Renato e Zé Lopes

No casulo dos amores-perfeitos

Segundo a professora de Historia de Arte da Universidade Nova e antiga directora do Museu do Chiado, Raquel Henriques da Silva, este casal era um modelo quase perfeito de artistas românticos movidos “à século XIX” onde o amor quase platónico se tornou absoluto. Conheceram-se no Conservatório Nacional em Lisboa nos idos de sessenta do século passado. Ele no Curso de Teatro de Encenação, ela no Curso de Arte de Representar e Encenação onde concluiu o Curso de Arte de Dizer.

Foto: Em Coimbra em Julho de 2008 durante a exposição de pintura de Renato e o lançamento do livro de poemas da Zé Lopes “Barras de Código”

Casaram em 1969. Fixados em Pontével donde ela era natural, ele pintor e escultor ela pintora e poeta. Os dois vão construindo a vida a dois num caminho de estética igualitária até ao abstraccionismo, onde a intensidade do amor que dedicavam um ao outro era o suporte espiritual do dia-a-dia estabelecendo contactos, procurando expor e vender em escala restrita com uma austeridade material assumida, compensada muitas vezes com recurso à família. Respondendo a reptos aceitaram participar na vida cultural do Cartaxo e Pontével, com presença na Artével alongando-se até Coimbra onde se tornaram membros do Movimento Artístico de Coimbra e passaram a ser presença regular, e em Lisboa onde eram sócios da Sociedade Nacional de Belas-Artes num total de mais de 80 exposições colectivas incluindo França, Bélgica e Holanda.

A morte levou Renato (José Renato Barreira Dias Ribeiro) aos 62 anos em Fevereiro de 2011. Ficou o olhar triste da Zé Lopes (Maria José da Conceição Vicente Lopes Dias Ribeiro) na procura de envolvências do seu passado na poética dos versos que vai tecendo depois de ter dado à estampa Voo de Poeta (1966), O Anjo Azul (1970), Reciclados (2006), Barras de Código (2009) e o último em parceria com inéditos de Renato, Amores-Perfeitos, em que no silêncio magoado do seu casulo tecido de fios amor/memórias apenas pede: “Dêem-me / Um lugar / Onde eu oiça / O canto / Daqueles que escuto / E não cantam / Mais”.


Rogério Coito escreve de acordo com a antiga ortografia

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