Pedrada no Charco

Opinião de David Estêvão

Esta é a época do reencontro com todos aqueles já não vivem cá e procuram insistentemente manter aceso o vínculo que a liga à sua terra como se um desígnio biológico os obrigasse a vir todos os anos. Na reta final do ano a nostalgia e retrospetiva são inevitáveis, mas o olhar pelo retrovisor não nos pode impedir de ver qual o caminho a seguir nos próximos tempos

Falo particularmente da Freguesia de Valada. Como sou de Valada só poderei falar, com maior propriedade, do que vejo acontecer em Valada nesta altura do ano e daquilo que não quero ver no próximo ano. Tentarei fazê-lo de forma compacta, apesar de a capacidade de síntese não constar na minha lista de qualidades.

A memória e presença daqueles que continuam a regressar dão o nome a esta terra. Porque Valada, não é só Valada. Valada é a Valada daqueles que se recusam a deixar de regressar. Assim como aqueles que continuam a regressar, não são só aqueles que regressam, são aqueles que regressam a Valada. E se Valada é especial também aqueles que a ela regressam o são.

Nesta época aproveita-se para pôr em dia a conversa que fica adiada, muitas vezes. O espetáculo da Natureza oferecido pelo leito do Rio Tejo nos passeios que se aproveita para fazer no dia de Natal fazem parte do espetáculo do Natal. O espetáculo de cores a que se assiste torna menos geniais os quadros de Van Gogh ou as paisagens difusas do senhor Turner

Incrível a arrumação feita pela natureza e, quem sabe, pelo acaso numa composição tão bela, encantadora, emocionante até.

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Mas depois o lado pragmático da mente invade-me, cada vez mais, e faz-me ver que se bebesse um copo da água do Tejo que passa em Valada, provavelmente morreria, que a zona ribeirinha de Valada não tem quaisquer regras de utilização e os diques que permitiriam passear junto ao rio não são intervencionados há décadas.

O pacto narrativo estabelecido quando se ouve todas desculpas esfarrapadas para o adiamento de soluções concretas para as estruturas existentes em Valada que estão na dependência da Associação Portuguesa do Ambiente – demora no licenciamento de estruturas, falta de informação acerca de concurso na cedência de espaços, regras pouco claras na utilização de espaços, falta de manutenção dos próprios edifícios, ao longo de anos muitas vezes de décadas e a falta de esclarecimentos e de visitas a estruturas tuteladas pela própria Associação – não terá mais a minha complacência.

São demasiados anos a adiar soluções para sentir, enquanto Valadense, que a Freguesia onde vivo é minimamente respeitada. É inaceitável para a Freguesia de Valada, para os que lá vivem e os que lá regressam e para todos aqueles que se arrogam de possuir uma consciência ambiental.

Como disse, inicialmente, nesta época do ano a retrospetiva não deve impedir a capacidade de projetar o futuro. Pessoalmente é a altura do ano em que escrevo a lista coisas que não estou disposto aceitar no ano de 2019. Não aceitarei a conversa do incompetente, que arranja um série de obstáculos para não otimizar as estruturas existentes na Freguesia de Valada.

No primeiro trimestre de 2019 deverá ocorrer uma reunião entre os responsáveis do Município do Cartaxo e o diretor regional da Agência Portuguesa do Ambiente. Aguardo ansiosamente pelos resultados dessa reunião.

Não sendo a crónica mais apropriada para esta época, “uma pedrada no charco” pode, por vezes, constituir o melhor presente!

*Artigo publicado na edição de janeiro do Jornal de Cá.

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