Perfil – João Barroca

71 anos, reformado, antigo treinador de futebol, casado com a Fátima, pai do Pedro e do João. Vive no Cartaxo.

Eu sou
Otimista e muitas vezes bem humorado com os meus amigos. Sou impaciente porque gosto das coisas corretas e feitas com pontualidade. Sou um homem de família e recatado, não tenho excessos. Sou apaixonado pelo futebol. Benquifista, sem doença.

Na conversa com João Barroca, “qualquer conversa” avisa ele, o tema central ou o tema onde quase tudo vai desaguar é o futebol. João Manuel Barroca nasceu no Cartaxo e em miúdo, enquanto estudava na Escola Industrial de Santarém, começou a jogar “à bola”, primeiro nos Leões e depois na Académica de Santarém. Aos 17 anos, júnior, despertou a atenção dos grandes clubes de Lisboa. Como o pai não o deixava ir para o Sporting, e para o Benfica só podia prestar provas no ano seguinte, foi levado a um treino da CUF, no Barreiro. “O Manuel de Oliveira e outros responsáveis da CUF quiseram que lá ficasse, ainda mais por ser junior”, recorda. Foi assim que João Barroca foi estudar para o Barreiro ao mesmo tempo que estagiava no Centro de Formação Profissional da CUF. “Naquela época a CUF era um dos grandes do futebol português. Eu fui para lá porque todos os futebolistas da CUF tinham emprego garantido na Companhia União Fabril. Recebíamos ordenado da empresa e subsídio de jogador de futebol. Treinávamos de manhã e à tarde, e as faltas, se assim lhe podíamos chamar, estavam ali justificadas”, conta-nos. Até aos 24 anos foi então ali futebolista com um interregno para cumprir o serviço militar. “Aquele sonho que eu tinha de criança de ser uma grande vedeta do futebol, não era como eu pensava”, confessa.

Eu gosto Da minha família. De sair um pouco à noite para estar com amigos em conversas que acabam sempre no futebol. De um bom bife e de cozido à portuguesa. De uma boa cerveja fresca e de um bom copo de vinho tinto à refeição.

Eu quero
Muita saúde, sobretudo para os meus e para os amigos. Que os políticos se entendam e melhorem o nosso país. Quero bons resultados em todas as deslocações dos veteranos do Sport Lisboa e Cartaxo.

Começa então na sua terra Natal uma nova carreira futebolística para João Barroca. “Joguei futebol aqui no Cartaxo, Santarém, Almeirim. Aos 35 anos, no Almeirim, fui convidado para ser treinador-jogador. Aí senti que a carreira de jogador estava a acabar. Só o facto de haver o convite dava indicação disso. A partir daí andei trinta anos a treinar equipas como o Almeirim o Caldas, o Rio Maior, o Santarém e o Sport Lisboa e Cartaxo. Andei sempre a rodar pelas mesmas equipas. Era sinal de que algo lá ficava se não nunca mais me convidavam. Há quase quatro anos afastei-me definitivamente”, confessa, sem deixar de avisar que “acabou o treinador e o jogador mas fica o adepto. Estou ligado, com uma paixão muito grande, aos veteranos do Sport Lisboa e Cartaxo que é um grupo em que nós todos pagamos para nos divertirmos com aquilo de que gostamos, que é o futebol. Vamos jogar de 15 em 15 dias a várias cidades do país, com outros veteranos e é sempre um convívio muito agradável”, revela-nos. Bom, mas se o futebol é o tema preferido de João Barroca o seu pensamento está na família de que se sente muito orgulhoso. Os dois filhos, um do primeiro casamento e outro do segundo que já celebrou trinta anos, são um dos seus motivos de orgulho. “Fico muito feliz por os meus filhos estarem bem. Dão-se os dois muito bem e são muito amigos”.

Eu não sou Não sou invejoso e também penso que não sou mau rapaz embora saiba que, por vezes, seja difícil agradar a toda a gente.
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Eu não gosto
Detesto falta de pontualidade e não gosto mesmo nada que me mintam. Não consigo lidar com a mentira. Não gosto de pessoas facciosas nem de pessoas falsas. Não suporto.

Atualmente reformado, João Barroca deu largas a uma outra arte que desde pequeno o acompanha: a criação e construção de móveis de madeira que lhe ocupa grande parte do dia na oficina que montou para o efeito. Quem o viu nos campos futebol talvez não o imagine na solidão da oficina mas esta atividade tem mais a ver com uma definição que faz de si próprio: “sou um animal de hábitos”, diz-nos. Como curiosidade lembra-nos: “durante 14 anos sentei-me todos os dias no mesmo lugar no Coice da Mula, onde ia tomar o meu café e conversar um bocado com amigos. Agora escolhi outro sítio que me agrada e todos os dias, a seguir ao jantar, passo por lá. Gosto desses momentos”.

Eu não quero
Que haja doenças no mundo nem tantas crianças com fome. Não quero que o Sport Lisboa e Cartaxo fique sem o seu campo, para teinar. E não quero que o Benfica perca muitos jogos.

Embora garanta que “se pudesse ter vivido exclusivamente do futebol não fazia outra coisa”. João Barroca diz, sem hesitar que fez na vida “tudo o que queria fazer”. E explica: “gostava da minha atividade profissional, mas gostava mais de jogar futebol e joguei, quis ser treinador e fui. Só não fui o grande craque que gostava de ter sido, mas isso já se sabe que é difícil”.

Aspirações políticas nunca teve. Chegou a ser sondado mas nunca quis. “Sou um individuo um pouco polémico”, confessa. “A mim o que me interessa é o futebol e a minha vida”, remata. Bem, nós avisámos logo ao início. A conversa tinha de acabar no futebol.


Texto publicado na edição impressa da Revista DADA nº57 de agosto de 2015

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