Eu sou
Otimista e muitas vezes bem humorado com os meus amigos. Sou impaciente porque gosto das coisas corretas e feitas com pontualidade. Sou um homem de família e recatado, não tenho excessos. Sou apaixonado pelo futebol. Benquifista, sem doença.
Na conversa com João Barroca, “qualquer conversa” avisa ele, o tema central ou o tema onde quase tudo vai desaguar é o futebol. João Manuel Barroca nasceu no Cartaxo e em miúdo, enquanto estudava na Escola Industrial de Santarém, começou a jogar “à bola”, primeiro nos Leões e depois na Académica de Santarém. Aos 17 anos, júnior, despertou a atenção dos grandes clubes de Lisboa. Como o pai não o deixava ir para o Sporting, e para o Benfica só podia prestar provas no ano seguinte, foi levado a um treino da CUF, no Barreiro. “O Manuel de Oliveira e outros responsáveis da CUF quiseram que lá ficasse, ainda mais por ser junior”, recorda. Foi assim que João Barroca foi estudar para o Barreiro ao mesmo tempo que estagiava no Centro de Formação Profissional da CUF. “Naquela época a CUF era um dos grandes do futebol português. Eu fui para lá porque todos os futebolistas da CUF tinham emprego garantido na Companhia União Fabril. Recebíamos ordenado da empresa e subsídio de jogador de futebol. Treinávamos de manhã e à tarde, e as faltas, se assim lhe podíamos chamar, estavam ali justificadas”, conta-nos. Até aos 24 anos foi então ali futebolista com um interregno para cumprir o serviço militar. “Aquele sonho que eu tinha de criança de ser uma grande vedeta do futebol, não era como eu pensava”, confessa.
Eu quero
Muita saúde, sobretudo para os meus e para os amigos. Que os políticos se entendam e melhorem o nosso país. Quero bons resultados em todas as deslocações dos veteranos do Sport Lisboa e Cartaxo.
Começa então na sua terra Natal uma nova carreira futebolística para João Barroca. “Joguei futebol aqui no Cartaxo, Santarém, Almeirim. Aos 35 anos, no Almeirim, fui convidado para ser treinador-jogador. Aí senti que a carreira de jogador estava a acabar. Só o facto de haver o convite dava indicação disso. A partir daí andei trinta anos a treinar equipas como o Almeirim o Caldas, o Rio Maior, o Santarém e o Sport Lisboa e Cartaxo. Andei sempre a rodar pelas mesmas equipas. Era sinal de que algo lá ficava se não nunca mais me convidavam. Há quase quatro anos afastei-me definitivamente”, confessa, sem deixar de avisar que “acabou o treinador e o jogador mas fica o adepto. Estou ligado, com uma paixão muito grande, aos veteranos do Sport Lisboa e Cartaxo que é um grupo em que nós todos pagamos para nos divertirmos com aquilo de que gostamos, que é o futebol. Vamos jogar de 15 em 15 dias a várias cidades do país, com outros veteranos e é sempre um convívio muito agradável”, revela-nos. Bom, mas se o futebol é o tema preferido de João Barroca o seu pensamento está na família de que se sente muito orgulhoso. Os dois filhos, um do primeiro casamento e outro do segundo que já celebrou trinta anos, são um dos seus motivos de orgulho. “Fico muito feliz por os meus filhos estarem bem. Dão-se os dois muito bem e são muito amigos”.
Eu não gosto
Detesto falta de pontualidade e não gosto mesmo nada que me mintam. Não consigo lidar com a mentira. Não gosto de pessoas facciosas nem de pessoas falsas. Não suporto.
Atualmente reformado, João Barroca deu largas a uma outra arte que desde pequeno o acompanha: a criação e construção de móveis de madeira que lhe ocupa grande parte do dia na oficina que montou para o efeito. Quem o viu nos campos futebol talvez não o imagine na solidão da oficina mas esta atividade tem mais a ver com uma definição que faz de si próprio: “sou um animal de hábitos”, diz-nos. Como curiosidade lembra-nos: “durante 14 anos sentei-me todos os dias no mesmo lugar no Coice da Mula, onde ia tomar o meu café e conversar um bocado com amigos. Agora escolhi outro sítio que me agrada e todos os dias, a seguir ao jantar, passo por lá. Gosto desses momentos”.
Eu não quero
Que haja doenças no mundo nem tantas crianças com fome. Não quero que o Sport Lisboa e Cartaxo fique sem o seu campo, para teinar. E não quero que o Benfica perca muitos jogos.
Embora garanta que “se pudesse ter vivido exclusivamente do futebol não fazia outra coisa”. João Barroca diz, sem hesitar que fez na vida “tudo o que queria fazer”. E explica: “gostava da minha atividade profissional, mas gostava mais de jogar futebol e joguei, quis ser treinador e fui. Só não fui o grande craque que gostava de ter sido, mas isso já se sabe que é difícil”.
Aspirações políticas nunca teve. Chegou a ser sondado mas nunca quis. “Sou um individuo um pouco polémico”, confessa. “A mim o que me interessa é o futebol e a minha vida”, remata. Bem, nós avisámos logo ao início. A conversa tinha de acabar no futebol.
Texto publicado na edição impressa da Revista DADA nº57 de agosto de 2015