Nuno Nogueira, vereador do PSD, e Pedro Ribeiro, presidente da Câmara do Cartaxo, travaram-se novamente de razões sobre o processo Cartagua, na reunião de Câmara de segunda-feira, 18 de fevereiro.
A ‘troca de galhardetes’ foi motivada por uma questão colocada pelo vereador sobre o 3º aditamento ao contrato de concessão da água e ao relatório da ERSAR. O vereador quis saber se “o Município do Cartaxo tem feito algum acompanhamento, após o relatório, qual tem sido a atividade do Município em relação a isto, e se, decorrente desta situação, o Município do Cartaxo deu conhecimento aos consultores económico e jurídico e qual foi a resposta, caso tenham sido consultados”.
O presidente da Câmara começou por esclarecer que a Divisão de Obras está “a tratar do contraditório e, nesse tratamento, tem total liberdade para, se houver necessidade de recorrer aos consultores económicos e jurídicos, poderem fazê-lo. Ainda não estamos nesse ponto, eles estão, detalhe a detalhe, a responder. E também estamos a aguardar o contraditório da Cartagua, que ainda não está finalizado”.
Os ânimos exaltaram-se quando Nuno Nogueira quis saber se, com base no parecer da ERSAR, “o senhor presidente pretende, ou não, de certa forma, culpabilizar, entre aspas, os consultores relativamente a esta matéria”.
“Eu acho que isso era completamente ridículo. O vereador Jorge Gaspar já fez aqui algumas considerações que eu considero ridículas, mas eu acho que ele tem a desculpa de não ter acompanhado o processo como nós acompanhámos durante quatro anos. Eu acho que isso é desculpável para quem não acompanhou. Não o tenho de má-fé, portanto, só posso remeter para a ignorância dos factos e daquilo que foi este processo. O senhor vereador tem outra responsabilidade porque acompanhou e sabe o trabalho que aquilo deu”, disse Pedro Ribeiro, acrescentando que, “em primeiro lugar, seria injusto culpabilizar consultores que eu acho que fizeram um trabalho extraordinário; em segundo lugar, está por demonstrar se os nossos consultores erraram; em terceiro lugar, a ERSAR teve oito ou nove pessoas a trabalhar nisto, nós tivemos uma, porque não tínhamos capacidade para pagar mais e ele, ainda assim, se errou, foi por 0,3 a TIR, o que também é ridículo estar a apontar e com uma estratégia culpabilizante”.
Pedro Ribeiro realçou que os seus executivos se preocuparam em dar transparência a este processo, dizendo que “estou em crer que se aquele que foi o número um da lista do vereador Nuno Nogueira no anterior mandato tem feito um por cento daquilo que a gente fez para dar transparência a este processo, hoje não era um problema. Estou em crer que se quem presidiu a esta Câmara fizesse a pressão que nós fizemos junto da ERSAR para auditar este contrato não teríamos tido, também, a ERSAR a validar este contrato, nem a ERSAR nem o Tribunal de Contas”, ao mesmo tempo que lembrou que “o PS não tinha maioria absoluta, todas as estratégias foram definidas aqui, em colaboração com toda a vereação, nunca ninguém foi contra a estratégia que estava a ser adotada, nunca ninguém apresentou uma estratégia alternativa”.
A juntar a isto, o presidente lançou críticas aos eleitos do PSD na Assembleia Municipal. “Acho que o exercício do grupo parlamentar onde está o PSD na última Assembleia foi ridículo, na estratégia de culpabilizar aqueles que tiveram coragem de pôr um contrato em causa, que estão a incumprir um contrato desde 2013 por falta de transparência”.
“Isto de vir, no final do jogo, acertar no prognóstico… acho que é um bocadinho triste. E aquilo que o PSD fez na Assembleia Municipal foi uma coisa muito triste. Acho que diz muito do estado do PSD atual, no Cartaxo, e julgo que não foi o prestar de um bom serviço nem um bom reconhecimento aos vereadores Vasco Cunha e Paulo Neves, que estiveram sempre connosco nesta batalha e que foram leais. E a lealdade, em política, independentemente do nosso posicionamento partidário, é uma coisa muito importante, e nestes processos, quando o interesse público está em causa, ainda é mais relevante”, lamentou Pedro Ribeiro.
“Nós não podemos sacudir a água do capote relativamente a isto, porque, ao fim e ao cabo, acabamos todos por ter responsabilidade no desfecho do 3º adicional. Não vale a pena estarmos aqui a fazer sempre o balanço desde 2010 porque nós também estamos cá, sentados à mesa, desde 2013. E é a partir daí que nós também temos de fazer esse balanço. A nossa responsabilidade no 3º adicional acho que é comum”, considerou Nuno Nogueira.
Estas declarações mereceram uma reação pronta de Pedro Ribeiro, que assegurou que “eu não diria melhor, e saúdo mesmo a sua intervenção. Ainda bem que está aqui o líder da bancada da coligação na Assembleia Municipal (José Augusto Jesus, que se encontrava a assistir à reunião), porque houve lá, de facto, um exercício de sacudir a água do capote e imputar àqueles que deram transparência a este processo a responsabilidade da forma como ele foi concluído. Saúdo a sua iniciativa, é a primeira vez que eu vejo alguém ter a coragem de o dizer. Estamos todos no mesmo barco”.
Realçando que só fala “desde que eu estou aqui sentado, desde 2013”, Nuno Nogueira esclareceu que só se vincula “desde 2013 e às minhas ações até ao dia de hoje”.
Lembrando que Nuno Nogueira se absteve na votação do aumento de tarifário, Pedro Ribeiro disse que “você esteve sempre calado”, e que “a única coisa que invocou foi falta de tempo para ler, e esteve um ano e tal até tomar posição aqui, já depois do jogo, quando veio o relatório”.