Quem quer festa sua-lhe a testa

É um ano inteiro de trabalho e dedicação e, de acordo com os testemunhos que recolhemos junto de Quarentões e Cinquentões, fazer a festa não é coisa ‘para meninos’

Angariar dinheiro para fazer a festa é um dos principais designíos das comissões que anualmente organizam as festas das localidades. É um ano inteiro de muito trabalho e dedicação e, de acordo com os testemunhos que recolhemos junto de Quarentões e Cinquentões, fazer a festa não é coisa ‘para meninos’, tendo em conta a dimensão que já atingiram, especialmente as festas de Pontével e Vila Chã de Ourique.

Organizar uma festa anual já não é ‘para meninos’ e implica trabalho árduo ao longo de um ano inteiro, sobretudo atendendo à dimensão que algumas destas festas anuais já têm.

No concelho do Cartaxo, as festas maiores realizam-se em Pontével e em Vila Chã de Ourique, respetivamente organizadas pelos Quarentões e pelos Cinquentões. São comissões formadas por naturais e habitantes de cada uma das freguesias que, em cada ano, completam 40, em Pontével, ou 50 anos, em Vila Chã de Ourique.

A organização dos festejos por estas comissões vem de há décadas, e surgiu pela dificuldade em arranjar pessoas ou coletividades com vontade para levar as festas por diante.

Em Pontével, a primeira comissão de Quarentões surgiu em 1958, pela mão do benemérito João da Silva Pimenta que, preocupado com a dificuldade que, ano após ano, era arranjar pessoas interessadas em organizar os festejos anuais, se lembrou que poderiam ser todos os nascidos num determinado ano (neste caso, em 1918) a organizar a festa. A ideia foi aceite e “eu cresci a pensar que quando chegasse a 2003, quando tivesse 40 anos, eu e os meus colegas íamos fazer a festa”, confessa Jorge Pisca, Quarentão em 2003, adiantando que “os meus filhos já sabem que vão fazer a festa. Por vezes, a vida já nos leva a emigrar, a estar noutros lados, mas normalmente vêm sempre fazer a festa”.

A ideia dos Quarentões pegou, ainda que estas comissões fossem, durante muitos anos, constituídas apenas por homens. O alargamento às Quarentonas só viria a acontecer em 1993, “salvo erro, umas sete ou oito, e fizeram a festa tal e qual como os homens, tiveram responsabilidades iguais ao que os homens tiveram nessa organização”, conta José António Sobreira, um dos Quarentões a quem coube organizar a festa em honra de Nossa Senhora do Desterro nesse ano. E foi também em 1993 que foi criada a Associação dos Quarentões de Pontével, “em julho de 93, nós, com as duas comissões anteriores, conseguimos constituir a Associação dos Quarentões de Pontével”.

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Já em Vila Chã de Ourique “os Cinquentões existem desde há 23 anos. Esteve muito tempo parada. Depois ressurgiu, na década de 80, pela mão de alguns voluntários e associações da terra. Entretanto, começou a faltar gente que a quisesse fazer. E surgiu a ideia de, a exemplo de outras festas da nossa região, principalmente, a festa de Pontével, de se fazer cá uma comissão das pessoas que fizessem anos nesse ano. E assim surgiu a ideia de serem os Cinquentões”, explica Vasco Casimiro, juiz da festa em 2016.

Por vezes, e até ao aparecimento dos Cinquentões, as coletividades aproveitavam a oportunidade que se lhes oferecia e tomava a seu cargo a organização das festas. Foi o caso de um grupo de fundadores do Centro Social Ouriquense, em Vila Chã de Ourique, que viu esta como uma oportunidade para a coletividade que tardava em nascer, conta José Mateus, fundador e atual presidente da direção. “O grupo do Centro Social fez a festa em 89 e fizémos, já com os Cinquentões, em 2001”, adiantando que “como nesse ano (89) ninguém pegou na festa, agarrámos nós, para angariar fundos para o Centro Social. Esse dinheiro nunca chegou, dava para alguma coisa”.

Reportagem para ler na edição impressa de setembro do Jornal de Cá, nas bancas do concelho do Cartaxo.

 

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