53 anos, farmacêutica, casada com o Paulo, mãe das gémeas Maria Beatriz e Maria Margarida. Vive no Cartaxo.
Paula Almeida e Silva é bem conhecida de todos no Cartaxo. Atrevemo-nos mesmo a dizer que não haverá quem não a conheça. E não só por ser uma figura conhecida da Farmácia Abílio Guerra, da qual é proprietária e onde já auxiliou muitas famílias a encontrar um caminho mais fácil por onde seguir, seja em termos de apoio à saúde, como à condição financeira e/ ou social.
Paula Almeida e Silva, mais conhecida cá por Paula Paínho, por influência do apelido do pai, começou a travar os seus conhecimentos e amizades logo de pequena, no Jardim de Infância do Cartaxo (JIC), instituição cofundada pelo seu pai, onde iniciou o seu processo de socialização com outras crianças da terra, de igual para igual. Foi ali que iniciou a sua formação enquanto pessoa, conhecendo realidades diferentes da sua, mas sempre mantendo a máxima de que ali eram todos iguais.
Eu Sou
Tolerante (a minha principal característica); também sou teimosa, mas peço desculpa quando não tenho razão. Sou batalhadora, humilde. Sei guardar segredos.
“Os meus pais sempre me disseram que ali eu era igual aos outros, independentemente da raça, da religião, da política… eu era igual a qualquer menino que estava ali e tanto me dava bem com aquele menino que só comia ali, porque não tinha comida em casa, como me dava bem com aqueles que tinham mais do que eu”, diz a farmacêutica, recordando que “ali fomos, de facto, criados todos por igual. Não havia ali diferenças! Isso levou a que para mim, hoje, me sejam indiferentes as escolhas das pessoas.
Eu Gosto
De pessoas, da sinceridade, da honestidade, da boa disposição. Gosto de ajudar.
Sou muito tolerante! É muito difícil eu julgar uma pessoa” e “não me interessa o estrato social”. E foi precisamente por ter sido no JIC que se iniciou a formação do seu caráter que escolheu o edifício como pano de fundo para ilustrar este artigo. Para além disso, confessa, “há uma razão emocional, porque eu digo sempre que os meus pais tiveram três filhos: eu, o meu irmão e o JIC”. E, apesar de reconhecer que teve uma infância “muito feliz”, recorda as ausências do pai, “sempre preso a uma causa”. Como tal, não tendo o pai disponível aos fins de semana, como a maioria das suas amigas, “que iam passear até Valada, com os pais”, Paula juntava-se a algumas delas e lá ia ela também passear em família e, assim, travar outras amizades.
Eu Quero
Ser feliz! Que as minhas filhas sejam felizes. Toda a gente quer saúde e paz, mas no fundo todas querem a felicidade.
Desde pequena que gosta de comunicar, de falar com pessoas, sejam elas mais novas ou mais velhas e, até, mais difíceis de conviver. “Tenho sempre alguma tendência para as pessoas mais difíceis, de pequenina”, conta Paula, lembrando-se das longas conversas que mantinha, em miúda, com o então comandante Ferreira dos Bombeiros do Cartaxo, no café Monumental, ou das anedotas que contava ao professor Herculano, em troca das histórias que este lhe contava, durante as férias. Duas pessoas que poucos se atreviam a interpelar, mas que, confessa, “eram os meus maiores amigos”.
Esta vontade de conhecer pessoas nunca a fez ficar presa a grupos, antes pelo contrário. Quando as amigas foram todas para a ginástica rítmica no Ateneu Artístico Cartaxense, Paula quis antes ir para a banda da Sociedade Filarmónica Cartaxense, onde aprendeu música ao mesmo tempo que aprendia a ler na escola.
Eu Não Sou
Vaidosa, egoísta, nem sou invejosa, nem ciumenta, gosto que as pessoas que estão ao meu lado estejam bem.
Tocava saxofone soprano e, também ali, fez muitos amigos e conheceu muita gente. Não foi à toa que tomou esta decisão porque ainda hoje a música faz parte da sua vida. Em casa gosta de tocar flauta, inclusive para outras pessoas, e também tem um órgão onde toca alguma coisa. E enche-se de orgulho quando fala dos dotes vocais das filhas: “cantam a duas vozes e eu fico completamente deliciada!”
