútil, a posse, a pertença a qualquer coisa que os ligue num mundo em desconexão.
Nestes tempos em que tudo é posto em causa sem conseguirmos construir a receita para tantos males, não estamos a conseguir dar aos jovens nem a segurança no futuro, nem tão pouco a convicção de que vale a pena o esforço, o saber e o mérito. O mundo está cheio de guerras, de protestos, de corrupção e falta de líderes e exemplos. E à nossa escala, de sabedoria e inteligência nas propostas que fazemos para o futuro dos mais novos. Velhos modelos, problemas recorrentes e perspetivas quase zero, caindo tudo numa luta desenfreada por um lugar ao sol e uma oportunidade digna. Pelo meio a estrutura familiar transformou-se e deu lugar a híbridos dificilmente comparáveis mas que coabitam lado a lado nas salas de aula. Pais pressionantes e que exigem que a escola faça o que eles manifestamente não podem, não querem ou não sabem fazer, gritando nas bancadas pelo lugar ao sol dos seus petizes e os que por razões várias nunca aparecem, não podem ou não querem saber, deixando que os seus filhos se perpetuem na escola, sabendo de antemão que não podem ser chumbados para sempre e que mais cedo que tarde irão obter os mínimos. Incrédulos, vemos estes adolescentes de smartphones topo de gama na mão, como um apêndice que lhes cresceu e sem demonstrarem particular preocupação com o mundo que os rodeia. O mundo é aparentemente fácil apesar de a evidência demonstrar o contrário todos os dias.
E nós, pais, que culpas temos neste cartório? Muitas, por certo, e cabe a cada um fazer a sua parte dentro de portas. Lá fora está um mundo cada vez mais seletivo e em que muitas corridas estão em curso simultaneamente. Umas são mais visíveis do que outras mas a conjugação das suas ligações, imponderáveis e imprevisíveis, ditará boa parte do futuro destes jovens virados sobre si mesmos, ligados virtualmente a grupos de tudo e nada e a crescerem sem referências fortes, impactantes e duradouras o suficiente para lhes despertarem a atenção e os retirarem desta sonolência perigosa onde vão caindo. A vida parece estar ligada por fios finos e frágeis e o futuro parece que, para muitos, lhes irá, infelizmente, “passar ao lado”.