Portugal visto de fora

Opinião de João Fróis

Regressado há dias da peregrinação a Santiago de Compostela, pelo caminho português, com saída de Valença, muito há a contar sobre esta riquíssima experiência humana que me conquistou. Há marcas maiores desta singular jornada que milhares de pessoas abraçam todos os dias nos imensos caminhos que levam à cidade secular, famosa desde o séc. IX quando foram descobertas as relíquias do apóstolo de Cristo, Tiago Maior, e de dois dos seus discípulos. O bispo Teodomiro comprovou a descoberta que o rei Afonso II das Astúrias usou como símbolo maior da cristandade, na sua luta contra os mouros. San Tiago tornava-se assim o “mata-mouros”, o padroeiro maior da causa cristã numa época em que Roma decaíra às mãos dos bárbaros e Jerusalém estava sob comando muçulmano. A importância de Santiago cresceu ao longo dos séculos, tornando-se um destino de peregrinação à escala europeia. Esta notoriedade levou à entrada na lista de património mundial da Unesco em 1985, tendo sido igualmente atribuída aos caminhos de Santiago em 1993, depois de já terem sido reconhecidos como o primeiro itinerário cultural da Europa, pelo Conselho europeu, em 1987.

O seu peso histórico e importância religiosa e espiritual levam a Compostela, designação ligada ao local onde jaz o apóstolo, devotos de todo o mundo, como pude comprovar nesta jornada de quatro dias por terras galegas. Destaco as origens dos peregrinos com quem tive contacto direto e dos quais retirei uma visão apaixonada por Portugal, uma vez que quem faz o caminho português inicia o seu “Camiño” em terras lusas, maioritariamente Lisboa e Porto, seja a pé ou de bicicleta. Norte-americanos, australianos, galeses, italianos, belgas, brasileiros, polacos e até libaneses, entre outros, falaram da sua admiração e paixão pelo nosso país com um sorriso no rosto. E a síntese mostra o que somos para quem nos vê de fora. Tranquilos, acolhedores, simpáticos e ordeiros, definem-nos numa visão simplista mas comum a todos. Para lá da boa comida, vinhos e café, pastéis de nata e património rico, são as qualidades humanas deste povo que mais cativam que nos visita. Brasileiros aliviados pela segurança que aqui é norma, contrastando com o pânico de quem teme até sair à rua, americanos extasiados com a comunicação e disponibilidade para o outro, em contraste com o individualismo em que vivem, italianos maravilhados com a serenidade deste povo, em contraste com o stress transalpino.

O caminho português parece transportar consigo este espírito prazenteiro e na Galiza, pelo seus trilhos da via romana XIX, que ligava Bracara Augusta a Astorga, vive-se o “Camiño” em comunhão fraternal entre povos. O humanismo impressiona e todos partilham o buen camiño na íntegra. Portugal pode e deve ser, em definitivo, um Bom Caminho!

  • Artigo publicado na edição de junho do Jornal de Cá.
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