Depois de regressados de férias temos pela frente uma rentrée marcada por cinco meses políticos interessantes. Em Outubro iremos para eleições legislativas e daí sairá um novo Governo; em Janeiro iremos para eleições Presidenciais, das quais surgirá um novo Presidente da República.
Não sou adivinho nem vou aqui fazer previsões quase sempre falhadas à Vasco Pulido Valente, nem me vou arvorar em Pacheco Pereira, o social-democrata desencantado, historiador e bibliófilo residente na Marmeleira.
Historicamente veja-se a situação das mulheres. Em 1911 os republicanos concediam-lhes o direito de voto, para pouco depois lho retirar. Durante o Estado Novo só puderam votar em 1931, mas a partir de 1933 foi-lhes negado esse direito. Apenas votavam os chefes de família, com um determinado rendimento, e teriam a suprema dificuldade de, em voto via correio, assinar o seu nome completo por baixo do nome do único candidato apoiado pelo regime. As eleições eram uma farsa – relembre-se a vitória de Humberto
Delgado nas urnas em 1958 e a falsificação dos resultados pelo regime. O parlamento era também uma tragicomédia de bonifrates. Qualquer inglês que se prezasse não deixaria de se indignar se vivesse num País assim.
Vieram as primeiras eleições em democracia, longas filas ocorreram e em massa os portugueses votaram em Abril de 1975. As mulheres,
já não subalternizadas, puderam começar de novo a votar.
A pouco e pouco ao longo de quarenta e um anos, as esperanças e os ideais foram-se perdendo. Hoje em dia a abstenção é altíssima, o que é um perigo para a democracia. Muitos jovens até aos 30 anos, e são os estudos sociológicos que o dizem, não votam, não se interessam pela Res Publica e autodenominam-se apolíticos.
Eu gostava que os portugueses fossem cidadãos de corpo e alma: que fossem votar, que fossem mais exigentes com os políticos e a Polis, que não tivessem medo de dizerem o que pensam e assinar por baixo, que protestassem quando fosse necessário, que aplaudissem quando os governantes o merecem. Muitos votam nos partidos como se fossem clubes de futebol, este é um traço geracional. A forma como se vota, ou não vota, é também geracional. Mais do que ideologias ou a falta delas, é necessário olhar mais para os candidatos
e a sua entourage, do que para os partidos.
Gostava, também, que se fosse para a política com nobreza de serviço, não com o intuito de ascender socialmente ou de entrar numa boa rede de contactos. As nossas terras já foram suficientemente massacradas por arrivistas e ignorantes (Felgueiras, Marco de Canaveses, Leiria, Santarém, Oeiras, Cartaxo, Ilha da Madeira…) que conseguiram com a sua retórica e propaganda fáceis enganar os ingénuos dos portugueses.
*O autor não adopta o acordo ortográfico vigente.