O envelhecimento faz parte da vida de todos nós, mas mesmo assim, porque não queremos envelhecer? O rosto ganha novas formas, os olhos ficam encovados, o cabelo enfraquece e muda de cor, a voz arrasta-se e as pernas já não têm forças para andar, tudo isto são apenas aspetos fisiológicos porque o que difere é a visão da vida. Já pensou qual é a sua? Falar em geriatria e envelhecimento é um prazer para mim, que lido diariamente com a terceira idade, por isso não poderia deixar de manifestar a minha opinião sobre este tema, o dia internacional do idoso que se celebra a 1 de Outubro.
Com toda a certeza já ouviu o clássico “Velhos são os trapos?” A ideia que o idoso na sua generalidade é somente dependente e improdutivo é um preconceito que no meu ponto de vista tende a superar com o tempo. O que preocupa com o aumento deste sector da população são as respostas para a sua qualidade de vida. Temos de repensar nas suas políticas, envelhecimento, saúde e economia são eixos de orientação emergente para a sociedade portuguesa.
Muitas vezes considero que os idosos assemelham-se às crianças: a diferença está no relógio do tempo que as distancia. No entanto, eles precisam de colo e de zelo. Precisam de reaprender a comer e andar. Choram e fazem birras. As bengalas, as cadeiras de rodas, as próteses dentárias, o comprimido milagroso são apenas acessórios da velhice prolongada.
No decorrer da vida as perdas são inevitáveis: autonomia, reforma profissional, as oportunidades, o desgaste físico, as dores, os momentos de luto, as dificuldades de memória, mas cada um vive a sua velhice de acordo com as suas vivências, tendo a influência dos seus fatores de personalidade, experiências positivas e negativas adquiridas, do contexto social e cultural e da realidade do momento em que está a viver.
Recentemente conheci uma idosa de 101 anos, gineta e toda emproada, ela não sai do seu quarto sem a cama feita, lençóis sempre bem esticados e a colcha bem alinhada. Pergunto-lhe qual é o segredo para chegar a essa fantástica idade, a qual me responde: “Com a graça de Deus, menina, com a graça de Deus.” Para mim é uma lição de vida que esta centenária me transmite, porque parar é morrer e é proibido resignar à velhice, vamos sempre nos mexer e celebrar o dom da vida. Realmente é uma bênção!
Para outro residente na Casa de Repouso, Sr. A., de 80 anos, o dia começa bem cedo. Faz o que mais aprecia: trata do jardim, rega e cuida das hortícolas que semeou, vai ao correio, abre portões e recentemente até lava os carros dos funcionários. Ele não se detém e é o exemplo que a vida não acaba ali. Encontrar projetos de vida num lar de idosos é semear a sua mocidade.
Pergunto à Sra. A., de 89 anos, se esta se sente velha, a qual me responde, sentada na sua poltrona a ler a última revista cor-de-rosa: “ Sinto-me presa a um corpo velho, do pescoço para baixo o meu corpo está gasto mas na mente sou uma jovem. As pernas não me obedecem, se obedecessem andaria a correr. Ser velha é uma prisão, apenas a cabeça está livre”. O envelhecimento aterroriza as mulheres de certo modo, mas a sua beleza está na juventude das suas palavras e atitudes. O seu envelhecimento releva experiência e maturidade.
Eu ainda vou a caminho dos 35 anos, mas encaro o último ciclo da vida como uma questão pessoal: quero envelhecer sempre com novos projetos e novas aprendizagens. Acredito que é possível envelhecer em qualquer idade, nomeadamente quando se deixa de ter planos, sonhos e ambições. Por isso só envelhece quem quer!