Reflexos da crise na estrutura empresarial do concelho

Opinião de Renato Campos

A economia do concelho do Cartaxo, apoiada na pequena empresa e no consumo local, foi fortemente afetada, tal como o país, pela crise recessiva dos últimos anos. A perda do poder de compra por parte dos consumidores, a não concessão de crédito bancário, a falta de investimento reprodutivo, entre outros motivos, fez com que a produção recuasse quase 15 anos, gerasse falências, desemprego, emigração e sobretudo para muitos, a falta de esperança num amanhã melhor!
É certo que a sua estrutura empresarial, assente na pequena ou micro empresa e com poucos empregos qualificados, nunca foi sólida para aguentar problemas ou crises conjunturais. A metalomecânica, os agroalimentares e a indústria auto, que há uns anos atrás eram preponderantes na região deixaram de o ser, não tendo surgido outros sectores industriais para os substituir.

Em 2012, (últimos valores publicados pelo INE) o Cartaxo possuía 2.095 empresas que possibilitavam emprego a 5.354 trabalhadores. Em comparação com 2010, o concelho perdeu quase 300 empresas e 720 postos de trabalho. Por sectores de atividade, o comércio, a construção civil, a indústria e a restauração foram os mais afetados, tendo proliferado pequeníssimas empresas prestadoras de serviços à comunidade com pouca sustentabilidade e empregabilidade. No final desse ano, laboravam no concelho 535 pequenas empresas comerciais que empregavam 1.430 pessoas e 148 unidades industriais responsáveis por 1.125 trabalhadores. As “alimentares” e os “produtos metálicos” constituíam as unidades mais empregadoras.

Quanto à dimensão das empresas do município, 97 por cento laboravam com menos de 10 pessoas e o rácio médio de vendas por unidade não excedia os 208 mil euros/ano, inferior à média da região. No seu conjunto, estas empresas geravam um volume de negócios anual de 435 milhões de euros, sendo 196 milhões provenientes do sector industrial (só as alimentares contribuíam com 131 milhões), 135 milhões provinham do comércio e o produto agrícola não excedia os 26 milhões de euros/ano.

É inegável que o concelho do Cartaxo nunca teve uma estrutura empresarial muito dinâmica, mas conseguiu sempre superar alguns momentos menos bons! Desta vez, porém, a crise tem sido mais profunda, já que envolveu também toda a região e o país. Também nos diz a experiência, que o crescimento económico do Cartaxo não será possível, sem que o mesmo se integre numa estratégia regional que abarque os concelhos limítrofes de Azambuja e Santarém. Tem sido, aliás, nas empresas deste alargado território intermunicipal, que o Cartaxo tem sabido aproveitar as suas complementaridades empresariais e empregar a sua população ativa.

Em tempo de proposição de estratégias e projetos para o próximo programa comunitário, convém ter presente esta interdependência regional da economia do concelho, sobretudo, no aproveitamento das potencialidades e da proximidade ao território da Grande Lisboa, como forma de captar e enraizar novos investimentos estruturantes.
Isuvol
Pode gostar também