Todos temos ecos de frases ouvidas na infância. Verão, férias grandes e por fim o contacto com a areia: “Esta praia é ótima, cheira a iodo!”. Que aroma será esse?
Sendo verdade que a água do mar contém iodo, como explicar que nos Açores e na Madeira a população tenha níveis baixos de iodo? Num estudo recente, 99 por cento das grávidas açorianas tinham níveis insuficientes desse elemento. Sabe-se que o iodo é fundamental para a síntese de hormonas da tiroide e que a sua carência durante a gravidez pode levar a hipotiroidismo no recém-nascido, com risco de atraso psicomotor tremendo. É por isso que está recomendada a suplementação de iodo durante a gravidez e que todos os nossos bebés doseiam as hormonas da tiroide quando nascem (o famoso “teste do pezinho”).
Hoje, não existem deficiências graves de iodo e este raramente causa hipotiroidismo. O peixe e as algas, leguminosas, hortícolas e lacticínios são boas fontes de iodo. O seu excesso também pode fazer mal, pelo que suplementos com sal iodado só com conselho médico!
Os solos mais pobres em iodo são de montanha, submetidos a maior erosão (o que explica a pobreza nos solos das ilhas). Entre nós, a Serra da Estrela e a zona de Oleiros eram conhecidas pelo elevado número de casos de bócio (um aumento de volume no pescoço por maior dimensão da tiroide).
A carência de iodo e o hipotiroidismo durante o desenvolvimento pode levar a baixa estatura, traços faciais grosseiros e dificuldades na aprendizagem. Cretinismo é o termo médico. O nome deriva do adjetivo dado por Napoleão ao atravessar os Alpes na invasão a Itália, quando desesperava por recrutar mancebos capazes entre uma série de aldeões locais pouco garbosos e não muito diligentes. Foram considerados quase sub-humanos, “quase cristãos” e do Christien francês terá derivado o nome cretino.
Por isso antes de pensar em chamar cretino a alguém, mande-o ao médico. Pode ter carência de iodo.