Igualmente, na Igreja conheceu muita gente e fez outras amizades, mas também aqui se desenvolveu o seu espírito “contra a maré”
Atualmente, diz-se uma pessoa de fé, cristã, mas não católica, porque se desiludiu com a instituição Igreja. Continua a ir à missa. “Quando me apetece ir e quando tenho que ir”. Foi o caso das celebrações dos 25 anos de casada, que começaram com a missa e com a renovação dos votos na Igreja do Cartaxo, onde também estiveram “padres amigos”. “Mas depois a parte da instituição, das regras, começa-me já a dar algumas comichões. Acho que é da idade”, justifica, ainda que em mais nova as regras da Igreja a levassem a protestar e a manter a sua natural postura de “pensar pela minha cabeça”.
Eu Não Gosto
Não gosto do ciúme, nem da maldade; da maledicência, de mexericos, de tudo o que seja podre. Não gosto de mentir, nem de prometer e não cumprir.
A sua rebeldia também se manifestava na escola: chegou a construir um palanque com grades de cerveja para fazer um discurso a dizer a uma professora que ela era a pior professora do mundo. “Era uma pessoa má e eu tenho muita dificuldade em lidar com pessoas más”. Anos antes, no ciclo preparatório, em aulas aborrecidas, chegava a sair pela janela para ir tomar o pequeno-almoço e voltar depois à sala. Mas sempre foi boa aluna. Tinha as suas preferências nas áreas de ciência, mas também gostava de humanidades.
Em pequena sonhava com a psicologia, mas foi em farmácia comunitária que se formou, em Lisboa, já depois de ter concluído um curso em engenharia têxtil e do papel, na Covilhã, duas cidades onde também foi muito feliz e fez “amigos fantásticos”. “A vida empurrou-me para aí”, conta, admitindo também ser uma mulher de mudanças – “se nós queremos, temos de trabalhar para isso, mas todos podemos mudar”. Já casada, e com o marido a trabalhar em Lisboa, decidiu-se a tirar outro curso que a mantivesse mais próxima da família, que havia de crescer no primeiro ano deste segundo curso, quando ficou grávida de gémeas.
Eu Não Quero
Ser uma pessoa má, invejosa. Não quero ser rancorosa.
Enquanto farmacêutica, Paula desenvolve aptidões que lhe são naturais: “gosto de pessoas, de falar com pessoas. A parte humana da farmácia acaba por ajustar aquilo que eu queria ser quando era pequenina – psicóloga – e também saber alguns pormenores técnicos”. Depois de anos na Farmácia Abílio Guerra, no Cartaxo, Paula estendeu o negócio a Lisboa, onde passa mais tempo atualmente, mas sempre com vontade de voltar ao Cartaxo, onde continua a viver, porque “eu aqui tenho uma história”. Para além disso, sente que aqui as pessoas são mais apoiadas que em Lisboa, onde tem muita dificuldade em referenciar situações de pessoas que precisam de apoio. “Tenho orgulho que o Cartaxo tenha dos melhores apoios domiciliários, em termos de cuidados continuados e paliativos”, por exemplo, serviço que não encontra na capital, com a mesma disponibilidade e abertura que encontra aqui.
E, apesar de andar, diariamente, cá e lá, há dois anos decidiu participar ativamente na política local, sendo eleita, como independente, pelo PSD, para a Assembleia de Freguesia Cartaxo e Vale da Pinta. “Aceitei mais por fazer equipa com o Pedro [Mesquita Lopes]”, confessando já ter sido convidada antes, até por outros partidos, “se calhar porque procuravam uma pessoa desalinhada”. Considera-se de direita, mas também ali, onde a maioria é socialista, dá-se bem com toda a gente, encontrando até alguns amigos.
“Quanto mais nos relacionamos com pessoas, mais crescemos como pessoas”, acredita. Ajudar o próximo é uma das suas facetas, tal como não julgar ninguém. O que a move é o amor, a amizade, a alegria e, também, o respeito pelos outros, que tantas vezes a escolhem como confidente – “sou boa a guardar segredos”. No fundo, e concluindo, “gosto de ser verdadeira comigo própria e de tratar os outros como eu gostava que me tratassem a mim.”
O perfil de Paula Almeida e Silva, foi publicado na edição impressa da revista DADA, nº84, de fevereiro de 2020