Eu sou
Uma pessoa de fácil relacionamento. Principalmente sou simpático, humano e leal.
61 anos, professor, casado com a Isabel, pai do André e da Inês. Vive no Cartaxo.
Nasceu em Tresouras, concelho de Baião, mas foi registado em Resende, terra de origem do pai. Viveu em Coruche até aos sete anos. “Já estava destinado a vir viver para o Ribatejo.” Conta-nos António Pinto, professor de História e subdiretor do Agrupamento de Escolas Marcelino Mesquita, no Cartaxo. Foi escuteiro, jogou futebol federado no Grupo Desportivo Castrense e desde novo que toca guitarra. António Pinto confessa que teve “uma infância feliz”. “Sou do tempo em que os nossos pais não se preocupavam porque estávamos na rua. Os miúdos juntavam-se para jogar à bola, brincar e os nossos pais só nos diziam para estarmos em casa a determinada hora. Lembro-me de ir aos pássaros, de ir roubar fruta com o filho do dono da quinta, de ir às cerejas, às maçãs.”
Eu gosto
De tecnologias, de usar o skipe que me permite falar com os meus filhos. Gosto muito de livros, um dos meus grandes prazeres é ler. Gosto de romances históricos. Gosto muito de cinema. De cozinhar, dá-me prazer inventar na cozinha, criar novos pratos. Gosto muito de sopa de coelho e de bacalhau. Gosto do Futebol Clube do Porto. De viajar e de praia.
Os antigos 6º e 7º anos do Liceu foram feitos em Lamego, no Liceu Latino Coelho. Daí seguiu para a Faculdade de Letras do Porto onde se licenciou em História. O namoro com Isabel começa no último ano do curso. “Eu era finalista, com 22 anos, e ela, caloira de medicina tinha 19. Foi um namoro que durou oito anos até a Isabel acabar o curso”.
Eu quero
O que quero acima de tudo é ver os meus filhos felizes e independentes economicamente. Quero Desempenhar num futuro próximo o papel de avô. E continuar a contribuir para a melhoria da educação no Cartaxo.
Quando se licenciou António começou logo a lecionar na Escola Secundária de Castro D’Aire. “Interrompi porque me chamaram para a tropa. Quando fui promovido a aspirante tive a sorte de precisarem de testadores psicotécnicos. E propuseram-me ir para o Centro de Estudos Psicotécnicos do Exército para tirar uma segunda especialidade, com hipótese de ir para o Porto. Ora eu tinha namorada no Porto e acho que nunca estudei tanto para um curso. Tive uma sorte incrível. Fiz dois anos de tropa no Porto e podia namorar à vontade”, recorda.
Eu não sou
Desumano, desleal, não sou antipático. Tento não ser injusto, preocupa-me manter a justiça.
Quando Isabel termina o curso, António decide vir para o Cartaxo. “Concorri para aqui. Viemos em 1988 e casámos em 1989. A minha mulher foi colocada em Santarém a exercer pediatria.” A adaptação do jovem professor à nova vida foi fácil. “Numa fase inicial tive saudades do verde da paisagem porque aqui prevalece o amarelo, os tons secos. Mas passou rápido. Neste momento já me sinto cartaxeiro”, confessa-nos.
Eu não gosto
De ver o meu país a formar jovens e a investir fortemente em Universidades e, de um momento para o outro, esses jovens terem de ir trabalhar para o estrangeiro. De ver os jovens a não ter raízes em Portugal. De responder negativamente às pessoas. De ver alunos com fome na minha escola.
O primeiro filho do casal, André, nasce dois anos depois do casamento e a filha quatro anos depois. Hoje fala com orgulho do percurso escolar dos filhos. “O meu filho fez quatro anos do curso de Farmácia e decidiu que não era o curso que queria e que preferia ir para medicina. A alternativa foi encontrar uma faculdade no estrangeiro. Tenho, por isso, um filho a estudar na Letónia. Está no 2º ano de medicina. A minha filha está também no 2º ano de Veterinária, mas isso foi sempre o que ela quis e está muito bem.”
Eu não quero
Ver o meu país com problemas que não permitam a solidariedade social. Que os meus filhos acabem de estudar, invistam no futuro e depois tenham de voltar à CP, a Casa dos Pais.
Agora que cumpre mais de 30 anos de profissão, sempre a lecionar História a todos os níveis de ensino, e 20 anos ligado à gestão de escolas, António Pinto assume que o seu “interesse dominante foi sempre o ensino”. E anima-se quando fala da profissão. Perguntamos-lhe se é uma profissão desgastante. Diz que não mas vai lembrando que “um professor estuda diariamente. Um professor não é uma sumidade. Tem é ferramentas para investigar e tem sobretudo de saber transmitir”. No dia a dia já começa a encontrar filhos de antigos alunos seus e orgulha-se de já lhe terem dito que determinado aluno seguiu História por influência sua. Netos de alunos ainda não teve mas a vontade de ser avô está cada vez mais forte. “Tenho aqui colegas da minha idade que já foram avós. Falam muito disso. E eu, como sempre gostei muito de criar os meus filhos, sinto que vou ser um bom avô”, garante. O outro desejo futuro é o de continuar a sua carreira ligado ao ensino. “Espero continuar a dar este contributo para a educação. Deu-me muito prazer receber a medalha municipal de 25 anos ao serviço do ensino. Gostei muito dessa homenagem”, revela.
Homem de conversa franca e aberta, António Pinto não esconde o sentido positivo que tem da vida. À pergunta se é um homem feliz, responde sem hesitar: “Sou um felizardo. Não tenho aspetos negativos da minha vida. Tenho os meus pais, tenho os meus sogros. Perdi muito novo a minha avó, em casa de quem passava férias, mas tirando isso mais nada. Sou uma pessoa de bem com a vida. Tenho de agradecer porque a vida me correu sempre bem”.
O perfil de António Pinto foi publicado na revista DADA nº52, edição impressa de outubro de 2014. A idade de António Pinto foi atualizada.
Foto em destaque ©Vitor Neno