Perfil – Paulo Neves

57 anos, empresário, casado com a Maria José, pai do Rui e do Francisco. Vive no Cartaxo.

Paulo Neves é um dos empresários de sucesso do concelho do Cartaxo, dirigindo a Agrosport há 30 anos. Conseguiu inovar na fabricação de cofragens em alumínio, conquistou mercados internacionais, sem esquecer o nacional no qual a aposta tem vindo a crescer, recebe distinções, entre as quais do IAPMEI que, pelo terceiro ano consecutivo, nomeou a Agrosport como PME Líder. “Não ligo muito às distinções. Recebo-as com naturalidade, mas claro que fico satisfeito”, revela o empresário de 57 anos, natural do Cartaxo, criado na rua do Colégio Marcelino Mesquita, onde morava e também onde brincava e jogava com os amigos. Chegada a altura, não quis ir para o colégio, foi antes para Santarém, de onde havia de seguir para Lisboa, para a Escola da Paiã, com uma bolsa de estudo. Daí saiu com o curso de engenheiro técnico agrário com média de 19,2. “Era muito bom aluno. Era dos que gostava mais da paródia e sempre fui o melhor aluno”, conta. “Nas aulas estava com muita atenção, não havia cá brincadeiras, levava aquilo muito a sério”.

Eu sou
Boa pessoa, muito organizado, sou um bom ouvinte, sou um crítico e, por vezes, explosivo. Sou um bom garfo e um cartaxeiro de gema.

Quando em pequeno dizia à mãe, costureira, “eu tenho de ser patrão, um dia!” já lá estava o bichinho que permanece até aos dias de hoje, embora a sua vida profissional tenha seguido o rumo dos estudos na área da agropecuária – “o melhor emprego do mundo”. Aos 27 anos decide pôr em prática o sonho de trabalhar por conta própria, abrindo uma empresa de máquinas agrícolas, com dinheiro emprestado pelo patrão. Depressa o ramo de negócio mudou ao conhecer melhor o mercado de equipamentos de construção civil, lançando no mercado, em 2011, uma marca que “veio revolucionar a forma tradicional de construir estruturas em betão na construção civil”. “Foi sorte”, diz, voltando a repetir a expressão quando fala do investimento que fez em tecnologia para inovar no fabrico de cofragens em alumínio, estava a empresa a operar há quase 20 anos, mas este era um projeto que “andava na cabeça” já há muitos anos. “Correu bem. Tive sorte. Mas tive de trabalhar para a sorte, porque a sorte dá muito trabalho!”

E o trabalho não lhe mete medo, antes pelo contrário: “aos 11 anos já trabalhava nas vindimas”, e garante que não foi obrigado pelo pai, pintor de automóveis na Ford. Ele próprio se foi oferecer, porque queria ter o seu dinheiro. Ainda se lembra do que fez ao seu primeiro ordenado – “foi direitinho para o Fernando Felício para comprar um saco-cama para as férias”. Todos os anos ia trabalhar nas férias para poder ir para a praia em agosto.

Eu gosto
De uma boa leitura técnica, de estar nas redes sociais. Gosto das novas tecnologias. E gosto de um bom vinho

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O sucesso no mundo empresarial deve-o a si próprio, definindo-se como um empresário “autodidata”. Gosta de saber, tem vontade de aprender e faz por isso. Faz por estar bem informado, não só sobre a sua empresa, mas sobre a conjuntura económica e financeira, subscrevendo canais de informação nestas áreas para estar sempre em cima do acontecimento e conseguir tirar partido das melhores estratégias que envolvem o negócio. Gosta de ler livros técnicos nas áreas já referidas, mas também, por exemplo, de soldadura de alumínios, e procura ajuda técnica com ases da área. Lá está, para além de querer aperfeiçoar o seu lado de gestor, orgulhando-se do à-vontade que tem em discutir com um “administrador de topo de qualquer empresa”, também se interessa por saber mais sobre a área de produção e fabrico, sendo habitual encontrá-lo ao lado dos empregados, com fato de trabalho, na fábrica.

Passados 30 anos ainda gosta de ir trabalhar, de ser o primeiro a chegar e de ver os dois filhos seguirem-lhe o caminho, com o mesmo empenho e dedicação. Foram eles que propuseram oferecer o almoço aos funcionários todas as sextas-feiras no refeitório da empresa, promovendo assim uma maior proximidade entre todos. São todos amigos, garante Paulo Neves que se orgulha, acima de tudo, da amizade entre os filhos que, mesmo trabalhando juntos, mantêm uma relação próxima fora do trabalho. O mesmo acontece entre pai e filhos, ainda que o empresário reconheça que teve “pouco tempo para os ver crescer”.

Eu quero
Que o negócio continuasse como até ao mês passado, saúde para mim e para a minha família.

