Dina Amorim, casada com Fernando Amorim, vice-presidente da Câmara Municipal do Cartaxo, fala-nos das suas paixões
Ruiva, de cabelos aos caracóis e sardenta, Dina Lopes Amorim é uma mulher bem conhecida na freguesia de Pontével, mas também por todo o concelho. Nascida a 31 de março de 1970, integra o Rancho Folclórico e Etnográfico da Casa do Povo de Pontével desde os 11 anos. Trabalha, há mais de dez anos em Valada, na Lavritejo, onde é responsável pela gestão e organização da empresa.
Casada com Fernando Amorim, vice-presidente da Câmara do Cartaxo, desde 1993, é mãe de duas jovens, que lhe trouxeram a capacidade de colocar ‘o outro’ no centro do seu mundo. Bairrista, diz que Pontével “é só a terra mais bonita do concelho do Cartaxo”
Quem é a Dina Lopes Amorim?
Nasci em Pontével, numa familia humilde e trabalhadora, os meus pais trabalhavam no campo. Durante uns anos vivi em Paio Pires, Seixal, numa quinta onde o meu avô paterno era caseiro. Voltámos a Pontével quando o meu pai arranjou trabalho na Ford Lusitana, em Azambuja. Em 1974 nasceu a minha irmã.
Que recordações tem da infância?
Vivemos uma infância com as dificuldades normais para a época. Com 11 anos comecei a trabalhar nas férias, na vidima e colheita de uva de mesa, para ganhar para os meus livros e roupas.
Estudei na Escola Secundária do Cartaxo até concluir o 12º ano. Foram uns anos que me marcaram muito, onde aprendi e cresci com as experiências e vivências próprias da idade.
Ri, chorei, namorei…
Assim que terminei o 12º ano comecei a trabalhar como empregada de escritório, na empresa Prazeres & Rego, Lda, onde aprendi muito e cresci, não só profissionalmente, mas também, como ser humano, foi a minha escola da vida.
É casada com o Fernando Amorim. Como é que se conheceram, ou melhor, como é que foi (e é) a vossa história de amor?
Conhecemo-nos por aí… Nos bailaricos, na escola, fomos falando e aconteceu, namorámos e casámos.
A princípio não foi fácil, o Fernando nunca deixou de estudar, trabalhava durante o dia e estudava à noite.
Como eu estava no Rancho, ‘puxei-o’ para junto de mim, mas como ele não sabia dançar, convenci-o a fazer parte da direção, onde começou a tomar o gosto pelo associativismo. A seguir, a política, com a entrada para o executivo da Junta de Freguesia de Pontével, e nunca mais parou…
Depois, a coisa complicou-se, quase não nos víamos, a trabalhar em Lisboa, a estudar e na Junta… não foi fácil, com duas filhas, mas nunca deixei de o apoiar e incentivar a lutar pelos seus sonhos e objetivos, porque sempre o admirei e sabia que ele era capaz.
E quando é que casaram?
Casámos em 1993 e, em dezembro de 1995, fui mãe pela primeira vez e, em 2001, pela segunda vez. O meu mundo mudou. O meu ‘Eu’ deixou de ser o centro do mundo para colocar primeiro as minhas filhas, depois os outros, também, no centro do meu mundo.
Uma enorme mudança de perspetiva. Os nossos interesses alargam-se, as nossas prioridades tornam-se menos egoístas. É tempo de maior partilha, de nos preocuparmos com o bem-estar de outros que não nós. É tempo de amor multiplicado. De perceber que o amor não se esgota, não se divide, mas multiplica-se. A nossa capacidade de amar estende-se. A nossa vida fica mais cheia, mais completa. Há toda uma vida antes dos filhos e outra, depois dos filhos. Se antes pensávamos que ter filhos significaria fazer sacrifícios, descobrimos que significa antes aumentar a intensidade da vida, do amor e da felicidade.
Tive sempre o apoio dos meus pais, que muito me ajudaram, foram sempre o meu pilar. Com a morte do meu pai, fiquei ‘desasada’, ainda não me conformo.
É fácil ser mulher de um político?
Não é fácil, mas já estou habituada, são muitos anos.
É orgulhosa do trabalho do seu marido?
Claro que sou, ele teve muita coragem em aceitar um desafio tão difícil, quase impossível de resolver, mas arregaçou as mangas que nem um Dom Quixote e luta, todos os dias, contra os seus gigantes e contra todas as adversidades.
E se, em vez de vice, ele fosse presidente?
Não seria diferente, de certeza.
É uma apaixonada pelo fólclore. Como nasceu este amor?
Faço parte do Rancho Folclórico e Etnográfico da Casa do Povo de Pontével desde os meus 11 anos, com alguns interregnos pelo caminho, onde estive afastada por motivos pessoais.
Acompanhei e participei na evolução do Rancho no processo de recolha e alteração que levou à entrada do Rancho para a Federação do Folclore Português.
O Rancho é a minha paixão, adoro dançar, vivo o objetivo do Rancho no sentido de divulgar e representar a minha terra, os seus usos e costumes, em todo o lado onde nos deslocamos. Mesmo na nossa terra, tentamos incutir nos jovens o gosto, o interesse pelo folclore, o que não é tarefa fácil, a começar pelas minhas filhas. Ambas fazem parte do Rancho desde que nasceram, ambas sabem dançar, a mais velha toca acordeão, no Rancho e na tuna da Escola Superior de Gestão de Santarém, a mais nova toca trompete na Sociedade Filarmónica Incrível Pontevelense (SFIP).
A falta de verbas e de valorização, por parte de algumas pessoas e entidades, dificulta muito a sobrevivência do Rancho, assim como de outras associações culturais.
Diria que é bairrista?
Sou muito bairrista, às vezes até demais (segundo os meus amigos). Pontével é só a terra mais bonita do concelho do Cartaxo, é especial, tem pessoas fantásticas e muito capazes nas mais diversas áreas e atividades, tem uma história única e muito interessante, o que faz dela uma terra fantástica, bonita e acolhedora, onde apetece estar, onde ‘a vida acontece’…
Sendo os dois tão ocupados, a família não sofre?
Claro que sofre, mas nada que não se ultrapasse.
Como vê o futuro?
Preocupa-me muito o futuro das minhas filhas, assim como o de todos os jovens do nosso País, porque, dada a conjuntura, não vão ter as oportunidades que a minha geração teve.
O que é que ainda sonha fazer?
Tenho muitos sonhos, mas prefiro viver um dia de cada vez.
Entrevista publicada na revista DADA nº61, edição impressa de abril de 2016. Foto em destaque ©Vitor Neno