Perfil – Elisabete Amado

Eu sou
Uma mulher de negócios, empreendedora, simpática, amiga, apaixonada pela vida, engraçada… (risos) acho que sim, temos de nos valorizar não é? Sou poupada. Muito pacífica. Nunca quis mal a ninguém. Sou um bocadinho insegura. Não entro logo de cabeça nas coisas, tenho de pensar tudo muito bem.

50 anos, empresária, mãe do Diogo. Vive em Vila Chã de Ourique.

Quando percebe que o título deste perfil será o seu nome, Elisabete Amado, pede para trocarmos. “Betinha” diz-nos, “Elisabete ninguém vai conhecer”. Pois fique a saber-se que Betinha nasceu em casa, em Vila Chã de Ourique há 50 anos. Com 5,5 kg “parecia que tinha três meses”, diz-nos a rir. “Tive uma infância feliz e despreocupada”, conta-nos.

Eu gosto
De trabalhar, de conviver e gosto do Benfica. Adoro bacalhau cozido com grão. Gosto de estar ativa. De viajar, conhecer outros mundos, coisas fora daqui. Gostava de ser uma empreendedora de sucesso para dar emprego a muitas pessoas. Gosto de ajudar. Gosto de fazer mergulho, com garrafa.

Betinha Amado é empresária, e quando publicámos este perfil na revista DADA, em 2015, geria uma oficina de transformação de motores a gasolina para gás, onde trabalhava diariamente, mas, entretanto, iniciou um negócio de confeção de bolos e doces tradicionais. “Isso é mesmo o meu sonho de criança. Faço bolos desde que me lembro de ser gente”.

Eu quero
Primeiro quero que me saia o Euromilhões (risos) Quero continuar a ter trabalho. Criar o meu filho e vê-lo crescido, velhote. Quero viver os anos suficientes para o ver bem na vida. Que a nível global as coisas melhorem para toda a gente. Quero que continuem a gostar de mim, porque sei que sou muito acarinhada e quero continuar assim.

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Viúva há dez anos, Betinha continuou com o negócio que montou com o marido em 1995. Fala da transformação de motores a gasolina para gás com a facilidade que a experiência lhe confere. Há até uma ligeira mudança de atitude quando fala de GPL ou de doces conventuais, como se houvesse duas Betinhas, uma que gere um negócio tradicionalmente de homens e a outra que faz magia a recuperar receitas conventuais.

Eu não sou
Egoísta, nem mentirosa. Não sou uma figura importante, nem quero ser, sou uma pessoa normal. Não sou uma fortaleza impenetrável. Tenho as minhas fraquezas. Não sou vaidosa, gosto simplesmente de me arranjar.

No primeiro ano de vida da empresa, Betinha trabalhava no antigo Grémio e depois de sair às seis da tarde ia para lá trabalhar até à meia-noite. “Trabalhávamos muito”, recorda. “Quando abrimos montávamos oito ou nove carros por semana”. Em 2018, Betinha encerrou a empresa para se dedicar à sua paixão que é o ‘cake desing’.

Eu não gosto
De mentiras e falsidades. Da neve, sou friorenta. Gosto de a ver ao longe mas ir lá não.

Conforme vai falando de si, percebe-se que é uma mulher muito dinâmica. “Bastante”, garante “até me custa estar nesta terra. Há muita falta de ação, é tudo muito pequeno. Eu preciso de chegar ao fim do dia e estar cansada de trabalhar. Quando o meu marido faleceu foi uma perda muito grande e ponderei fechar tudo. Mas depois os meus funcionários deram-me a mão. Não tive tempo de fazer luto. Tive a empresa fechada dois dias. O meu marido ensinou-me muita coisa, aprendi com ele que os clientes não têm de sentir a nossa fragilidade. Tenho a certeza que fiz o que ele gostaria. Temos tempo para o nosso luto, há noite, em casa”.

Eu não quero
Mais tristezas, se bem que esteja muito vacinada contra as tristezas. Que me apareça uma doença que me incapacite de fazer as coisas que quero. Perder a minha memória. Morrer sem conhecer um neto. Que o meu cão morra tão depressa. Que ninguém esteja mal.

Há sete anos, foi desafiada pela irmã mais nova, que estava envolvida na organização de uma feira de artes tradicionais, a participar com uma banca onde se vendessem queijadinhas. “Só que eu decidi levar tudo o que de mais sublime havia na doçaria conventual. Levei doces que foi a primeira vez que fiz e saíram-me perfeitos. Levei pão de rala, toucinhos-do-céu, queijinhos conventuais. As pessoas adoraram, levaram-me tudo. A partir daí começaram a surgir encomendas. Agora tenho constantemente pedidos de bolos de aniversário, por exemplo”. Do que Betinha gosta mesmo é de desafios. Quem com ela se cruza não imagina que, por exemplo, tem um curso de mergulho e que um dos sonhos não cumpridos é saltar de paraquedas “se fosse nova hoje, ia para a Força Aérea. Adoro experimentar coisas novas”. Tanta energia nunca a levou a, por exemplo, pensar em fazer política. “Não, isso não. Gosto de ter consensos à minha volta e a política ia trazer-me de certeza alguma inimizades e isso não me agrada”. Mas não se desliga de participar em iniciativas viradas para o exterior e para os outros, como o grupo Pé na Estrada, que formou com a irmã e que às quintas-feiras já tem umas dezenas de aderentes para caminhadas e corridas. “E além disso faço BTT e canoagem. Não paro quieta. Parar para mim é uma doença”.


O perfil de Betinha Amado foi publicado na Revista DADA nº55, edição impressa de abril de 2015. Algumas datas e referências foram atualizadas.


Foto em destaque © Vitor Neno

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