E se por um lado é bom ter os filhos a seu lado, a prometer a continuidade da empresa com todo o profissionalismo, “é um problema acrescido” caso alguma crise afete o negócio, que assegura ainda os postos de trabalho da sua mulher e da nora. Acredita que a empresa tem condições para crescer mais, mas “falta-me alguma coragem. Os meus filhos logo entenderão o que fazer”, diz, fazendo votos que os filhos continuem juntos na empresa e a levem para a frente.

Às vezes é um bocadinho temperamental no trabalho, reconhece. “Levo o trabalho muito a sério!” Assim como levou a sério os dois mandatos na Câmara Municipal do Cartaxo como vereador independente, eleito pelo PSD. É um homem honesto, sério e frontal, é assim que se define e foi desta forma que foi considerado na política. “Acho que não há ninguém que estivesse no executivo, no tempo em que lá estive, que tenha alguma coisa a apontar ao Paulo Neves”, orgulha-se, lembrando as boas relações que manteve com todos e o sentido de serviço público que o fez ocupar o lugar. A política “foi uma experiência boa, mas eu gosto de criticar quando tenho de criticar e elogiar quando o trabalho é bem feito. E na política, às vezes, é difícil aceitarem-nos assim”.

Eu não sou
Falso, mentiroso, vaidoso, calão.

Chegou a candidatar-se a presidente da Câmara e obteve um bom resultado, mas não ganhou. Ficou triste, “mas foi só naquele dia”, recorda. Depois passou, e a vida continuou e, vistas bem as coisas, se tivesse ganho as eleições “era capaz de me vir complicar a vida”. Gosta de política e mantém-se informado das questões políticas locais, mas não pensa voltar. Elogia o trabalho de Renato Campos, mas diz que, a partir de então, “os interesses políticos e a ambição pessoal foram desmedidos e aconteceu o que aconteceu”.

E a propósito da situação financeira do município diz que “se me saíssem 180 milhões eu emprestava 50 milhões ao município do Cartaxo e conseguia matar dois ou três coelhos numa cajadada só, depois de autorizado pelo Tribunal de Contas: fazia metade da taxa de juro que se está a pagar, conseguia garantir o futuro dos meus filhos e dos meus netos, numa dívida a pagar a 30 anos”. E di-lo “com franqueza”. Uma ideia bem pensada, com as contas feitas, a pensar no bem-estar da família, mas também no Cartaxo – afinal, define-se como um cartaxeiro de gema.

Eu não gosto
De ser enganado, de falsas promessas, de mentiras. Que não me atendam o telefone. Não gosto de estar com pessoas de quem
não gosto.

Por aqui se percebe o seu gosto pelo negócio, pelo investimento e por desafios. Mas também gosta de investir em si, “sem vaidades”, para ter “boas condições de vida e para as proporcionar aos meus também”. Gosta da casa que tem, onde passa os fins de semana também desejados para sossegar, depois de cinco dias intensos de trabalho; e do carro que conduz há 16 anos e que lhe continua a dar “um gozo tremendo”. Não tem paixão por carros. “Preferi investir em tecnologia ali na fábrica”, diz apontando para a janela do gabinete de onde se vê a área de produção.

Quanto ao Sporting, clube do coração, já gostou mais. Continua a gostar de ir ao estádio, mas já não é como antes que ia ver todos os jogos ao estádio de Alvalade – “Já não tenho disposição”. Desligou-se mais “desde que o Bruno de Carvalho veio fazer campanha ao Cartaxo”. Neste momento nem está na direção do núcleo sportinguista do Cartaxo. Continua a frequentar o espaço para ver jogos com os amigos, “mas já não tenho cargo nenhum. Aquilo precisa de sangue novo. Eu acredito na geração que aí está. Eu acredito nos jovens”, mas se precisarem dele “está pronto a ajudar”.

Eu não quero
Que os meus filhos se chateiem por causa da empresa. Não quero que eles se chateiem por nada deste mundo, é a minha principal prioridade.

Define-se como “boa pessoa” e “sério”. Mas também diz ser “generoso”. Gosta de “uma boa conversa e de ouvir todos, ainda que daí venham críticas”. “Gosto de estar com os amigos, de uma boa almoçarada e jantarada”. E tem amigos de todas as gerações. “Gosto de estar com malta mais nova do que eu. Acho que sou um bom conversador para os jovens, gosto de os ouvir e motivar”. Os jovens fazem-no sentir-se melhor, talvez porque se sente um jovem com muito ainda por fazer na vida. “Eu digo que sou velho, mas não tenho noção sequer de quando me vou reformar. Sempre que os meus filhos me queiram aqui eu não me vou reformar, se ultrapassar esta crise…”


O perfil de Paulo Neves foi publicado na Revista DADA nº85, edição impressa de abril de 2020

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