Perfil – Vitor Neno

Vítor Neno celebra 25 anos de entrega à máquina fotográfica

Eu Sou
Frontal (não tanto como me apetece), teimoso, mas ouço e reconsidero se for o caso, amigo, simpatico, extremamente empenhado e dedicado na minha profissão.

Vitor Neno

Esta é uma cara bem conhecida de todos no nosso concelho. Distingue-se, à primeira vista, pelo seu tamanho, mas a simpatia, a boa disposição, a simplicidade e o profissionalismo que lhe reconhecemos há anos em tudo o que é eventos nas freguesias, e não só, fazem dele uma pessoa muito popular na terra e arredores. E é também assim um pouco por todo o País, que conhece bem e por onde vai travando conhecimentos e criando amizades, muito à conta da fotografia e de todo o convívio que se gera em torno dela. Fotógrafo profissional há 23 anos, os mesmos em que deixou de ter férias e fins de semana, Vítor Neno celebra agora 25 anos de entrega à máquina fotográfica, aparelho que lhe mudou a vida e que o leva a afirmar que “eu faço parte daquela pequena percentagem de pessoas no mundo que faz aquilo que gosta”.

Vítor Neno vive na Ereira, mas cresceu em Vale da Pedra, para onde foi viver com ano e meio de vida, vindo de Casais de Baixo – Azambuja, com os pais, ambos trabalhadores da Campil. É “orgulhosamente ribatejano”.

Eu Gosto
Muito da minha profissão, gosto quando me colocam um desafio, gosto do meu gin tónico com os amigos, de bebericar um vinho
branco com a minha mulher. Gosto da honestidade, do meu jazz e blues, de ter uma boa conversa com a minha amiga Belinha, de falar de fotografia, de futebol e artes marciais.

“Dos três aos sete anos vivi sempre no meio do campo, e gostava muito de estar com os meus avós”, conta o fotógrafo, recordando os tempos felizes da infância e juventude, alguns deles passados a trabalhar, durante as férias grandes. Andou na apanha de tomate, um trabalho duro, em campos de grande extensão. Dois anos depois, passou para a análise e controlo de qualidade do concentrado de tomate e até experimentou o trabalho de serventia nas obras.

Eu Quero
Envelhecer com calma, um dia, ver os netos a crescer e sentir, no fim do percurso, que valeu a pena passar por aqui, que todos tenham, no mínimo, o dobro de tudo o que me desejarem.
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“Sempre fui um puto altamente responsável e atinado”, afirma agora aos 48 anos, reconhecendo que estas primeiras experiências de trabalho foram muito importantes e até determinantes para a pessoa que é hoje. Tal como os 15 anos em que foi inspetor de qualidade de peças de avião nas oficinas da OGMA, em Alverca, depois de terminar o 12º ano.

Foi aqui que descobriu a fotografia, graças a um colega que lhe emprestou um manual de iniciação à fotografia (que devorou nas viagens de comboio para o trabalho), depois de comprar uma máquina para fotografar o filho que, entretanto, nascera. A vontade de explorar o mundo da fotografia levou Vítor Neno a comprar, com muito esforço, a sua primeira máquina de 35 milímetros, totalmente manual. Dominar a máquina foi, nos primeiros tempos, um grande desafio, mas veio a revelar-se, depois, uma grande paixão. “Eu agarro na máquina e entro num mundo à parte”, confessa. E do hobbie, que mantinha ao mesmo tempo que trabalhava nas oficinas – onde começava a sentir-se sufocado, a fotografia passou a ser a sua profissão.

 

Eu Não Sou
Hipócrita, racista, invejoso, mal educado e ingrato.

Vitor Neno

Na verdade, Vítor Neno poderia ter seguido a carreira de futebolista. Entre outros clubes, jogou no Sport Lisboa e Cartaxo, onde foi duas vezes campeão distrital (em Iniciados e Juniores) e chegou a ir à seleção distrital. “Gostava muito daquilo e vivia um bocado em função da bola”, confessa o fotógrafo, que deixou o futebol aos 24 anos.

 

Eu Não Gosto
De falsos moralismos e meias verdades, extremismos de qualquer espécie, odeio injustiças, pessoas mal educadas, quando me pedem fotos “só para pôr no facebook”, esta é a minha profissão!

 

Eu Não Quero
Acabar a minha carreira sem ganhar o World Press Photo com uma fotografia de paz e amor e de fazer o catálogo da Intimissimi (risos).

Vitor Neno

Outra experiência marcante na sua vida, que o levou a reforçar ainda mais a sua integridade, foi o serviço militar, onde se ofereceu para os Comandos e lá permaneceu 16 meses. Mas a boa compleição física – “fui sempre um puto grande” – também o levou a fazer serviços de segurança em grandes concertos de música, por exemplo. Guarda uma foto que regista um destes momentos, em pose divertida com os Xutos e Pontapés. Desta vez não foi ele o fotografo, como tantas outras vezes em que captou com a sua objetiva pessoas e momentos, publicados em revistas e jornais, como o Jornal de Cá e a Revista DADA, por exemplo, contando com largos milhares de registos que guarda num “arquivo brutalíssimo de fotografias”, que há de aumentar, em muito, pois “a fotografia vai morrer comigo”, conclui.


Texto publicado na edição impressa da revista DADA nº 69 de agosto de 2017

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