Os festejos das Sortes foram coisa efémera de dois ou três dias. A esmagadora maioria dos mancebos, depois da obrigatoriedade de se apresentarem à inspeção militar sob o jugo da Divisão Territorial, no caso de o resultado ser positivo, seriam, mais tarde, incorporados nas diversas unidades do Exército, a partir das quais tinham grande probabilidade de receberem guia-de-marcha para o dito Ultramar. Se em meados dos anos 50 o destino foi a Índia, no início de 60 – excetuando Timor – a volta era mais curta: quedava-se por África, de onde não emanavam boas notícias. Segundo o jornalista Ferreira da Costa, arauto de Salazar para África, tudo estava bem, mas o povo sabia que não era assim. Não havia contraditório, por isso emanava a voz do dono, vulgo Salazar.
Não tenho a certeza de que tivesse sido aquele o único mote a provocar a apetência da juventude do concelho pelo ramo da Força Aérea, até porque, em termos de perigosidade, havia sempre que fazer a destrinça entre Especialistas, Paraquedistas e Polícia Aérea. Num plano meramente teórico, era natural que os riscos não seriam iguais para todos. Eu nem fui um dos pioneiros, porque quando me voluntariei, em 1964, já outros, com mais uns três ou quatro anos, eram veteranos. Entre fins dos anos 50 e meados de 60, o afluxo da rapaziada do concelho na Aeronáutica era evidente.
Sem grande rigor cronológico, direi que: Vítor Colaço; José Gaia; José Augusto Valério; o Jacinto; José M. Jarego; o Sequeira; Jorge H. Ferreira e Roberto Marques (Especialistas); José Canha e Carlos Cera (Paraquedistas), formaram as primeiras vagas. Mais tarde, entre 1962 e 1964, entraram, respetivamente, António Leal e José Caria Luís, ambos na Polícia Aérea. Mas foi entre os anos de 1965 e 1967 que se registou a maior adesão conjunta no ramo. O magote entrado na Força Aérea, para fazer a recruta na BA2-Ota, foi por demais inusitado. Se não, vejamos:
Acácio; Artur Tavares; Avelar Marques; Carlos Marecos; Carlos Palmeiro; César Salgado; Domingos Jarego; Francisco Patrício; José Oliveira Santos; Ludgero Capeleiro; Sérgio Ferrão e o Veríssimo, faziam parte dos alistados nesse biénio.
Na recruta de outubro de 65, depois de distribuídos pelas diversas secções (pelotões), verifiquei, com agrado, que um deles, o Avelar, ficava a pertencer ao grupo do qual eu fora nomeado monitor. Foi bom. Era um conterrâneo. Mesmo assim, creio que foi bem mais vantajoso para ele do que para mim. Sempre que durante uma prova de crosse – equipados com fardamento, botifarras e uma pesada arma em bandoleira – e ele se afadigava, lá estava o Zé Luís pronto para lhe aliviar a carga, transportando-lhe a arma. E era o Avelar avançado-centro dos juniores do S.L. e Cartaxo, senão… Mas na secção havia mais desportistas, como o Ceitil (Vilafranquense) e o campeão regional de Judo de Luanda, o Henrique Vieira, aos quais ninguém valeu. Ainda hoje, quando me encontro com o Avelar, falamos disso e… rimos, claro. Mas deu comigo, porque sendo eu um fulano que gostava de cumprir a tropa, era, também, um tipo humano e solidário. Mas houve mais. Muito mais.
- Artigo publicado na edição de outubro do Jornal de Cá.