Quantos somos e como somos

Opinião de Renato Campos

A falta de informação ou o menosprezo pelo conhecimento da população do concelho pode levar a situações desagradáveis. Ao que consta, parece ter sido esse o caso do desastroso contrato de concessão do abastecimento de água, efetuado pelo anterior executivo camarário, onde foi estimada uma população a médio prazo para o concelho de 50 mil habitantes. Nada mais errado. Hoje o Cartaxo possui cerca de 24.500 pessoas, dos quais 52% são mulheres, mas daqui a 15 anos vamos ser menos e, sobretudo, mais idosos.

Por isso, o estudo da evolução demográfica é fundamental para o funcionamento de uma sociedade, especialmente para o correto dimensionamento dos equipamentos. Saber quantos somos, como somos e como evoluímos, revela-se essencial em processos de tomada de decisão a nível social, económico e ambiental, fundamentalmente em estratégias de desenvolvimento regional. No município do Cartaxo, tal como na generalidade do país, a situação é preocupante, já que o declínio populacional constitui uma tendência transversal, onde uma baixa natalidade e uma maior longevidade das populações tem vindo a gerar saldos naturais negativos. Como exemplo dessa “delapidação populacional” recorda-se que, se em 2013 em todo o concelho morreram 291 pessoas, apenas nasceram nesse ano 164 crianças.

Socorrendo-nos dos resultados dos últimos Censos populacionais e de um modelo previsional utilizado pelo INE, verificamos que até 2011 a população do concelho foi sempre crescendo, embora ligeiramente, fixando-se então nos 24.462 habitantes, muito porém, devido ás migrações internas e à chegada de imigrantes de leste. De então para cá, face á mudança verificada dessas variáveis, as previsões para 2031, apontam para um decréscimo populacional no concelho, estimando-se para esse ano apenas 23.135 residentes.

Curiosamente, apesar da sua dinâmica populacional própria, na estrutura distrital o Cartaxo mantem os cerca de 5% do total populacional da região, acompanhando portanto as suas oscilações demográficas.

Na análise por freguesia, verifica-se que nos vinte anos entre 1991 e 2011, a população apenas cresceu nas freguesias de Cartaxo, Pontével, Vale da Pedra, Vale da Pinta e Lapa, tendo diminuído nas restantes. Neste sentido, realça-se o caso de Valada (-295) que, pelas suas características orográficas e limitações ambientais, há já alguns anos que perde população.

Neste contexto, o Cartaxo como maior freguesia urbana foi a que atraiu mais residentes, até mais do que o saldo total do concelho e esvaziando, em certa medida, a freguesia mais próxima de Vila Chã de Ourique. Aliás, a tendência de concentração populacional na sede do concelho é um facto que se vem manifestando, pelo menos, desde 1991.

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Por classes etárias, a população do concelho apresenta uma estrutura envelhecida, como prova o facto de 20,8% da mesma ter mais de 65 anos, e a população jovem, até aos 14 anos, não ir além dos 14,7%, inviabilizando a desejável reposição de gerações.

Este envelhecimento populacional foi substancialmente agravado no último decénio entre censos. De facto, de 2001 a 2011, o número de jovens até aos 14 anos cresceu 8,8%, enquanto que o número de idosos com mais de 65 anos aumentou perto de 20%. Por área geográfica, Valada, Ereira e Lapa são as freguesias onde a população se encontra mais envelhecida e a desertificação tem vindo a aumentar.
No entanto, se hoje o envelhecimento populacional é uma realidade, a situação prevista para 2030 é ainda mais complicada sob o ponto de vista geracional. Nesse ano, estima-se que a população concelhia com mais de 65 anos atinja as 7.500 pessoas (nestes 4.300 terão mais de 75 anos!), enquanto que os jovens, com menos de 15 anos, não ultrapassem os 2.600.

Esta perspectiva de acentuado envelhecimento da população do município, levanta, como é evidente, novas questões no planeamento e na definição das políticas de saúde, educação, segurança social, lazer e ocupação de tempos livres, etc., sobretudo na dimensão dos equipamentos educacionais, nas formas de apoio a uma população idosa e, particularmente, na requalificação e modernização da estrutura produtiva do território.

Todas estas variáveis pressupõem novos cenários de desenvolvimento sustentável do concelho, pelo que a prevista revisão do Plano Diretor Municipal, há muito prometida, decerto constituirá uma importante oportunidade de equacionar corretamente o planeamento do município do Cartaxo face à sua nova realidade demográfica.

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