‘Ponteval’ O seu primeiro foral

Opinião de Zelinda Pego

Embora o mês de dezembro já tenha passado, não quero deixar de recordar o primeiro foral de Pontével, dado por D. Sancho I, em dezembro de 1194, na era de Cristo, (1232, na era de César).

Após a conquista de Santarém aos mouros, em 1147, D. Afonso Henriques intentou a conquista de Lisboa, tendo como ajuda, a ordem religiosa e militar de S. João de Jerusalém ou de Malta a quem dou a Igreja de S. João do Alporão, de Santarém, antiga mesquita Árabe, como cabeça de Comenda, anexando-lhe a igreja de “Stª Maria do Ponteval” e suas anexas, Ereira e Lapa, tornando-se uma das mais importantes Comendas de Malta, com o nome de Comenda de Pontével, por ser aqui que os comendadores tinham a sua residência.

Pontével, a então, ainda “Ponteval”, nome que resiste até D. Afonso IV, já tinha a sua igreja, certamente um templo românico, que chegou até aos dias de hoje, a atual igreja matriz, embora com uma reconstrução do séc XVII da responsabilidade do comendador António Botto Pimentel; tinha também uma albergaria, a Albergaria de S. Miguel e Almas, então muito utilizada pelos caminheiros que se deslocavam em romagem para S. Tiago de Compostela que ao seguirem as antigas vias romanas passavam por “Ponteval”; aqui, também existia um hospital, conforme consta nos registos de Leça do Balio, primeira sede da Ordem de Malta em Portugal.

Pontével, localizava-se numa situação geográfica privilegiada, os seus terrenos deviam de ser férteis, a abundância de água permitia o desenvolvimento agrícola e a manutenção das várias azenhas ao longo dos rios que ainda hoje a rodeiam; era então uma terra que tinha condições para se desenvolver e acolher os homens que tinham ajudado D. Afonso Henriques na conquista destas terras; assim D. Sancho I em dezembro de 1194, dá, à ainda “Ponteval “o seu primeiro foral, onde estipula os direitos e deveres desta população. Saliento aqui, um dos deveres que cada um dos habitantes de Pontével tinha: “cada um de vós, de todo o pão, vinho e linho que agricultar, dará a oitava parte à albergaria de Pontével”.

Estas produções chegaram aos dias de hoje embora em quantidades relativas, ou seja, quase diminutas, o trigo e o vinho; quanto ao linho, ainda hoje se encontram alguns pés de linho nas bermas das estradas ou até em terrenos pouco cultivados; mas não esqueceremos que, há 820 anos, já Pontével tinha o seu foral e era uma terra produtora de vinho.

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