“Renunciei ao cargo de Provedor mas não aos direitos de munícipe”

A figura institucional do Provedor do Munícipe foi uma novidade no nosso concelho. Carlos Galelo desempenhou o cargo de forma “exemplar” e, durante um ano e meio, incomodou bastante, sobretudo quando apresentou à Assembleia Municipal do Cartaxo, em abril, um relatório da sua atividade, onde colocou a nu a grande ‘machadada’ nos interesses do Município que foi o negócio da água no Cartaxo, mas sentiu-se ignorado a ponto de entender que a figura do Provedor era inútil e, por isso, renunciou ao cargo

O Provedor do Munícipe, Carlos Galelo, apresentou a renúncia ao cargo, cerca de um ano e meio depois de ter tomado posse, e depois do seu nome ter sido proposto pelo presidente da Câmara e aprovado pelos vereadores e por larga maioria na Assembleia Municipal.

Esta renúncia foi tornada pública na reunião de Câmara de 7 de outubro, que se realizou em Valada, pelo presidente do Município, que salientou, na ocasião, sem revelar os motivos desta renúncia, “a minha satisfação pelo cumprimento do papel de Provedor até esta data. Reiterei ao senhor Provedor do Munícipe o meu desejo para ele continuar. É a primeira vez que o nosso Município tem um Provedor, acho que era impossível termos alguém com melhor perfil para este arranque, alguém que se entregou bastante a esta missão, com um papel bastante importante para além da ligação com os munícipes, ainda que poucos, porventura por desconhecimento da figura do Provedor, fazendo este elo de ligação com a Câmara Municipal e com o presidente da Assembleia Municipal, mas com particular destaque em relação ao papel e à missão que o Provedor abraçou naquilo que teve a ver com o processo Cartágua”.

Logo no dia seguinte a este anúncio o Jornal de Cá tentou apurar as razões apontadas por Carlos Galelo para esta tomada de decisão. Uma missão que se revelou muito mais complicada do que poderia parecer. Primeiro, o presidente do Município, contactado pelo Jornal de Cá, disse considerar que deveria ser o próprio a revelar as suas razões; depois, Carlos Galelo ‘empurrou’ essas declarações para Pedro Ribeiro que, contactado mais uma vez, prometeu entrar em contacto com Carlos Galelo para concertar posições. Um contacto que, garante Carlos Galelo, nunca aconteceu. “Nunca me contactou, tal como nunca me contactava. Faz de conta que só eu é que namorava…”, disse, com graça, durante a entrevista ao Jornal de Cá.
Pelo meio, apercebemo-nos de um certo ‘secretismo’ em redor dos motivos desta renúncia. Ninguém quer, para já, avançar as razões evocadas por Carlos Galelo – nem o próprio –, remetendo-as para uma Assembleia Municipal extraordinária que deverá ser convocada para discutir este assunto.

Sendo a Assembleia Municipal o órgão a que o Provedor responde, o Jornal de Cá tentou, junto do presidente da mesma, Augusto Parreira, deslindar este ‘mistério’, mas Augusto Parreira também não quer, para já, pronunciar-se sobre o caso. E apesar de Carlos Galelo ter referido por diversas vezes, ao longo da entrevista, que os elementos da Assembleia Municipal que com ele estiveram reunidos a 17 de outubro, e aos quais apresentou as suas razões, todos aqueles com quem falámos (Francisco Colaço, BE, José Augusto de Jesus, PSD, e Hugo Vieira, PS) se escusaram a fazê-lo, considerando que deve ser Carlos Galelo a apresentar os motivos para a renúncia.

Não obstante, todos reconheceram que a figura do Provedor do Munícipe fica de certa forma comprometida com esta renúncia. Francisco Colaço considera que “é uma perda grande para a cidadania no Cartaxo” e José Augusto de Jesus entende que “vai ser muito difícil arranjar alguém com este tipo de distanciamento”, a que Hugo Vieira acrescentou ainda “a isenção e a capacidade de trabalho que ele demonstrou”, apesar de relembrar ter tido algumas dúvidas quanto à criação da figura do Provedor do Munícipe, nunca em relação à escolha de Carlos Galelo para o cargo.

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Ainda assim, são conhecidas e públicas algumas das críticas que o até há pouco Provedor vinha fazendo, nomeadamente através do relatório que produziu e apresentou à Assembleia Municipal, de balanço de um ano de trabalho. A demora na entrega de documentação pela Câmara Municipal ou a falta de resposta do presidente da Câmara a alguns e-mails foram aqui apontados como problemas que, ao que parece, persistem. Por isso, Carlos Galelo chegou a reconhecer, em conversa com o Jornal de Cá, que não tinha “caminho para prosseguir”.

Apesar da disponibilidade para conceder esta entrevista ao Jornal de Cá, Carlos Galelo não foi nada esclarecedor. Sempre cauteloso e evasivo, as razões para a sua renúncia continuam um mistério, e terá de ser o leitor e retirar as suas ilações. A este propósito, apenas adianta que “as razões eram de caráter institucional, havia, digamos motivos reiterados, que foram engrossando sucessivamente e, face ao modo como eu via as questões, não poderia continuar a situação”. É por isto que garante ter ficado surpreendido pela insistência, dos líderes de bancada da Assembleia Municipal com quem reuniu, para que continuasse, “todos com muitos elogios, e a pedirem-me para que eu reconsiderasse”. Carlos Galelo, garante que o problema não é pessoal, acrescentando que “não houve, da parte do presidente, a colaboração que a mim me parece minimamente indispensável para o exercício das funções de um Provedor”, acredita, até, que “posso ser mais útil fora da Câmara, agora que tenho mais liberdade”.

No entanto, uma certeza ressalta das suas palavras: o processo Cartágua – que classificou de ruinoso para os interesses do Município no seu relatório – continua, e continuará, a ser o seu ‘cavalo de batalha’.


Uma entrevista para ler na edição de novembro do Jornal de Cá, nas bancas do concelho do Cartaxo.

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