Preparar o amanhã

Opinião de João Pedro Oliveira

Vivemos um período excecional de incerteza. Acredito, contudo, que a diminuição dos impactos negativos destes tempos é proporcional à capacidade de antecipar as mudanças necessárias e as soluções dos problemas.

A atual crise sanitária apresenta como onda de choque uma crise global económico-financeira que se começa a fazer sentir. É bom recordar que Portugal faz parte do grupo de risco de países no que a esta maleita diz respeito.

Esta crise será, contudo, diferente da anterior. Na UE, e em particular na zona euro, ninguém se salvará sozinho. Um forte mecanismo comunitário será essencial para a recuperação do mercado único e da economia dos países que o compõem, seja ele por subvenções ou empréstimos com taxas reduzidas.

Tal não implica, contudo, que Portugal deva aguardar de mão estendida as migalhas que virão dos nossos parceiros europeus até porque, muitos deles atravessarão também imensas dificuldades e, é bom recordar, o espírito de solidariedade europeu é limitado no que toca a ajudas desta índole. Não se esperam “almoços grátis”.

Momentos como estes obrigam-nos a fazer uma retrospeção e a verdade é que Portugal é um país pobre na Europa desenvolvida, incapaz de subsistir apenas através do consumo ou por uma estratégia de mercearia eleitoralista que consista na distribuição de rendimentos a clientelas com o alto patrocinado do Estado. Se já no passado era essencial potenciar medidas de estímulo ao incremento da capacidade de exportações de bens e serviços de valor acrescentado, hoje é crucial. Seja através de linhas de crédito diretas e funcionais (que funcionem a tempo e horas) ou de benefícios fiscais. O apoio a estes sectores é um investimento económico e de bem-estar para os portugueses. Isto se ainda ambicionarmos atingir níveis de riqueza que consolidem padrões de qualidade de vida semelhantes aos dos nossos parceiros europeus.

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É também importante lembrar nesta altura que relativamente à crise de saúde pública nada foi vencido. A população portuguesa está longe dos parâmetros necessários para atingir a imunidade de grupo. Uma vacina testada e segura para massificação ainda se encontra longe do horizonte temporal de curto prazo. É assim bastante provável que novos surtos se sigam e que muitas das medidas atualmente em vigor se mantenham.

É ainda evidente a urgente necessidade de reforçar o funcionamento do Sistema Nacional de Saúde tal que os milhares de portugueses que continuam a precisar de recorrer a este, por outras razões que não o Covid-19, não sejam colocados em segundo plano. Para muitos o eventual atraso poderá ser tarde demais. Preparar esta resposta e adequá-la a novos surtos é ponto assente. Os portugueses não podem perdoar um governo que não o faça.

Finalmente temos que garantir uma sociedade capaz de resistir ao populismo e à demagogia, desconfiando sempre daqueles que só encontram culpados, mas não apresentam alternativas. A quem da desgraça e do desespero faz caminho fértil para proveito próprio. Tanto em Portugal como na Europa.

*Artigo publicado na edição de maio do Jornal de Cá.

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