A problemática da passagem à situação de reforma
Aníbal Felício Ferreira, Gerontólogo, mestrando em cuidados continuados integrados (paliativos)
Muito se tem falado sobre reformas e pensões na atualidade (até porque estamos em época de eleições). Mas será que as pessoas estão preparadas para mudar de situação na sua vida?
Alguns estudos dizem que 50 por cento dos indivíduos que passam à reforma não estão preparados para tal, tendo por conseguinte, alterações comportamentais e de saúde consideráveis, uma vez que o exercício de uma profissão é um elemento estruturante da própria identidade do indivíduo.
A quebra abruta da atividade que foi desempenhada durante cerca de metade da vida adulta vai pôr à prova a capacidade resiliente do indivíduo.
Recordamos aqui um desabafo de uma senhora idosa que tivemos a oportunidade de ouvir num congresso: “trabalhei 40 anos sem nunca me aperceber que um dia ia deixar de ter as mesmas funções… passei em minutos de Sra. Drª T… para menina T… e fiquei sem nada para fazer. Foi um choque para o qual não estava preparada”.
À semelhança deste depoimento, muitos portugueses passam pelo mesmo, o que é grave em termos de saúde física, mas principalmente mental.
É interessante perceber como o Brasil, nosso país irmão, tem algumas profissões que olham para os seus quadros mais antigos com a preocupação de os preparar para a passagem à reforma.
Encontraram uma maneira simples mas que tem obtido resultados interessantes: promovem a redução do horário semanal à medida que o términus do tempo de atividade se aproxima, chegando mesmo, nos últimos meses, a terem apenas dois dias por semana de trabalho.
Funciona quase como um “desmame” (perdoem-me o termo), por forma a que o trabalhador não sofra abruptamente uma mudança radical nas suas atividades diárias.
Ainda pegando no depoimento, também nos parece importante a descaracterização que é feita aos indivíduos quando estes passam a ser reformados pois o trabalho confere estatuto social.
Por tudo isto, aconselhamos a quem já está próximo da reforma, a planear a sua vida, para que na primeira segunda-feira que não tiver de cumprir as rotinas de anos relacionadas com a profissão, tenha uma alternativa para ocupar o tempo livre. E a partir dessa altura, tempo livre é o que mais vai ter na sua vida.